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Diamond Films/Divulgação |
Nenhum gênero depende tanto da força do extracampo (aquilo que está fora da visão do espectador) quanto o terror, já que a imaginação pode ser bem mais poderosa do que qualquer forma conjugada na tela. Quanto menos a plateia sabe onde está a ameaça, mais assustadora ela é. No caso de Presença, em cartaz a partir de amanhã no Recife, esse drama se mantém, mas com os papéis invertidos.
O enredo é básico: em crise após uma perda brutal, uma família se muda para uma imensa casa. Em pouco tempo, a filha caçula, Chloe (vivida por Callina Liang), passa a se sentir constantemente vigiada. Conforme seu desconforto cresce, todos, incluindo a cética mãe, Rebekah (Lucy Liu, de As Panteras e Kill Bill – Volume 1), começam a ser afetados pela presença misteriosa.
A sacada desse novo trabalho do prolífico Steven Soderbergh — vencedor mais jovem da Palma de Ouro na história, com Sexo, Mentiras e Videotape (de 1989), do Oscar de Direção em 2001, por Traffic, e que lançou no mês passado o enxuto thriller de espionagem Código Preto, estrelado por Cate Blanchett e Michael Fassbender — não é a a premissa, mas o dispositivo de linguagem: toda a fotografia simula o ponto de vista da entidade. O extracampo do terror aqui, portanto, somos nós, espectadores.
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A câmera vagueia pelos quartos em diferentes velocidades e é a partir da sua movimentação, e das interferências gradualmente intensas na rotina da casa, que entendemos do que se trata a assombração. Apesar de inusitada, a proposta de Presença passa longe do abstracionismo; ainda que padeça de algum dinamismo, o filme é estruturalmente bastante tradicional e até expositivo.
O interesse de Soderbergh está menos na subversão narrativa e mais na brincadeira de possibilidades tecnológicas para reforçar a froça de tropos consagrados, coisa que ele fez também em suspenses recentes como Distúrbio, com Claire Foy, gravado em um iPhone 7, e Kimi: Alguém Está Escutando, com Zoë Kravitz, produzido e ambientado no auge da pandemia.
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Aqui a imagem digital de alta definição, as longas tomadas sem cortes e a escolha da lente grande-angular, que deixa tudo sempre em foco, chamam demaisada atenção para a proposta estética do que constroem suspense durante os primeiros minutos, mas vão se tornando cada vez mais práticos dentro do roteiro.
A experiência de observar tudo através de uma “capa de invisibilidade” proporciona a inquietante sensação de onipresença do perigo. E não é só a sensação.