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MÚSICA

Projeto 'Tertúlia em Festa' canta vida e história da Mata Norte

Show é gratuito e ocorre no Teatro Hermilo Borba Filho nesta quinta-feira (27), às 19h

Publicado em: 27/03/2025 08:00 | Atualizado em: 26/03/2025 20:27

 (Foto: Manu Leite)
Foto: Manu Leite
Música e poesia se entrelaçam para sentir o pulso e retratar aspectos da cultura, das relações, da rotina e da história da Mata Norte pernambucana sob o olhar exercitado pelo Projeto Tertúlia, coletivo de músicos, poetas e compositores focados no trabalho minucioso da criação contemporânea.
 
A releitura artística dessa realidade geográfica e sentimental atravessa o álbum Festas e Rituais, disponível nas plataformas de streaming e lançado ao vivo para o público nesta quinta-feira, às 19h, em show no Teatro Hermilo Borba Filho, com abertura de Laís Xavier. Batizada de Dúvida, a apresentação também transita por composições anteriores do grupo nascido e inspirado na região e integrado por Sam Silva, Ezter Liu, Lucas Torres, Valfrido Santiago, João Paulo Rosa e Guilherme de Araújo. A distribuição dos ingressos é na bilheteria, a partir das 18h.

“Vamos apresentar o disco na íntegra, com arranjos especiais para essa performance. A expectativa é que o público sinta essa energia e se conecte com a música de forma intensa. Queremos que seja um espetáculo vivo, pulsante, onde todos possam cantar, dançar e se sentir parte da história que estamos contando”, adianta a cantora, compositora e instrumentista Sam Silva, também integrante da Mostra Reverbo. Festas e Rituais é o segundo trabalho lançado pelo grupo e sucede o EP Projeto Tertúlia, de 2019.

As músicas do álbum e da apresentação evocam elementos típicos da região - seja em termos prosaicos, na referência à cultura da cana-de-açúcar e dos engenhos, na citação de figuras fantásticas das festividades. Mas sempre sob filtro poético, lírico, para ressignificar o trivial e extrair das letras o frescor capaz de ativar uma percepção sensorial impactante sobre recortes da realidade, de hoje e de ontem. A música Malunguinho, por exemplo, alude ao trabalho braçal na órbita das usinas de cana-de-açúcar ao costurar com candura melaço, bagaço, as agruras e as doçuras em torno do plantio, da colheita e do processamento da cultura canavieira.
 (Tertúlia/Divulgação)
Tertúlia/Divulgação
O encontro entre localidade e sentimento reaparece em Esquecimento, com a mata e a rotina usada enquanto suporte para a incursão pela criação poética e os percalços amorosos: “Quantas vezes / esqueci a data / os verdes da mata / e a poesia. / Esqueci da noite / esqueci do dia. / Quantas vezes / esqueci da fome / esqueci do nome”. Em “Dúvida”, questões existenciais emanam de cenas urbanas de trânsito e contaminam perguntas em um texto recitado por Lucas Torres, também integrante da cena Reverbo. “Responder não ofende: viver é perguntar”. 

As incongruências e desencontros do amor envolvem quatro outras composições - Vai Buscar Meu Coração, Cuida, Pingente e Eu vou abrir meu coração” - através de versos repletos de ternura, declarações e analogias rotineiras da paixão. “Via principal” busca nos pontos referenciais da cidade inspiração para passear pela tradição dos malunguinhos, dos caboclos e de vicissitudes entrelaçadas ao passado e ao presente da região, traços com poder de projetar força e contundência a partir de manifestações próprias: “Caboclos vão dançar soltos / tem azougue na sambada / Liberdade é a bandeira”, diz a música. 

A estrutura de confluência entre aspectos urbanos e paisagísticos e a vida regional se derrama pelas 12 músicas do álbum e por outras canções apresentadas, no show, entre declamações de textos e performances. “As músicas falam sobre celebração, pertencimento, resistência e memória. Cada faixa traz um pedaço do que nos atravessa: o caminhar das procissões, o som das marés, os encontros nos terreiros, os rituais de passagem. Também trazemos um olhar para o presente, refletindo sobre como essas tradições dialogam com a vida contemporânea.”, Sam acrescenta. A produção do show no Hermilo Borba Filho é assinada pelo produtor Rodrigo Silva, da produtora Cultura Iminente.

Festas e Rituais foi gravado ao vivo no estúdio Caosnavial, em Goiana, cidade da Mata Norte, em clima de festa e com a participação de amigos e entusiastas do projeto, sob concepção artística e capa de Philippe Wollney. Contou com João Paulo Rosa (percussão e voz), Sam Silva (violão e voz), Lucas Torres (voz e percussão), Guilherme de Araújo (violão) e Valfrido Santiago (voz, violão, bandolim e viola) - integrantes do grupo ao lado de Ezter Liu, poeta recifense. As músicas traduzem trocas de experiências e vivências dos artistas na região. 
 (Foto: Manu Leite)
Foto: Manu Leite
“Buscamos inspiração nos ritmos da Zona da Mata, mas também em sonoridades experimentais e na riqueza das narrativas populares. É um território de muitas camadas, onde o passado e o presente convivem de maneira intensa. Crescemos ouvindo maracatus rurais, cocos de roda, cirandas, e tudo isso impregna o nosso trabalho. Ao mesmo tempo, somos atravessados por desafios sociais e históricos que também aparecem nas nossas músicas. Essa relação com o território nos dá um senso de pertencimento, mas também nos desafia a reinventar as formas de expressar essa identidade.”, resume Sam. O projeto Tertúlia existe desde 2017 como um espaço de colaboração e experimentação traduzido na diversidade de vozes, baseado no princípio da coletividade e ancorado no envolvimento ritualístico da plateia.

O show conta com a parceria da Afeto (Associação de Famílias para o Bem-Estar e Tratamento de Pessoas com Autismo), que, desde 2005, contribui para o tratamento e melhoria da qualidade de vida de pessoas autistas, com foco na a inclusão e na ampliação de diversos públicos aos eventos culturais. A produção vai reservar um espaço na plateia com menor incidência de som e luz para pessoas com sensibilidade visual e auditiva.
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