Leitura dramatizada 'Tem Aranhas no Meu Quarto' aborda o lirismo da loucura no Teatro Hermilo Borba Filho

A leitura dramatizada “Tem Aranhas no Meu Quarto” chega ao Teatro Hermilo Borba Filho, localizado no Cais do Apolo, no Recife, nesta sexta-feira (21) e sábado (22). Com incentivo do Funcultura, o projeto é fruto de um estudo de campo no Hospital Ulysses Pernambucano (HUP) sobre a loucura. A entrada é gratuita.

A peça começou a ser escrita pela atriz e dramaturga Malu Neves há seis anos, quando ainda concluia sua graduação na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e estudava sobre o Teatro da Crueldade de Antonin Artaud, e sobre Stella do Patrocínio, mulher aprisionada em um manicômio com um diagnóstico de esquizofrenia, e postumamente considerada uma poetisa pelo lirismo de seu “falatório”.

O texto, com apenas três cenas na época, acabou engavetado. Foi apenas em 2023 que o projeto ganhou forma.

“Estava conversando com Bruna (Sales, produtora) sobre ter mais projetos artísticos, e ela sugeriu escrever um projeto, fazer uma pesquisa cultural focada em dramaturgia, algo que eu gosto de fazer, e colocar no Funcultura. E eu pensei na minha peça inacabada, e talvez possa acabar agora com propriedade, estudo, pesquisa”, afirmou Malu. A finalização do projeto se tornou uma leitura dramatizada.

O estudo foi realizado com a colaboração de pacientes da ala feminina do Hospital Ulysses Pernambucano durante sete meses, ao lado do coletivo Arte Intervenção, sob orientação da arte/educadora do HUP Maria Cabral.

“Desenvolvi o projeto, estudei muito Nise da Silveira para fundamentação teórica, elaborei um plano de pesquisa cultural que envolvia visitas ao Ulysses. Foi uma pesquisa de campo para escrever com mais propriedade”, explicou Malu.

“Eu levava um um caderninho, sentava com eles no ateliê, na hora de desenhar e pintar, e ficava anotando o que elas estavam falando. Escrevia as conversas, algumas frases. Acho que 80% das frases na peça foram tiradas diretamente da boca delas”, completou.

Com a estreia, a dramaturga espera que a leitura dramatizada ajude a quebrar estigmas sobre a loucura, mostrando o lado sensível e humano dos pacientes, e contando histórias que não costumam ser ouvidas de forma genuína.

“Quero contar histórias que as pessoas não prestam atenção, porque pessoas esquizofrênicas, portadoras de transtornos mentais, elas tem o que falar e carregam muito lirismo, poesia e verdade dentro de si. É só a gente parar para escutar e prestar atenção no que eles estão dizendo. Saiu muita coisa bonita”, disse.

Quando: Sexta-feira (21) e sábado (22), às 19h;

Onde: Teatro Hermilo Borba Filho;

Entrada gratuita;

A sessão do dia 22 contará com intérprete de Libras.

Pesquisa e dramaturgia: Malu Neves;

Orientação de Pesquisa: Maria Cabral;

Produção Geral e Executiva: Bruna Sales;

Direção: Malu Neves;

Elenco: Malu Neves, Camila Bastos e Erique Nascimento;

Iluminação: Bruna Sales;

Design gráfico: Eduardo Gomes;

Fotografia: Barney Henrique;

Intérprete de Libras: Simone Lyra.