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CINEMA

'Oeste Outra Vez', autêntico faroeste à brasileira, revela terra árida dos homens

Filme dirigido por Erico Rassi (de 'Comeback') ironiza a brutalidade e as asperezas do universo masculino em contraste com as paisagens épicas do interior de Goiás

Publicado em: 24/03/2025 06:00 | Atualizado em: 24/03/2025 08:49

 (Longa ganhou o Kikito de Melhor Filme no 52º Festival de Cinema de Gramado (O2 Play/Divulgação))
Longa ganhou o Kikito de Melhor Filme no 52º Festival de Cinema de Gramado (O2 Play/Divulgação)
Em cartaz com o pesonagem Nahum na novela Mania de Você, Ângelo Antônio vem se preparando desde o ano passado para lançar um dos seus mais aclamados trabalhos no cinema — e isso não é pouco, já que o ator mineiro tem participações marcantes desde seu primeiro protagonista na telona, com o drama O Tronco (1998), até os elogiados 2 Filhos de Francisco (2005), de Breno Silveira, e Entre Vales (2011), de Philippe Barcinski. Agora, em Oeste Outra Vez, vencedor do Kikito de Melhor Filme do 52º Festival de Cinema de Gramado e que chega nesta próxima quinta-feira (27) aos cinemas do Recife, ele brilha ao lado de Babu Santana, Rodger Rogério, Daniel Porpino e do lendário Antônio Pitanga.

Neste faroeste simultaneamente clássico e subversivo comandado por Erico Rassi (que também dirigiu Comeback, último trabalho do saudoso Nelson Xavier), Ângelo interpreta Totó, sujeito taciturno que entra em uma rivalidade violenta com Durval (Babu Santana) após ambos serem abandonados pela mesma mulher. O confronto físico, que começa no meio da estrada, dá lugar a uma saga de revanchismo que acaba envolvendo até matadores de aluguel.
 ((O2 Play/Divulgação))
(O2 Play/Divulgação)
Apesar de ambientado no interior de Goiás, Oeste Outra Vez se resolve em um universo muito particular, uma terra de solidão sem grandes especificidades temporais. O filme possui apenas uma personagem feminina, da qual mal é possível enxergar o rosto, que sai de cena sem dizer uma palavra logo nos primeiros minutos. A ausência dela, que deflagra todo o conflito, é um comentário claro sobre a incapacidade de diálogo e autorreflexão dessa terra arrasada dos homens — transparentes para a plateia, opacos entre eles mesmos.

A escolha do faroeste como imaginário visual para contar a história, que poderia soar apenas como fetiche pelo consagrado gênero, tem na prática um tom quase irônico, usando essa paisagem épica e imponente para comentar a infantilidade camuflada pelas poses de honra e bravura das figuras masculinas. A ação acontece de maneira pontual, às vezes surpreendentemente sangrenta e não raramente cômica, mas o foco de Oeste Outra Vez não está nos embates armados e, sim, nos pequenos rituais da convivência entre os personagens que permeiam o sertão, em busca de um propósito que complete suas melancólicas existências.
 ((O2 Play/Divulgação))
(O2 Play/Divulgação)
Em entrevista exclusiva ao Viver, Ângelo Antônio conta que os faroestes fizeram parte da sua formação cinéfila, ainda na infância em Minas Gerais, mas destaca como Oeste transcende o gênero. "Eu comecei a gostar de cinema assistindo filmes com meu pai ainda criança e boa parte das obras que chegavam até a gente eram westerns com Steve McQueen, Charles Bronson e tantos outros", relembra. "Ao mesmo tempo, acho que ele vai além dessa ideia que as pessoas têm de um faroeste, porque ele é um olhar muito atento à dureza dos homens, à falta de conciliação e de poesia e, principalmente, esse vazio que existe no mundo masculino. E é incrível o humor que surge no meio dessa violência toda".

Refletindo sobre os temas evocados pelo roteiro, o ator destaca ainda a sensibilidade de autor de Erico Rassi para revelar a essência dos personagens. "Eu acho que ele tem um pouco dessa alma feminina que a gente tanto precisa e entende muito a importância dos silêncios também. Lendo o roteiro eu percebi que às vezes a gente acha que muitas palavras dizem mais, quando na verdade naquelas curtas palavras conseguimos trazer a alma inteira de um protagonista", enfatiza Ângelo. Nas paisagens vastas e epicamente íntimas de Oeste Outra Vez, nasce um possível novo clássico do cinema brasileiro.
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