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CINEMA

'Mickey 17', retorno de Bong Joon-ho, imprime e descarta Robert Pattinson

Diretor de 'Parasita' adapta livro de ficção científica e faz projeto mais convencional de sua carreira sem perder personalidade

Publicado em: 08/03/2025 08:00 | Atualizado em: 08/03/2025 14:09

 (Robert Pattinson brilha interpretando duas versões de si mesmo na ficção científica (Warner/Divulgação))
Robert Pattinson brilha interpretando duas versões de si mesmo na ficção científica (Warner/Divulgação)
É difícil imaginar o tamanho da pressão sobre alguém que acaba de produzir um dos maiores sucessos da história. O diretor sul-coreano Bong Joon-ho é um desses casos, consagrado por Parasita, divisor de águas do cinema contemporâneo e primeiro vencedor do Oscar de Melhor Filme falado em língua não-inglesa. É natural que seu projeto seguinte tenha criado uma onda de expectativas impossível de ser totalmente cumprida e, em cartaz no Recife após uma série de adiamentos, Mickey 17 já começa a sofrer esse peso — ainda que, de maneira isolada, não decepcione.
 
Baseado no livro Mickey7, de Edward Ashton, a ficção científica gira em torno do personagem-título, que se inscreve para um programa de clonagem em uma missão espacial de colonização de um planeta hostil habitado por criaturas rastejantes. Tratado como cobaia pela companhia que lidera a expedição e colocado nas mais absurdas situações, Mickey assina um contrato para “morrer” quantas vezes for necessário, enquanto suas memórias são armazenadas e seu corpo é reimpresso. 
 ((Warner/Divulgação))
(Warner/Divulgação)
A obra de Bong Joon-ho já era íntima do mercado ocidental muito antes de Parasita. Filmes como Memórias de um Assassino e O Hospedeiro se tornaram marcos da filmografia sul-coreana, que começava a crescer fortemente nos anos 2000, enquanto Expresso do Amanhã e Okja, falados em inglês e com atores hollywoodianos, foram amplamente conhecidos pelas mudanças de tom, pela acidez no senso de humor e pela ousadia narrativa. Mickey 17, portanto, não é um corpo estranho para o cinema de Bong e tampouco para o mainstream norte-americano.
 
Apesar do orçamento estimado em 120 milhões de dólares — valor arriscado para um projeto não suficientemente popular e que se baseia essencialmente no peso dos nomes envolvidos para angariar resultado —, esse filme tem uma encenação até mais contida e econômica do que os outros trabalhos em língua inglesa de Bong. E como o desenrolar da narrativa segue batidas tradicionais que vão de Star Wars a Tropas Estelares, frequentemente o roteiro parece conflitante entre se entregar a uma abordagem mais radical em seus absurdos ou traçar uma dinâmica dramática bastante familiar (o que acaba prevalecendo). 

Robert Pattinson (e seu duplicado) se torna, nesse meio termo, o grande ponto de equilíbrio de Mickey 17. Ator já estabelecido pela sua versatilidade e cuja filmografia recente dialoga desde o blockbuster sério (Batman) até o terror indie autoral (O Farol), ele empresta sua disposição física propensa ao deboche quando o filme precisa desse registro caricato, ao passo que seu olhar penetrante e intensidade silenciosa imprimem constantemente uma atmosfera de profundidade que o roteiro não necessariamente carrega.
 ((Warner/Divulgação))
(Warner/Divulgação)
Naomi Ackie é central na humanização do conceito e faz um par (ou trio) excelente com Pattinson, enquanto Mark Ruffalo e Toni Collette representam o que há de tipicamente exagerado e fanfarrão no trabalho de Bong, não muito diferentes do que Jake Gyllenhaal e Tilda Swinton fizeram no brutal Okja.
 
Os temas dele estão todos lá: as discussões de classe, a sátira política, a urgência da pauta ambiental e os perigos da tecnologia utilizada para fins autoritários e imperialistas. Estão presentes também o humor absurdista e a ocasional crueldade da violência, ainda que, em função das amarras do alto custo de produção, estejam bem mais diluídos e palatáveis do que em seus projetos autorais.
 
Fica a impressão de que Bong abraçou um trabalho mais convencional exatamente para escapar da sombra projetada pelo estouro no Oscar 2020. E é bem prazeroso ver que, até brincando de sci-fi com tiranos e criaturas fofas, ele mantém uma cara própria.
 
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