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MÚSICA

80 anos de Elis: relembre seu último show no Recife

No dia do aniversário de Elis Regina, Diario revive apoteótica apresentação da cantora, em 1979, diante de milhares de pessoas no Teatro do Parque

Publicado em: 17/03/2025 08:01 | Atualizado em: 17/03/2025 12:44

 (Foto: Jeso Carneiro)
Foto: Jeso Carneiro
Em 17 de março de 1945, Elis Regina nasceu para ser a voz do Brasil. Além da potência vocal que arrepiou o país, foi a intensidade com que vivia e se expressava que a transformou em um ícone eterno, mesmo com sua morte prematura em 1982. Pouco mais de dois anos antes dessa fatalidade, Recife recebeu Elis pela última vez durante uma curta temporada do disco Essa Mulher no Teatro do Parque, realizada entre 13 e 17 de dezembro de 1979.

Depois do estrondoso sucesso de Falso Brilhante, que reuniu milhares de pessoas por mais de um ano e consolidou a maturidade de Elis no palco, e da reafirmação de sua presença cênica em Transversal do Tempo, Essa Mulher foi um espetáculo trabalhado nos mínimos detalhes, com um recital formado por músicas gravadas em discos anteriores, além de apresentar algumas inéditas. O show no Recife, com ingressos a 200 cruzeiros, era parte de uma grande excursão pelo país, iniciada em São Paulo e que incluiu algumas cidades argentinas, sempre com casas lotadas.

No entanto, conforme reportou o Diario na época, a acústica do Parque deixava a desejar, “É uma pena as interferências no som, pois a voz de Elis exige uma acústica mais perfeita do que a oferecida”. Apesar dos problemas, os olhares de todos os recifenses estavam voltados para o ícone nacional. “Sem dúvida um dos espetáculos musicais mais importantes de 1979, encerrando com chave de ouro a programação musical de shows deste ano. Deve ser visto, obrigatoriamente”, cravou a reportagem.

Na quarta-feira, dia da estreia, o público rapidamente se acomodou nos assentos antes do início da apresentação, que estava marcada para começar pontualmente às 21h. No palco, Elis exalava a dualidade que a tornava única: uma estrela absoluta, mas com a simplicidade que a aproximava das mais variadas plateias. Logo no começo, arrancou aplausos calorosos com Cai Dentro (Bladen Powell/Paulo César Pinheiro), Eu Hein, Rosa! (João Nogueira/Paulo César Pinheiro) e As Aparências Enganam (Tunai/Sérgio Natureza). 
 
Durante quase duas horas, a Pimentinha deu tudo de si: cantou, se contorceu, crispou os dedos, desfilou pelo palco e se fez ouvir em gestos e palavras. Segundo o Diario, ela parecia mais relaxada do que o habitual, o que trouxe uma atmosfera mais espontânea ao show. Os recifenses, hipnotizados, aplaudiam e cantavam na hora certa, mas quase ousaram acompanhá-la quando os primeiros versos de O Bêbado e a Equilibrista ecoaram no teatro. “A capacidade de silenciar a plateia continua sendo a marca desta cantora”. 

E foi nesse clima de intimidade que, a certa altura da apresentação, a protagonista da noite declarou: “Não existe diferença entre palco e plateia. Sou apenas mais uma, quero que as pessoas percebam que sou apenas mais uma”. O Parque, em êxtase, testemunhou um momento de resistência contra a ditadura militar quando a cantora enfileirou músicas como De Ponta de Areia, Fé Cega, Faca Amolada e Maria, Maria. Elis, com sua figura que dançava entre o lírico e o despojado, deixou o palco ao som de E Fé na Vida, sendo ovacionada pelo público.

Em conversa com a imprensa no Othon Palace Hotel, em Boa Viagem, ela compartilhou mais sobre sua percepção da cidade. “Eu gosto muito do Recife, independentemente do lance da cultura popular, que é um negócio que dá uma reciclada na gente em termos de brasilidade. Ainda tem muita coisa de brasileiro para ser vista por aqui. Cada dia que passa, isso está rareando no sul do país”. Artistas como essa menina, essa mulher, essa diva também estão se tornando cada vez mais raros, até porque Elis só tem uma. E, como na canção que imortalizou, ela continua a mesma, para sempre. 
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