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Elwood (esq) e Turner (dir) se transformam em grandes amigos no abusivo reformatório Nickel (Amazon Prime Video/Divulgação) |
Da lista de concorrentes a Melhor Filme do Oscar 2025, Nickel Boys foi o único que não recebeu um lançamento nos cinemas brasileiros e acaba de chegar diretamente no catálogo do Prime Video.
Além da categoria principal, o longa disputa apenas o prêmio de Roteiro Adaptado, mas, apesar da menor visibilidade comparado aos demais indicados, essa estreia na ficção do diretor RaMell Ross (já idicado pela Academia com seu documentário Hale County This Morning, This Evening, de 2018) é uma das experiências estéticas mais arriscadas da temporada.
Baseado no livro The Nickel Boys (2019), de Colson Whitehead, por sua vez inspirado em um chocante caso verídico, a obra se passa na Flórida da década de 1960, quando o Elwood (Ethan Herisse), criado pela avó Hattie (Aunjanue Ellis-Taylor), pega uma carona que lhe custa caro: o carro era roubado. Considerado cúmplice pela polícia, ele é levado para a Nickel Academy, reformatório segregacionista em que ocorrem práticas abusivas contra os alunos negros. Lá, Elwood conhece Turner (Brandon Wilson) e os dois criam uma conexão transformadora.
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(Amazon Prime Video/Divulgação) |
Tirando o espectador da posição de observador através de um maneirismo que impressiona pela execução técnica, ainda que nem sempre seja exitoso em termos dramáticos, Nickel Boys é inteiramente gravado em primeira pessoa, como se estivéssemos assistindo precisamente ao que os protagonistas veem. De início, o público acompanha apenas o ponto de vista de Elwood, mas a entrada em cena de Turner é tão cheia de afeto e empatia que, instantaneamente, a câmera passa a ver o mundo também pelos seus olhos.
A janela estreita, a baixa profundidade de campo e o balançar estilizado da imagem nem sempre dialogam com a crueza do que está sendo mostrado pela direção, mas as interpretações de Herisse, Wilson e, sobretudo, de Ellis-Taylor (que merecia uma vaga no Oscar de Atriz Coadjuvante) transmitem verdade emocional palpável em cada uma das trocas de olhares com a câmera. Os abraços atravessam o espectador, que vira quase prisioneiro daquelas trajetórias.
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(Amazon Prime Video/Divulgação) |
O grande problema do saldo final é que, na prática, o dispositivo da imagem subjetiva acaba chamando mais atenção para si do que auxiliando emocionalmente a jornada desses personagens; mesmo porque os movimentos da decupagem não são exatamente realistas e em vários momentos e tornam-se distrativos, como na cena em que os personagens estão em lugares distintos e a subjetividade salta de um para o outro, desorientando espacialmente a plateia.
Exercício formal irregular, que não escapa de floreios de edição e tampouco desenvolve os personagens suficientemente bem, Nickel Boys é inequivocamente genuíno em suas intenções. É também, justiça seja feita, um olhar sensível a um sofrimento indescritível que, do ponto de vista da sua carga histórica, consegue um equilíbrio raro entre não mostrar a violência e se esquivar totalmente das sequelas de sua brutalidade.