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Foto: Priscilla Melo/DP Foto |
Leonina de signo e Leoa do Norte por essência, Elba Ramalho canta e dança o frevo com a imponência de quem reina na selva cultural do Recife. A diva paraibana tem sua alma e voz marcadas pela energia que percorre do Marco Zero à Boa Viagem, onde seu repertório, repleto de hinos como Frevo Mulher, Voltei Recife e Banho de Cheiro, aquece seu coração e contagia os foliões. Uma majestade cujo reinado é eterno, Elba será homenageada por sua trajetória quase cinquentenária no Carnaval do Recife 2025.
A conexão da cantora com a capital pernambucana é daquelas que a vida desenhou desde o início. Em 1966, ainda menina, subiu ao palco pela primeira vez com o Coral Falado Manuel Bandeira, onde fazia encenações híbridas da poética nacional e internacional nas aulas de literatura, em Campina Grande. A emoção quando recitou os versos de Evocação do Recife a marcou para sempre. “Eu sei o poema decorado até hoje. Soube naquele instante que a cidade faria parte da minha vida”, lembra Elba em conversa exclusiva com o Viver.
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Foto: Priscilla Melo/DP Foto |
Mas a relação com a Veneza Brasileira vai além do que o destino poderia ter planejado. Seu pai, o agricultor e instrumentista de orquestra João Nunes, nasceu em Carnaíba, no Sertão do estado, e era um apaixonado pelo frevo. Foi dele que a artista herdou o gosto pela música e, mais importante, o fervor pela cidade e pelo ritmo que a consagraria como parte de sua nobreza. “Um dia, ousei sentar na orquestra e tocar frevo. Aprendi a dançar, a fazer o passo da tesoura, e cultivei o amor por Pernambuco e sua cultura através do meu pai”, explica.
Grandes mestres do nosso cancioneiro também ajudaram a lapidar a formação artística de Elba, entre eles Carlos Fernando, que a convidou para integrar o projeto mais ousado de frevo até então. Dentro de um apartamento em Ipanema, fervilhava um dos epicentros criativos da música brasileira. “Asas da América praticamente nasceu na minha casa, porque eu morava com Geraldo Azevedo e Carlos, que só ia para casa dormir. Depois, íamos para a de Alceu Valença, onde estavam Paulo Rafael e Zé Ramalho. Era um movimento intenso”, recorda.
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Foto: Priscilla Melo/DP Foto |
Dessa convivência diária surgiu uma das colaborações mais especiais entre Elba e Carlos Fernando. No segundo volume de Asas da Américas, destaca-se a eletrizante Banho de Cheiro, canção que se tornaria um dos grandes símbolos de sua carreira. “Muito marcante para mim. É um dos frevos mais executados nos carnavais do Brasil. Se tocar num bloco do Rio de Janeiro, a orquestra vai puxar”, crava a cantora.
No que diz respeito à sua vasta trajetória na folia recifense, Elba lembra imediatamente de um momento especial: o encerramento do carnaval de 1987 em que se apresentou sem saber que estava grávida de seu filho, Luã Yvis, fruto de seu relacionamento com o cantor Maurício Mattar. “Quando olhei para as minhas pernas, vi o sangue escorrendo, mas não parei o show. Passei o Carnaval sem saber que estava grávida. Foi uma loucura. Uma apresentação incrível, debaixo de chuva, suor e sangue. Depois, pensei: "Como sou doida” Mas foi lindo”, exalta.
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Foto: Priscilla Melo/DP Foto |
Festejada ao lado de Marron Brasileiro e da Troça Abanadores do Arruda, ela agradece a homenagem com um sorriso tímido, bem diferente da postura enérgica que leva aos palcos. “Sei dar e sei receber. Quando me proporcionam essa homenagem, recebo com felicidade e me esforço para demonstrar que sou merecedora”. E como é, Elba. Agora é só aproveitar a folia e curtir um banho de cheiro.