 | |
Foto: Ruan Pablo/DP Foto |
Com Brasileiro no sobrenome artístico e Pernambuco no DNA, Marron (sim, com 'N', mesmo) é a personificação de uma folia que nunca se esgota. Mesmo antes da largada oficial do Carnaval do Recife 2025, seus clássicos como Arreia a Lenha, Nas Ondas do Desejo e Galera do Brasil já agitavam multidões nas ruas. Ele é uma força rítmica no coração da maior festa do mundo — motivo pelo qual será um dos homenageados deste ano. Hoje, a partir das 19h30, Marron comandará a abertura no palco do Marco Zero, ao lado de diversos convidados, como Dany Myler e Michelle Melo.
O carnaval fez morada em Jefferson de Alencar da forma mais tradicional. Aos 4 anos, nos ombros da tia, deixava-se levar pela euforia de Lágrimas de Folião. O encanto de criança virou destino quando, anos depois, foi escolhido pelo Maestro Fernando Borges (1938-1998) para se apresentar no Geraldão, em 1979. “Depois disso, ele me convidou para integrar a orquestra da companhia, e assim começou toda essa trajetória”, relembra em conversa exclusiva com o Viver.
Fernando Borges foi um mentor importante, mas Marron ainda teve a oportunidade de conviver e aprender com outros ícones. No Centro Profissionalizante de Criatividade Musical do Recife, sob olhar atento do Maestro Geraldo Mennucci (1929-2021), ele lapidou sua compreensão prática. “Tive a oportunidade de ir à casa dele antes de seu falecimento para agradecer pessoalmente. Ele ficou muito emocionado”. Mais um grande mestre em sua caminhada foi o brilhante compositor Carlos Fernando, que o incentivou a dar voz às suas letras. “Ele me falava: quero que você cante meus frevos. Eles são os mais importantes”, recorda.
 | |
Foto: Ruan Pablo/DP Foto |
Entre os clássicos que Marron resgatou está Micróbio do Frevo, de Genival Macedo, originalmente gravado na voz de Jackson do Pandeiro. “É um frevo antológico, e fui o primeiro a regravá-lo mais de 50 anos depois”, destaca. Após sua passagem pelos grupos Alcano e Scorpions, se consagrou em Pernambuco e em todo o Brasil com a banda Versão, emplacando hits como É Tanto Amor e Pra Te Namorar. O artista também deixou sua assinatura como compositor de sucessos atemporais, como A Cor do Pecado, que brilhou na interpretação do rei Reginaldo Rossi.
Com um pé no frevo e outro em ritmos como ciranda, caboclinho e coco de roda, o artista evita se rotular e celebra a cultura popular do estado em toda a sua diversidade. “São 46 carnavais de estrada, mas, antes disso, eu já fazia parte dessa festa. Está no meu DNA: o Galo da Madrugada, o Homem da Meia-Noite, as Virgens de Olinda. Pernambuco não me define por um ritmo só. Eu sou tudo isso”, afirma.
Em sua alquimia musical, o carnaval ganha uma dimensão que foge do escopo mercadológico e se reconecta às suas raízes. “Uma vez cheguei em Boa Viagem, no meio do Carnaval, só tocando axé, e soltei: 'Vou tocar uma ciranda'. Me disseram: 'Você tá louco?'. Não vou esperar o São João pra tocar minha Ciranda. E nesses tempos de agora, vou continuar”, garante.
De espectador nos ombros da tia a homenageado ilustre do Carnaval do Recife 2025, ele celebra uma vida que, como o frevo, nunca perdeu o compasso. "Esta homenagem vai muito além da pessoa, do cidadão, do artista. Ela funciona como um farol para novas gerações de meninos e meninas como eu — que nasceram sem muitas oportunidades. Para os invisíveis. Porque eu fui um invisível. Ninguém via, ou fingia que não via”. Agora veem, dançam… e arreiam a lenha!