'Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa' encanta pela energia genuína de brincadeira

O universo de Mauricio de Sousa está em boas mãos no audiovisual desde os desenhos animados e é satisfatório perceber como esse mesmo cuidado se manteve no primeiro live-action de um dos personagens mais célebres do mundo das HQs. Dirigido por Fernando Fraiha, Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa, já em cartaz no Recife nas redes Cinemark, Cinépolis, Moviemax e UCI Kinoplex, resgata um sentimento de brincadeira autêntica, que deve divertir as crianças pequenas enquanto relembra aos adultos de emoções com as quais há tempos eles não entram em contato.

Na trama, Chico Bento (Isaac Amendoim) tem a tranquilidade da sua vida interrompida pelos planos do Dotô Agripino de construir uma grande estrada pela Vila Abobrinha, passando por cima até mesmo de uma goiabeira que tem a exata idade dele e com a qual possui uma ligação quase mágica. Reunindo seus amigos - Rosinha, Zé Lelé, Tábata, Zé da Roça e Hiro -, Chico entra em uma empreitada para convencer os adultos da vila de impedir a derrubada da árvore.

Com um humor ao mesmo tempo esperto e ingênuo - duas características que têm tudo a ver com Chico Bento -, a direção e o roteiro de Fernando Fraiha (conhecido pelos longas La Vingança e Bem-Vinda, Violeta!) flertam com elementos fantásticos de maneira terna e espirituosa (como em uma bela sequência de animação) e fazem do filme uma narrativa lúdica que nunca diminui os sentimentos das crianças e também não pesa a mão em nada. É um equilíbrio difícil no cinema infantil contemporâneo que Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa consegue e do qual ele deve muito ao carisma que transborda da atuação de Isaac Amendoim, influencer que também viveu a vida toda na roça e estava entre as 3500 crianças testadas para o personagem. 

O ator mirim traz grande verdade à proposta leve e convicta do filme, seja nas suas interações com as demais crianças, todas com ótimo timing, ou nas interações com os adultos. Atores como Débora Falabella, Guga Coêlho, Augusto Madeira e Taís Araújo, em uma participação surpreendente, estão particularmente muito bem devido à sua discrição, como se estivessem brincando junto às crianças sem jamais tomar o show delas. 

"Na sala de roteiro a gente já tentava fazer tudo da forma mais lúdica possível e, no ensaio, fomos passando para as crianças da forma como as cenas foram escritas, mas não raramente aconteciam coisas incríveis que a gente incorporava. Tivemos o privilégio de ensaiar ao longo de nove semanas, então tudo no set foi muito natural porque elas já tinham decorado o texto sem nem notar que estavam decorando”, destacou o diretor em entrevista ao Viver. “Para esse filme, eu senti que era muito importante ter esse tempo maior, porque nos próprios ensaios eu já ia fotografando muita coisa, tentando entender como ficaria melhor na hora das gravações a partir da dinâmica com as crianças”, explicou. 

Fernando contou ainda na entrevista sobre a transformação de Isaac no Chico Bento e os principais aprendizados do ator nesse processo. “Isaac chegou com um tempo cômico muito bom e já muito pronto para o personagem. Durante o processo, o grande aprendizado dele foi sobre o que é um ator, uma cena, um plano e como se construir isso. Ele já fazia os vídeos para redes sociais com muita inteligência e humor, mas não sabia o que era um ator, uma cena e eu tive que, primeiro, mostrar a ele como tudo aquilo que ele gravava, em um formato mais curto, já era atuação. Quer dizer, mesmo sem saber, ele já tinha aquilo dentro dele”, relembrou o cineasta.

“Durante a leitura do roteiro, ele ficou apavorado com a ideia de ter que chorar em uma cena, porque não sabia se conseguiria. Falei para ele que relaxasse porque a cena ficaria boa independente de a lágrima escorrer ou não pelo rosto dele, que o importante era que aquela emoção fosse sentida. Quando ele conseguiu, foi ainda mais especial. Espero que siga com outros trabalhos porque ele é muito talentoso”, concluiu Fernando.