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Imagem viral de Fernanda Torres postada pela em novembro pela Academia impulsionou a torcida brasileira pela atriz (Foto: Sami Drasin) |
Neste domingo ocorre o 82º Globo de Ouro e o Brasil vai estar forte na torcida por Fernanda Torres na categoria de Melhor Atriz – Filme de Drama por Ainda Estou Aqui (que concorre a Filme de Língua Estrangeira). Saia premiada ou não da cerimônia, a atriz tem uma das carreiras mais diversas da cinematografia brasileira para muito além do estrondoso sucesso do novo longa de Walter Salles. Filha mais nova de Fernanda Montenegro com Fernando Torres e irmã do diretor Cláudio Torres, ela estabeleceu seu talento desde cedo no teatro, na televisão e, principalmente, no cinema.
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Adilson Barros e Fernanda Torres em 'A Marvada Carne' (1985) |
No começo da adolescência, nos anos 1970, Fernanda fez participações em peças, séries e novelas, mas foi em 1983 com Inocência, de Walter Lima Jr baseado no livro de Visconde de Taunay, que ela fez sua grande estreia na tela grande no papel da jovem que se apaixona por um médico enquanto está prometida a um fazendeiro rico (Edson Celulari). O longa foi premiado no Festival de Brasília e deflagrou o começo de uma longa filmografia, a qual incluiu, na sequência, a marcante atuação na comédia fantástica A Marvada Carne, de André Klótzel – que lhe rendeu o Kikito de Melhor Atriz no Festival de Gramado em 1985.
O ano de 1986 foi consagrador na carreira dela, primeiro protagonizando Com Licença, Eu Vou à Luta, de Lui Farias, baseado na autobiografia de sucesso da professora e jornalista Eliane Maciel, e depois tornando-se a primeira brasileira a ganhar o prêmio de interpretação feminina no Festival de Cannes por Eu Sei que Vou Te Amar, de Arnaldo Jabor – apesar de não ter conseguido receber o prêmio na ocasião devido às gravações de Selva de Pedra, experiência central na decisão de parar com novelas. No filme, ela contracena com Thales Pan Chacon no papel de um casal separado que decide fazer um longo jogo da verdade sobre o que viveram juntos, começando uma longa e reveladora discussão.
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Atuação em 'Eu Sei que Vou Te Amar' (1986) rendeu prêmio de Interpretação Feminina em Cannes a Fernanda |
Em menos de uma década, a atriz já havia trabalhado com vários cineastas canônicos e um deles foi Ruy Guerra, no filme Kuarup, baseado na obra de Antônio Callado, sobre um missionário (Taumaturgo Ferreira) que abandona o sacerdócio e se torna um indigenista que luta contra a ditadura. A superprodução lançada em 1989 teve várias cenas rodadas entre Recife e Olinda e também concorreu à Palma de Ouro.
Com Walter Rogério em seu longa de estreia como diretor, Fernanda estrelou em 1990 Beijo 2348/72, contracenando com Chiquinho Brandão e Maitê Proença. Em participação redescoberta nas redes sociais, contracenou com Anthony Hopkins (no auge de O Silêncio dos Inocentes), no filme televisivo A Guerra de um Homem, de 1991, com direção do brasileiro Sérgio Toledo e ambientado no regime ditatorial de Alfredo Stroessner em 1976, no Paraguai. A parceria com André Klótzel retomaria em 1993, com Capitalismo Selvagem, no qual Fernanda faz uma jornalista que se apaixona pelo diretor de uma empresa de mineração (José Mayer), relação comprometida pelo retorno da esposa dele (Marisa Orth), dada como morta.
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Parceria com Anthony Hopkins no filme para a televisão 'A Guerra de um Homem' (1991) |
O grande encontro com Walter Salles foi com Terra Estrangeira, de 1995, codirigido por Daniela Thomas, sobre um rapaz (Fernando Alves Pinto) que vai a Lisboa após a morte da mãe e lá conhece uma brasileira envolvida em um esquema de contrabando com seu namorado. O filme foi parte fundamental do período da Retomada do cinema brasileiro e, com a mesma dupla de diretores, ela estrelou, ao lado de Luiz Carlos Vasconcelos, o drama O Primeiro Dia, lançado em 1999 como parte de uma série encomendada pela TV francesa a realizadores com histórias sobre a virada do milênio.
Antes, em 1997, Fernanda protagonizou o thriller político indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro O Que é Isso, Companheiro?, de Bruno Barreto, baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira. Dirigida pelo trio composto por seu irmão Claudio, Arthur Fontes e José Henrique Fonseca, ela fez ainda duas das três narrativas do drama Traição, de 1998, inspirado em crônicas de Nelson Rodrigues. Fernanda Montenegro faz pontas em cada um dos contos, dobradinha de participações com a filha também presente no suspense psicológico Gêmeas (pelo qual ganhou em 1999 o troféu de Melhor Atriz em Brasília) e no internacionalmente reconhecido Casa de Areia, de 2005, ambos de Andrucha Waddington, marido de Fernanda Torres.
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'Traição' marca uma das várias participações de Fernanda Montenegro nos filmes com a filha |
Nos anos 2000, ela fez grandes sucessos de público, como Os Normais: O Filme e Os Normais: A Noite Mais Maluca de Todas, de José Alvarenga Jr, e Saneamento Básico: O Filme, de Jorge Furtado. Em 2007, tem uma emblemática participação no inovador documentário Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, considerado um dos maiores filmes nacionais da história.
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'Jogo de Cena', filme de Eduardo Coutinho que mistura ficção e documentário, é considerado um dos melhores do cinema nacional |
O reencontro com Walter Salles em Ainda Estou Aqui marca um retorno triunfal à tela grande em quase 20 anos, já que, nesse meio tempo, ela se dedicou ao célebre trabalho na televisão e, depois, à escrita, com livros reconhecidos e sucessos de venda. A aclamação por um papel ambientado na década que marcou o começo profissional de Fernanda – e que a conecta com o Brasil atual – não poderia ser mais simbólica para uma carreira construída e eternizada como ícone totalmente cinematográfico.