| |
Foto: Ruan Pablo/DP Foto |
Quase cinco anos após a pandemia de covid-19, as cicatrizes do período permanecem vivas na trajetória de muitos artistas. Tibério Azul, que esteve afastado dos palcos desde então, agora volta para curar as feridas com o abraço da plateia. Amanhã, o cantor pernambucano é atração do Janeiro de Grandes Espetáculos, a partir das 20h, no Teatro Apolo, com o show A Vida Pede Mais Abraço que Razão. Apesar de seus compromissos em outras áreas, ele não ignorou o chamado da sua vocação profissional e, mais importante, do seu propósito de vida.
O isolamento de Tibério se estendeu sobretudo ao seu campo artístico. Deslocado, o cantor não conseguiu encontrar um espaço para se expressar em meio à tensão política e sanitária, muito menos no contexto moldado pela nova dinâmica do mercado musical. “Minha música é muito contemplativa, e, embora eu, como cidadão, seja aguerrido e goste de discutir política, minha arte não se conecta diretamente com isso. Ela fala de outro lugar”, conta em conversa exclusiva com o Viver. Durante esse tempo, ele ajustou sua rotina entre projetos educacionais e o roteiro do próximo filme do premiado cineasta Gabriel Mascaro, que assinou a direção de Veja Só, primeiro clipe do cantor.
Depois do lançamento de dois singles em 2021, Tibério rompe o silêncio, não somente por amor à arte, mas pela vontade de sobreviver. “Entendi que ser artista não é uma escolha; é uma necessidade. O palco, para mim, não é sobre sucesso ou fracasso, mas sobre estar vivo. E é por isso que decidi voltar”. A retomada da carreira desencadeou uma série de oportunidades, como o convite para sua segunda participação no Janeiro de Grandes Espetáculos. “Já tinha tocado antes e adorei a experiência, sou um grande admirador do evento. Tudo aconteceu de forma muito espontânea, como se o caminho já estivesse traçado."
O show é inspirado na faixa homônima presente no disco Líquido, de 2017, cujo título simboliza o momento que Tibério vive profissionalmente. "Reflete muito do que estou vivendo agora. Não é algo para se racionalizar demais, sabe? Acho que essa sempre foi uma mensagem central na minha carreira: abraçar a vida como ela é, com todas as suas características. Esse conceito se conecta diretamente com o que eu quero expressar e realizar neste momento”. Além de abraçar o presente, a apresentação irá celebrar os 20 anos de estrada de Azul, passando pelos seus discos em carreira solo, músicas da cultuada banda Mula Manca & A Fabulosa Figura, além de versões das canções de Chico Buarque, que consagraram Tibério como intérprete no projeto Seu Chico.
Na companhia do amigo Castor Luiz, Tibério experimentou a vida de popstar na Mula Manca. Mas, acima de tudo, foi nessa época que ele encontrou seu verdadeiro caminho na música. “Esse espírito de inovação e experimentação foi o que mais marcou aquele período e ainda tenho um carinho imenso por tudo o que vivemos juntos". Não é à toa que o cantor planeja, para um futuro próximo, resgatar as letras bem-humoradas nos palcos. “Eu guardo um carinho enorme pela Mula Manca, e, inclusive, tenho um projeto de fazer um show em homenagem à banda”, revela.
Para Tibério, o projeto Seu Chico foi ainda mais decisivo para o seu amadurecimento musical. A densidade e a diversidade da obra de Chico Buarque o fizeram repensar sua maneira de compor. “A proximidade com a obra de Chico me modificou profundamente enquanto artista. Eu já tinha um caminho que buscava, mas ele me trouxe muito mais. Como se o livro que eu queria ler tivesse se transformado em dez livros diferentes. A maneira com que me aprofundei na obra dele foi realmente chocante”, relata.
Como um sobrevivente da arte, sua essência criativa está intrinsecamente atrelada à inquietude. A pausa imposta pela pandemia não extinguiu a chama que o inspira, mas a reacendeu, agora em novas formas de criação. "Estou decidido a retomar a música de forma intensa. O show que vou fazer será um grande abraço à minha carreira, e, após o carnaval, já penso em marcar outro. E depois eu quero apontar para um novo caminho artístico.” Dessa forma, a vida se manifesta em Tibério, na arte e em seus admiradores.