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Sharlene Esse soma mais de 50 anos no teatro (Foto: Divulgação) |
Em meados dos anos 1970, em um cenário dominado pela caretice e repressão, o grupo teatral Vivencial Diversiones injetou no teatro pernambucano uma ousada dose de transgressão. Essa postura ia além das esquetes. Na sede do Complexo de Salgadinho, pessoas que viviam à margem da sociedade também recebiam acolhimento. A liberdade que os artistas vivenciavam no palco inspirou muita gente, entre elas Sharlene Esse, que se apresenta nesta sexta-feira (23) no Teatro Apolo, às 19h, no espetáculo Sha da Meia Noite, como parte da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos.
Criada por Fábio Costa e Américo Barreto, integrantes da antológica trupe, a peça narra passagens da atriz no Vivencial. “A história reflete essas experiências e se desenrola em um cenário muito específico. É uma obra que vai prender a atenção do público com seu direcionamento único ", adianta Sharlene, sem dar muitas pistas, em conversa exclusiva com o Viver. No palco, ela — nascida José Antônio Vieira de Brito e que adotou seu nome artístico ainda no começo da carreira, na virada dos anos 1970 para 1980 — contracena com Philipe Mendes e Luke Giles.
De acordo com a atriz, mesmo com o risco de retaliação, o Vivencial era uma forma de se libertar das opressões. “Não que fosse simples, mas no palco podíamos dar voz às nossas lutas. Afinal, os teatros ofereciam uma espécie de proteção maior em comparação à rua, onde, de repente, a cavalaria poderia colocar todo mundo para correr. Ou mesmo em algum parque, onde a polícia surgia e levava as pessoas simplesmente por serem vistas como desocupadas”.
A arte continua sendo a força motriz por trás das décadas de resistência de Sharlene e do Vivencial. “Batalhar pela mesma causa e manter os mesmos ideais de lá atrás não é fácil, é um desafio constante. Ainda assim, me orgulho muito, porque ser reconhecida como dama trans do teatro é algo único, uma marca que poucos podem reivindicar. Esse reconhecimento, digamos assim, traz um conforto especial."
Na sequência do espetáculo, será exibido o curta-metragem Era Uma Vez Diversiones, no qual Sharlene, além de atuar, assina a direção com Henrique Arruda. O filme narra a primeira noite de Sharlene no Vivencial Diversiones, destacando a luta contra a repressão da ditadura. "Como estamos celebrando os 50 anos do Vivencial, houve uma abordagem que resgata a essência do que ele representava de verdade”, afirma. Era Uma Vez Diversiones recebeu o prêmio de Melhor Filme da Mostra Brasil pelo júri popular no festival Cine Verão 2025, realizado em Natal no último final de semana.