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HISTÓRIAS INSPIRADORAS

Fotógrafa autodidata, Uenni conta como desenvolveu o seu próprio olhar

Pernambucana nascida em Santo Amaro se tornou a primeira mulher negra a vencer o Prêmio Mário de Andrade de Fotografias Etnográficas, promovido pelo Iphan

Publicado em: 28/01/2025 06:00

 (Ruan Pablo/DP)
Ruan Pablo/DP
Desenvolvendo a sensibilidade do seu olhar a partir de uma rica vivência cultural, a fotógrafa Wenny Marielle Batista Misael é um talento pernambucano que ganhou nova tração na sua carreira. Nascida e criada na periferia de Santo Amaro, no Recife, ‘Uenni’ - seu nome artístico - alcançou o primeiro lugar no Prêmio Mário de Andrade de Fotografias Etnográficas, promovido pelo Iphan, na categoria Série Fotográfica, com seu projeto Canjerê dos Pretos Velhos na Jurema Sagrada de Pernambuco, tornando-se a primeira mulher negra a conquistar essa posição.
 
A ideia do registro como motor criativo faz parte desde muito cedo da vida de Uenni. Ainda criança, tinha seus aniversários, celebrações e festas de família registrados pela avó Cleonice, que nutria um gosto antigo pela fotografia. Incentivada pelos registros caseiros da família, Uenni passou a fazer o seu próprio acervo com uma câmera amadora que ganhou de presente.
 
Com o passar dos anos e dos avanços digitais, a família se distanciou gradualmente das fotos, o que levou Uenni a perder contato com sua paixão durante algum tempo. Na adolescência, porém, ela notou a ausência que o registro fazia em eventos importantes da sua trajetória, como o seu aniversário de 15 anos, do qual guarda poucas imagens. Foi nessa época que o grande amor pela fotografia renasceu. Através das oficinas da ONG Ruas e Praças e de trocas de conhecimento com o artista multimídia Alexandre Salomão, a jovem começou a incrementar sua arte e buscar novas possibilidades com ela.
 
Relembrando essa época em conversa exclusiva com o Viver, Uenni fala de seu entusiasmo com as oficinas e os obstáculos que enfrentou ao longo dos primeiros passos. “Passei quase dois anos produzindo para o Ruas e Praças. Fui uma das pessoas que se matricularam várias vezes no programa, mesmo já tendo participado. Estava adorando aprender questões técnicas de uso da câmera, mas, no processo, eu também precisava estudar, ganhar dinheiro e ainda não via na fotografia uma forma de sustento, já que não me sentia profissionalizada o suficiente”, conta. “A minha maior motivação sempre foi guardar as memórias da minha família, não necessariamente capitalizar em cima disso, tanto que cheguei a desistir durante um tempo, deixei a oficina e fui fazer alguns bicos”.
 
Em 2018, Uenni conseguiu uma câmera emprestada de um amigo para poder começar a construir seu portfólio - e foi aí que os convites para pequenos trabalhos começaram a aparecer. “Fiz muitos registros nesse período para mostrar várias coisas da cultura da comunidade, inclusive em vídeo, e passei a fazer eventos de cultura popular, como maracatu e cavalo marinho, até que, em 2022, comecei a registrar os ciclos voltados para a Jurema Sagrada e o primeiro foi o Canjerê dos Pretos Velhos, no terreiro Axé Talabi, em Paulista”, relembra a fotógrafa.
 
Ao longo dos dois anos que se seguiram, Uenni captou com minúcia e sensibilidade o ritual, que celebra a sabedoria ancestral dos Pretos Velhos, definido por ela mesma como um encontro entre o sagrado enraizado nas terras pernambucanas. O aprimoramento desse olhar se deu pela própria convivência e observação das cerimônias, que criou na fotógrafa autodidata uma formação humana e respeitosa.
“Foi uma enorme surpresa para mim ter conseguido esse prêmio por algo que eu conquistei a partir da minha própria experiência. Nunca tive condições de fazer curso e, durante muitos anos, não acreditei que conseguiria crescer na profissão, mas fico muito emocionada de ver tanto o meu trabalho representado nacionalmente quanto o terreiro, principalmente a partir de uma ótica que valoriza o sagrado e a nossa ancestralidade”, celebra Uenni.
 
“Sou imensamente grata ao Terreiro Axé Talabi por tudo. E é bastante especial poder honrar esse sonho de fotografia nutrido pela minha avó Cleonice e ver a nossa comunidade ser reconhecida dessa forma”, completa, exaltando mais uma vez como a ancestralidade é parte tanto desse olhar fotográfico construído nos últimos anos quanto na sua inspiração de vida. 
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