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MÚSICA

Streamings abrem portas, mas impõem novos desafios para artistas independentes

Consumo digital de música trouxe vantagens para a cena independente, como a conexão direta com o público, mas também expôs dificuldades, especialmente em relação à remuneração e à elevada concorrência

Publicado em: 17/12/2024 06:00 | Atualizado em: 18/12/2024 14:24

Banda pernambucana Bule  (Foto: Hannah Carvalho)
Banda pernambucana Bule (Foto: Hannah Carvalho)
No auge do consumo digital, a distância entre o público e uma banda desconhecida se reduz a poucos cliques. Esse cenário é muito diferente do passado, quando os artistas independentes, sem o respaldo de uma gravadora de renome, recorriam ao boca a boca, rádios alternativas e festivais locais para alavancar seu nicho de fãs. As dificuldades, no entanto, evoluíram com a tecnologia, sendo agora impulsionadas por uma competição feroz e pela constante necessidade de se alinhar aos algoritmos para garantir visibilidade, reproduções e receita

Segundo o Relatório Global de Música da IFPI, o streaming foi o grande responsável pela expansão do mercado musical em 2023. As assinaturas cresceram 11,2%, alcançando quase metade dos lucros do setor. Além disso, pela primeira vez, o total de usuários ultrapassou 500 milhões de assinantes. “O streaming promove uma descentralização do consumo, permitindo que cada pessoa ouça o que quiser, quando quiser. Esse avanço é particularmente relevante para artistas independentes e em desenvolvimento, pois aumenta suas chances de serem descobertos e valorizados pelo público”, aponta Pedro Kurtz, diretor de Conteúdo e Operações das Américas da Deezer.

Mateus Cabral, um dos fundadores do selo pernambucano Life’s Too Short, observa que a forte concorrência entre os artistas gera um paradoxo em termos de visibilidade. “Para o ouvinte, é excelente, pois tem acesso a uma vasta biblioteca musical de forma fácil. Porém, para o artista, o grande desafio é se destacar em meio a tanta informação. Isso vale tanto para os streams quanto para as redes sociais. A competição é intensa, e é uma tarefa difícil se fazer notar”. O relatório do MusicBusiness Worldwide estima que até 120 mil novas músicas são adicionadas às plataformas todos os dias, reduzindo a chance de autônomos fidelizar um público.

Criada em 2016, a produtora nasceu com a missão de inserir Recife no roteiro nacional de turnês para bandas independentes. Através da Life’s Too Short, artistas de todo o Brasil, como Boogarins (GO), Catavento (RS), Pratagy (PA), BIKE (SP) e Taco de Golfe (SE), passaram pela cidade. “Sinto que a geração formada pelo streaming, se é que posso dizer assim, é menos curiosa no consumo de música. Não é sempre que vão se perguntar 'que banda é essa?', 'vamos ao show, descobrir ao vivo?'. Eles já formam uma impressão com o que veem pela internet”, diz Mateus. 

A banda recifense Bule, formada em 2017, mescla referências oitentistas com a tropicalidade característica do Nordeste. Convidada para a Life’s Too Short, a trajetória do grupo reflete a nova era do mercado fonográfico: todo o seu repertório, incluindo o álbum Cabe Mais Ainda (2018) e o EP Sacanear (2021), está disponível exclusivamente online, sem edições físicas. “Sempre tivemos interesse, claro, porque é super importante ter o material, mas nunca virou prioridade de investimento, já que há tantas outras demandas”, declara o percussionista Daniel Ribeiro.

Oitava maior plataforma de streaming musical do mundo, sendo a quarta no Brasil, a Deezer tem direcionado seus esforços em projetos voltados para artistas independentes. Um exemplo é o Deezer Next, programa que seleciona novos talentos e oferece suporte na plataforma, além de oportunidades em festivais. “Nossos editores dedicam mais tempo ouvindo lançamentos de artistas independentes do que de artistas ligados a grandes gravadoras. Isso ocorre não apenas pela maior quantidade de artistas independentes no mercado, mas também porque buscamos continuamente novos talentos e tendências”, pontua Pedro Kurtz.

Embora reconheça a praticidade dos streamings na distribuição do conteúdo, Pedro Leão, vocalista da Bule, critica a perpetuação da hegemonia das grandes produtoras. “As grandes plataformas têm o total monopólio da indústria e não interessa para elas gastarem fichas sugerindo artistas novos. É quase impossível alguma medida da iniciativa privada oferecer fomento cultural para artistas novos e pequenos que retirem o público das majors para dar visibilidade a outros selos menores”.
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