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Foto: Leo Aversa |
Em 1917, em fuga da perseguição aos judeus em uma Europa devastada, a polonesa Rebeca (Valentina Herszage) chega ao Brasil com seu filho pequeno em busca do marido, sonhando em recomeçar a vida. Ao descobrir que está viúva, a jovem acaba se tornando refém de uma rede de trafico de várias mulheres liderada pelo violento e manipulador Tzvi (Caco Ciocler).
Já em cartaz nos cinemas, As polacas é livremente baseado nas obras ‘El Infierno prometido’, de Elsa Drucaroff, e ‘La Polaca’, de Myrtha Schalom, e é dirigido por João Jardim (Getúlio), com roteiro de George Moura, autor pernambucano responsável por obras de sucesso como O rebu, Amores roubados e Onde nascem os fortes – e que, em abril de 2025, lança a sua série Guerreiros do sol, do Globoplay.
Em entrevista ao Viver, George conta os detalhes da produção de As polacas, a sua relevância e contemporaneidade temática e a sua sintonia de muitos anos com João Jardim que resultou em mais um trabalho juntos.
Como esse projeto chegou às suas mãos e como foi o processo inicial da produção dele para o cinema?
“A história chegou até mim pelas mãos de Guel Arraes, há quase 15 anos. Trabalhávamos juntos na TV Globo e chegamos a pensar na possibilidade de fazer até uma série de quatro episódios, mas depois entendemos que um filme seria o mais adequado. E foi aí que começamos o desenvolvimento do projeto, via Globo Filmes. Com o passar do tempo veio a ideia de convidar a Iafa Britz, que é judia e uma produtora de grande sucesso, com vários filmes do Paulo Gustavo no currículo. Eu, que já tinha trabalhado com João Jardim no Getúlio, também um filme histórico, sugeri o nome dele para dirigir. Aproveitei e convoquei dois roteiristas para trabalhar comigo nesse material, Jaqueline Vargas, que fez Sessão de terapia com Selton Mello, e Flávio Araújo, um colaborador antigo meu. E o roteiro final é meu mesmo.”
Apesar de se passar mais de 100 anos atrás, é uma história que ganha contornos muito atuais. Como esse aspecto contemporâneo foi pensado no roteiro?
“Uma coisa que eu acho surpreendente no roteiro é ele tratar de judeu contra judeu, porque o personagem do Caco Ciocler escraviza a protagonista e outras mulheres sob o pretexto de estar ajudando, por estar a tirando da miséria e salvando da perseguição antissemita. Acho bastante importante para a gente entender o Brasil como um lugar que tem esse outro lado, em que mesmo pessoas em situação de extrema vulnerabilidade ainda são exploradas por oportunistas, e não se trata apenas de povos opostos, como judeus e palestinos, mas de um povo contra ele mesmo. Sou jornalista de formação e já trabalhei no jornalismo na televisão, e uma das matérias que me marcaram mais foi uma que fiz para o Fantástico a respeito de mulheres escravizadas levadas para fora do Brasil. Isso é uma realidade ainda muito presente, então a história nunca perdeu força, pelo contrário: ela é segue tristemente contemporânea. Os seres humanos são sublimes, mas também terríveis.”
Levando em conta a brutalidade do enredo, você acha que o resultado em tela reproduziu o cuidado para com a não exploração dos corpos e da violência?
“É um resultado final muito próximo do roteiro original. Eu e João temos uma parceria de vários anos, não apenas no Getúlio, mas também com o programa Por toda minha vida, entre outros projetos. Então essa nossa parceria nos leva a ver na tela exatamente aquilo que estava pensado. Fui ao set algumas vezes e João tem uma sensibilidade muito grande na condução das tramas. E acho que revela muito desse cuidado dele para com o tema e as atrizes o fato de que não há ninguém nu no filme, por exemplo, mesmo a história se passando em um bordel. É impressionante como a compreensão dele do tema e a sua concepção estética e política são precisas e delicadas, inclusive no trato com os atores e atrizes para lidar com um assunto tão violento.”
O que você pode adiantar do seu novo trabalho, ‘Guerreiros do sol’?
“É uma série longa, de 45 episódios. A história é livremente inspirada no cangaço e se apropria até do título de um livro de Frederico Pernambucano de Mello, 'Guerreiros do sol: Violência e banditismo no Nordeste do Brasil', embora não seja uma adaptação literal. A trama é ficcional e vai acompanhar esses casais do cangaço, entre eles Lampião e Maria Bonita, Corisco e Dadá, entre outros, mas focando em Rosa e Josué em meio a uma guerra que é o conflito de formação do Brasil moderno, no qual, quando o Estado não ocupa, a lei que domina é a do mais forte, quis falar muito sobre isso.”