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Reabertura do Cinema São Luiz foi um dos principais marcos culturais do Recife em 2024. (Foto: Jan Ribeiro/ Secult PE) |
Entre maio e agosto de 2024, o Recife ganhou clima hollywoodiano com as gravações O agente secreto, primeiro longa de ficção de Kleber Mendonça Filho desde Bacurau. As filmagens movimentaram sobretudo o centro da cidade com a presença de Wagner Moura, protagonista, e de Udo Kier, Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Hermila Guedes e Thomas de Aquino, além da caracterização da década de 1970, com carros e letreiros, que chamou a atenção da população e rendeu várias imagens virais nas rede sociais. Com estreia prevista para 2025, a expectativa é de que o longa seja anunciado na seleção oficial do Festival de Cannes.
A exibição de Grande sertão, de Guel Arraes, marcou abertura do 28º Cine PE – Festival do Audiovisual, evento que vem reconquistando cada vez mais o seu público e retomando a tradição de trazer grandes estrelas à cidade, com presenças como Rodrigo Lombardi, Carol Castro, Caio Blat e Edson Celulari. Arraes voltou à cidade natal em Dezembro para a pré-estreia do aguardado O auto da Compadecida 2, acompanhado da codiretora Flávia Lacerda e do trio Selton Mello, Matheus Nachtergaele e Virgínia Cavendish.
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Gravações de 'O agente secreto', de Kleber Mendonça Filho e com Wagner Moura, movimentaram as ruas do Centro do Recife (Divulgação) |
A capital foi parada importante de vários eventos da sétima arte este ano - e um dos mais fortes foi a sessão superlotada de Ainda estou aqui no 15º Janela Internacional de Cinema, com a presença de Walter Salles. O filme estrelado por Fernanda Torres se tornou o mais assistido do cinema brasileiro do pós-pandemia e representa o país na corrida pelo Oscar. O Janela marcou a reabertura do Cinema São Luiz após mais de dois anos fechado e trouxe ainda o diretor Pedro Freire e seu elogiado Malu, vencedor do Festival do Rio, e Manas, estreia de Marianna Brennand, premiada no Festival de Veneza.
Luiz Fernando Carvalho veio ao Recife divulgando A paixão segundo GH, filme com Maria Fernanda Cândido que adapta a obra de Clarice Lispector. Na pegada do streaming, Silvero Pereira e Giovanna Grigio também passaram pelo Recife para uma grande pré-estreia da produção Maníaco do parque, lançamento do Prime Video, no Shopping RioMar.
O ano contou ainda com a 14ª edição do Animage – Festival Internacional de Animação de Pernambuco, que trouxe 138 filmes de animação em sessões gratuitas ao Recife, entre eles a estreia na América Latina do documentário Miyazaki, L’Espirit de la nature, de Léo Favier. O Teatro do Parque foi movimentado ainda pela Mostra de Cinema Espanhol, com seis filmes inéditos na cidade e promovida pelo Instituto Cervantes. Destacaram-se ainda entre os festivais do interior do estado, o VIII Cine Jardim, em Belo Jardim, com suas ações formativas e mostras latino-americanas, o 6º Curta na Serra – Festival de Cinema ao Ar Livre, em Serra Talhada, e ainda o 15º Festival de Cinema de Triunfo, que celebrou em dezembro produções inéditas e de repercussão em outros eventos do audiovisual.
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'Ainda estou aqui', representante brasileiro no Oscar 2025, se tornou o filme nacional mais visto da década nos cinemas (Divulgação) |
Ano notório pela regulamentação da cota de tela para a produção brasileira, com decreto assinado em 19 de junho, 2024 trouxe aos cinemas várias produções prestigiadas nos festivais nacionais e internacionais, como Motel Destino, de Karim Aïnouz; Cidade; Campo, de Juliana Rojas; O dia que te conheci, de André Novais Oliveira; O clube das mulheres de negócios, de Anna Muylaert, e ainda as produções pernambucanas que fizeram boa impressão no circuito de festival, como Seu Cavalcanti, de Leonardo Lacca; Tijolo por tijolo, de Victória Álvares e Quentin Delaroche; Lispectorante, de Renata Pinheiro; Serra das almas, de Lírio Ferreira; Salomé, de André Antônio, e Ainda não é amanhã, de Milena Times, além do drama Salamandra, de Alex Carvalho, rodado em Recife e Olinda.
O ANO DE CONTINUAÇÕES EM HOLLYWOOD
No cinema norte-americano, havia uma expectativa negativa na balança da indústria em relação a 2023 – e o que imperou comercialmente foram as continuações. Divertida mente 2 superou todas as projeções e se tornou a maior bilheteria do ano, com mais de 1,6 bilhão de dólares mundiais, com Deadpool & Wolverine logo atrás no ranking global, com cerca de 1,3 bilhão, tirando o MCU da baixa recente. E para além do filme da Pixar, as sequências das animações estabelecidas se provaram garantias para os estúdios, como Kung Fu Panda 4, Meu malvado favorito 4 e Moana 2.
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'Divertida mente 2' teve a maior bilheteria de 2024 (Divulgação) |
Não passou despercebido, porém, o declínio das demais adaptações de HQ, com a má recepção de Madame Teia, Venom: A última rodada e Kraven, o caçador, da Sony/Marvel, e o fracasso histórico de Coringa: Delírio a dois, da Warner/DC. Nesse deserto criativo, o evento de destaque do ano foi o sucesso de Duna: Parte 2, que encerra a ambiciosa adaptação do primeiro livro da saga de ficção científica e pavimenta o caminho do terceiro capítulo. Apesar de também aclamado, Furiosa: Uma saga Mad Max gerou prejuízo nos cinemas. O lançamento simultâneo do épico Gladiador II e do musical Wicked foi tentativa (falha) de um novo “Barbenheimer”, grande evento cultural do ano passado, embora o segundo tenha se tornado fenômeno.
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O divisivo 'Coringa: Delírio a dois' foi considerado um dos maiores fracassos do ano (Divulgação) |
Algumas produções originais com grandes nomes se destacaram no mar de franquias, como é o caso do filme de tênis muito comentado nas redes sociais Rivais, de Luca Guadagnino (que ainda em 2024 lançou o romance surrealista Queer). Incisivo e contemporâneo, o thriller de ação Guerra civil, de Alex Garland e com Wagner Moura, provocou uma reação calorosa, sobretudo em ano eleitoral. Projeto passional de Francis Ford Coppola, Megalópolis, um dos mais caros filmes autofinanciados já feitos, finalmente ganhou a luz do dia e se transformou em um dos lançamentos mais polarizadores do ano. E o sempre divisivo M. Night Shyamalan lançou seu mais recente projeto, o suspense Armadilha, com sua filha em um dos papéis principais.
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'A substância', retorno de Demi Moore, se tornou um dos maiores fenômenos do cinema de horror contemporâneo (Divulgação) |
O terror dificilmente vive tempo ruim: com produções originais, como os hits Longlegs: Vínculo mortal e A substância, ou derivadas, como Um lugar silencioso: Dia um, Alien: Romulus e Sorria 2, o gênero teve um balanço excelente tanto na crítica quanto nas bilheterias. Exibidos nos principais festivais pelo Brasil e já celebrados na temporada de premiações, Anora, Emilia Pérez, O brutalista, Conclave, Babygirl e A semente do fruto sagrado estão entre as produções que prometem protagonizar a disputa pelas principais categorias no Oscar 2025, que divulga seus indicados apenas no dia 17 de janeiro.