CINEMA
Por: André Guerra
Publicado em: 12/12/2024 08:00 | Atualizado em: 11/12/2024 23:32
MUBI/Divulgação |
Em meados dos anos 1950, Lee (Daniel Craig), um expatriado americano com vício em opioides, está morando na Cidade do México na companhia de colegas que também serviram à Marinha e agora vivem entre bares, clubes e empregos de meio período. Numa noite, ele conhece Eugene Allerton (Drew Starkey), um jovem de poucas palavras por quem se apaixona intensamente.
Baseado no livro homônimo de William S. Burroughs lançado em 1985, Queer, já em cartaz nos cinemas, é o novo trabalho do diretor Luca Guadagnino (Me chame pelo seu nome, Suspiria, Até os ossos) e o segundo apenas neste ano, após o aclamado Rivais, e talvez seja o que melhor sintetize o projeto formal e temático que ele vem desenvolvendo nos últimos anos. Interessado em registrar corpos e atrações estilizadas de planos com forte apelo sensorial e às vezes embriagante, o cinema de Guadagnino é quase todo um estudo sobre o desejo enquanto força libertadora do ser humano, mas Queer é a primeira vez em que ele lida abertamente com a relação entre o toque, o corpo físico e, claro, a sexualidade com um ideal de transcendência e abstração.
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Mesmo que a premissa seja realista e a narrativa possua uma estrutura linear, com três capítulos e um epílogo delineando viradas de tom, o filme demonstra em seus minutos iniciais um aspecto onírico, como se aqueles personagens estivessem vivendo em um plano paralelo. Sim, há a contextualização temporal do pós-guerra na maneira como os diálogos se referem à homoafetividade e até no subjacente clima de solidão, mas Queer constrói uma atmosfera bem específica, que, através das cores noturnas e da luz dos planos abertos, isola dos personagens naqueles cenários – no qual, aliás, as personagens femininas têm pouca ou nenhuma participação.
Em papel que estilhaça com louvor a sua imagem de James Bond, Daniel Craig – indicado ao Globo de Ouro de melhor ator de drama – se lança sem rede de segurança sobre esse homem envolvente e complicado. O ator substitui a fisicalidade de herói de ação, que por tantos anos lhe foi atribuída, por um misto comovente de obsessão e fragilidade. Drew Starkey, por outro lado, personifica mais uma projeção fugidia de beleza e juventude do que uma pessoa propriamente – o que é essencial para o jogo de atrações entre real e fantasia, corpo e espírito, desejo e obsessão que o filme explora com uma sensibilidade assombrosa.
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Queer tende a perder espectadores a partir do momento em que abandona a Cidade do México e leva os personagens a uma jornada alucinógena em busca de um chá de propriedades telepáticas na América do Sul. É nessa viagem, no entanto, que o diretor se aprofunda nos sentimentos doloridos e intangíveis do protagonista, cada vez mais próximo do seu ideal de amor e, de algum modo, mais longe dele também. O filme assume seu pendor surrealista e quebra a fronteira entre verdade e imaginação, evitando resoluções dramáticas convencionais e trabalhando com lacunas não raramente de cortar o coração.
É bastante significativo um cineasta usar sua ascendente influência na indústria para propor essa desconstrução de masculinidade (evidente na escalação de Craig) através desse olhar tão pessoal e contemporâneo, que versa sobre o desejo em uma época na qual ele não podia ser demonstrado e concretizado como viria a poder. Queer é uma celebração da possibilidade de se filmar esses corpos hoje e, simultaneamente, uma obra tristíssima sobre a impossibilidade de um homem – solitário em seu tempo e espaço – de ser e ter plenamente aquilo ou alguém que sempre quis.
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