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MÚSICA

Moto Perpétuo celebra 50 anos do único disco com edição especial em vinil

Banda que revelou Guilherme Arantes completa cinco décadas de influência no rock progressivo brasileiro. Em entrevista ao Viver, Arantes fala sobre o disco e sua importância no presente

Publicado em: 09/12/2024 06:00

Guilherme Arantes, Claudio Lucci, Gerson Tatini, Egídio Conde e Diógenes Burani eram a formação original da banda (Foto: Arte de Marcos Campacci)
Guilherme Arantes, Claudio Lucci, Gerson Tatini, Egídio Conde e Diógenes Burani eram a formação original da banda (Foto: Arte de Marcos Campacci)
Três anos podem passar num piscar de olhos, mas para a banda paulistana Moto Perpétuo, significou a imortalidade na música brasileira. Lançado em 1974, o único álbum da banda, que leva seu nome, é considerado precursor do movimento do rock progressivo no país e segue influenciando o gênero até hoje. Os 50 anos de Moto Perpétuo foram celebrados em novembro com dois shows em São Paulo, reunindo os três integrantes remanescentes, entre eles Guilherme Arantes, e o lançamento de um vinil especial pela Três Selos. 

O Moto Perpétuo começou a tomar forma em 1973, quando Guilherme Arantes e Diógenes Burani se conheceram enquanto tocavam para Jorge Mautner. Na época em que ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Arantes encontrou Claudio Lucci, que se juntou ao grupo. Diógenes, vindo do projeto Cilibrinas do Éden, com Rita Lee e Lúcia Turnbull, completou a formação com Gerson Tatini e Egídio Conde. O quinteto ganhou força com o apoio de Moracy do Val, produtor responsável pelo sucesso do Secos & Molhados.

Na mesma época, bandas internacionais como Yes, Rush, Led Zeppelin, Frank Zappa, Pink Floyd, Emerson, Lake & Palmer, Genesis e até os Beatles desbravavam um estilo de rock ainda pouco familiar ao público brasileiro no final dos anos 1960. Inspirado por essas influências e pelo movimento Clube da Esquina, o Moto Perpétuo ganhou destaque ao incorporar elementos brasileiros ao gênero em seu álbum de estreia. Lançado pela gravadora Continental, o disco trouxe 11 faixas inéditas, sendo nove compostas por Guilherme Arantes e duas por Claudio Lucci.

O álbum transita entre o rock progressivo e o pop, oferecendo uma diversidade sonora que vai do experimental ao melódico. Os Jardins e Conto Contigo são ícones do gênero progressivo, enquanto Mal o Sol, Verde Vertente, Não Reclamo da Chuva e Seguir Viagem seguem uma vertente pop. A nova edição em vinil preto 180g, prensada pela Rocinante, inclui todas as faixas do álbum, um livreto de 12 páginas com fotos e texto inédito da jornalista e pesquisadora musical Lorena Calabria, capa gatefold empastada e masterização de Artur Joly. 

O Moto Perpétuo, com uma trajetória curta como a de Secos & Molhados, se dissolveu em 1975, logo após o lançamento do álbum. Guilherme Arantes, então, iniciou uma carreira solo e se consagrou como um dos maiores compositores da MPB, emplacando hits em novelas e sendo gravado por grandes nomes da música brasileira. Em entrevista ao Viver, Arantes falou sobre sua volta aos palcos com Claudio Lucci e Gerson Tatini, discorreu sobre o conceito de rock progressivo e analisou o panorama atual do gênero.
 
Entrevista com Guilherme Arantes (cantor e compositor) 
 
Guilherme Arantes construiu carreira de sucesso após separação do Moto Perpétuo (Foto: Vania Toledo)
Guilherme Arantes construiu carreira de sucesso após separação do Moto Perpétuo (Foto: Vania Toledo)
 
Qual é a sensação de revisitar as faixas de Moto Perpétuo após 50 anos?
A sensação foi de que tudo ainda está muito vivo em mim. É um repertório muito autoral, e eu consegui cantar nos mesmos tons, tocar todos os detalhes com a mesma destreza e precisão. Foi uma experiência maravilhosa... e estar junto com Claudio e Gerson, fazendo os ensaios, foi realmente emocionante. Muito legal!

Como trabalhar neste álbum influenciou a sua forma de entender música após o fim do grupo?
A feitura do álbum foi uma verdadeira escola para a gente. Para mim, mesmo com as limitações de canais, foi um teste para guardar para a vida toda, especialmente uma descoberta sobre minha dificuldade com o trabalho coletivo. Isso me mostrou que eu realmente não tinha perfil para 'integrar uma banda', dividir decisões e depender de uma voz coletiva.

Vocês tinham noção do que era o rock progressivo naquela época? Foi claro desde o início que algo novo estava surgindo?
Eu, particularmente, sempre achei esse termo 'progressivo' uma classificação muito genérica e imprecisa. O que se entendia por 'progressivo' era uma estrutura de composição desdobrada em múltiplos temas, que se desenvolviam em obras maiores, com pretensões para-sinfônicas, grandiloquentes, voltadas para arenas viajantes — uma moda na qual as bandas embarcaram, buscando espaço para talentos e virtuosismos dos músicos. Isso era claro, uma derivação do rock e do pop, até então mais voltados para canções radiofônicas, e o 'prog' buscava fugir dessas limitações comerciais.

Moto Perpétuo chegou ao fim em 1974, mas seu legado continua vivo. Qual é sua opinião sobre o rock progressivo contemporâneo e a influência da banda nesse contexto?
O que mais me parece evidente hoje é a falta generalizada de tempo das pessoas, do mundo. Sem tempo e sem atenção, nesta era 'moderna' e lamentável do 'zapping', torna-se ainda mais difícil para o público consumir música que demande tempo e dedicação. Assim, ela acaba se tornando um nicho muito particular, 'fora da curva'.



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