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Guilherme Arantes, Claudio Lucci, Gerson Tatini, Egídio Conde e Diógenes Burani eram a formação original da banda (Foto: Arte de Marcos Campacci) |
Três anos podem passar num piscar de olhos, mas para a banda paulistana Moto Perpétuo, significou a imortalidade na música brasileira. Lançado em 1974, o único álbum da banda, que leva seu nome, é considerado precursor do movimento do rock progressivo no país e segue influenciando o gênero até hoje. Os 50 anos de Moto Perpétuo foram celebrados em novembro com dois shows em São Paulo, reunindo os três integrantes remanescentes, entre eles Guilherme Arantes, e o lançamento de um vinil especial pela Três Selos.
O Moto Perpétuo começou a tomar forma em 1973, quando Guilherme Arantes e Diógenes Burani se conheceram enquanto tocavam para Jorge Mautner. Na época em que ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Arantes encontrou Claudio Lucci, que se juntou ao grupo. Diógenes, vindo do projeto Cilibrinas do Éden, com Rita Lee e Lúcia Turnbull, completou a formação com Gerson Tatini e Egídio Conde. O quinteto ganhou força com o apoio de Moracy do Val, produtor responsável pelo sucesso do Secos & Molhados.
Na mesma época, bandas internacionais como Yes, Rush, Led Zeppelin, Frank Zappa, Pink Floyd, Emerson, Lake & Palmer, Genesis e até os Beatles desbravavam um estilo de rock ainda pouco familiar ao público brasileiro no final dos anos 1960. Inspirado por essas influências e pelo movimento Clube da Esquina, o Moto Perpétuo ganhou destaque ao incorporar elementos brasileiros ao gênero em seu álbum de estreia. Lançado pela gravadora Continental, o disco trouxe 11 faixas inéditas, sendo nove compostas por Guilherme Arantes e duas por Claudio Lucci.
O álbum transita entre o rock progressivo e o pop, oferecendo uma diversidade sonora que vai do experimental ao melódico. Os Jardins e Conto Contigo são ícones do gênero progressivo, enquanto Mal o Sol, Verde Vertente, Não Reclamo da Chuva e Seguir Viagem seguem uma vertente pop. A nova edição em vinil preto 180g, prensada pela Rocinante, inclui todas as faixas do álbum, um livreto de 12 páginas com fotos e texto inédito da jornalista e pesquisadora musical Lorena Calabria, capa gatefold empastada e masterização de Artur Joly.
O Moto Perpétuo, com uma trajetória curta como a de Secos & Molhados, se dissolveu em 1975, logo após o lançamento do álbum. Guilherme Arantes, então, iniciou uma carreira solo e se consagrou como um dos maiores compositores da MPB, emplacando hits em novelas e sendo gravado por grandes nomes da música brasileira. Em entrevista ao Viver, Arantes falou sobre sua volta aos palcos com Claudio Lucci e Gerson Tatini, discorreu sobre o conceito de rock progressivo e analisou o panorama atual do gênero.
Entrevista com Guilherme Arantes (cantor e compositor)
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Guilherme Arantes construiu carreira de sucesso após separação do Moto Perpétuo (Foto: Vania Toledo) |
Qual é a sensação de revisitar as faixas de Moto Perpétuo após 50 anos?
A sensação foi de que tudo ainda está muito vivo em mim. É um repertório muito autoral, e eu consegui cantar nos mesmos tons, tocar todos os detalhes com a mesma destreza e precisão. Foi uma experiência maravilhosa... e estar junto com Claudio e Gerson, fazendo os ensaios, foi realmente emocionante. Muito legal!
Como trabalhar neste álbum influenciou a sua forma de entender música após o fim do grupo?
A feitura do álbum foi uma verdadeira escola para a gente. Para mim, mesmo com as limitações de canais, foi um teste para guardar para a vida toda, especialmente uma descoberta sobre minha dificuldade com o trabalho coletivo. Isso me mostrou que eu realmente não tinha perfil para 'integrar uma banda', dividir decisões e depender de uma voz coletiva.
Vocês tinham noção do que era o rock progressivo naquela época? Foi claro desde o início que algo novo estava surgindo?
Eu, particularmente, sempre achei esse termo 'progressivo' uma classificação muito genérica e imprecisa. O que se entendia por 'progressivo' era uma estrutura de composição desdobrada em múltiplos temas, que se desenvolviam em obras maiores, com pretensões para-sinfônicas, grandiloquentes, voltadas para arenas viajantes — uma moda na qual as bandas embarcaram, buscando espaço para talentos e virtuosismos dos músicos. Isso era claro, uma derivação do rock e do pop, até então mais voltados para canções radiofônicas, e o 'prog' buscava fugir dessas limitações comerciais.
Moto Perpétuo chegou ao fim em 1974, mas seu legado continua vivo. Qual é sua opinião sobre o rock progressivo contemporâneo e a influência da banda nesse contexto?
O que mais me parece evidente hoje é a falta generalizada de tempo das pessoas, do mundo. Sem tempo e sem atenção, nesta era 'moderna' e lamentável do 'zapping', torna-se ainda mais difícil para o público consumir música que demande tempo e dedicação. Assim, ela acaba se tornando um nicho muito particular, 'fora da curva'.