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HISTÓRIA E LITERATURA

Livro de poesias 'Secos e Turvos', de Alexsandro Souto Maior, ganha lançamento no Museu do Estado

Publicação da Companhia Editora de Pernambuco traz diálogo lírico com a obra canônica 'Os sertões', de Euclides da Cunha

Publicado em: 02/12/2024 06:00 | Atualizado em: 29/11/2024 14:00

 (Foto: Leopoldo Conrado Nunes)
Foto: Leopoldo Conrado Nunes
Um dos mais violentos conflitos da história brasileira foi imortalizado em formato de livro-reportagem por Euclides da Cunha em 1902 e acaba de ganhar novos contornos líricos que reiteram seu impacto na nação. Enquanto Os sertões, obra canônica dividida em três partes – ‘A terra’, ‘O homem’ e ‘A luta’ –, narra o conflito armado da Guerra de Canudos, ocorrido no interior da Bahia entre 1896 e 1897, e a liderança do missionário Antônio Conselheiro, o livro de poemas Secos e turvos, do escritor e professor pernambucano Alexsandro Souto Maior lançado, lançado na tarde de ontem no Museu do Estado, nas Graças, pela Companhia Editora de Pernambuco.

Ecoando a paisagem, a terra árida e a esperança do homem do sertanejo através dos seus versos, o autor, mestre em Estudos Literários, ator e diretor de teatro, volta aos fatos com um olhar atento e criterioso que percorre os cenários desse conflito sangrento que resultou em milhares de sertanejos mortos. Fruto de anos de pesquisa, Secos e turvos utiliza a iconografia e atmosfera da sua fonte principal inclusive na disposição em zigue-zague dos versos, nas quebras rítmicas e nas lacunas deliberadas que compõem suas 112 páginas e cinco capítulos, parafraseando a obra original em seus títulos.

Pensada a partir de uma lógica de parábolas no livro de Souto Maior, a figura e o caráter de Antônio Conselheiro representa a visão da imprensa carioca do período retratado, como uma maneira de ressaltar a importância documental da obra do próprio Euclides, jornalista, e também da literatura como espaço para o não-esquecimento dos genocídios promovidos pela república. As conexões múltiplas das duas obras e o processo poético estão entre os assuntos debatidos no lançamento, que contou com uma sessão aberta de bate-papo, uma sessão de autógrafos e ainda uma performance do autor que trouxe fragmentos das poesias através de uma partitura corporal e musical.
 (Tom árido da capa do livro reflete a temática dos poemas.)
Tom árido da capa do livro reflete a temática dos poemas.
“Passei três anos para criar Secos e Turvos, uma criação que ocorreu alguns anos antes da pandemia. Vejo sempre o texto como um tecido orgânico: criava e recriava num movimento como quem costura uma roupa para se vestir e vestir, agasalhar o outro. O desejo de parar e escrever essa longa poesia narrativa só se deu no momento em que me senti cheio de ler matérias de jornais cariocas do final do século 19 sobre a Guerra de Canudos, cheio do texto Antônio Conselheiro, do dramaturgo Joaquim Cardozo, de Os sertões, de Euclides da Cunha, de artigos de temas afins e do incômodo que sentia, em 2018, ao me indignar com o rumo que o Brasil tomava na política”, explicou Souto Maior em entrevista ao Viver.

O escritor comentou ainda sobre a crucialidade da verdadeira historicização detalhada para que possamos entender o agora a partir de horrores do passado. “Hoje vivemos uma guerra de revisões históricas. Há aquelas que trazem à tona documentos e fatos ocultados, ignorados propositalmente pela história oficial do país e que hoje são argumentos para ações afirmativas de grupos sociais. Há também aqueles que buscam revisar a nossa história a ponto de afirmar que não houve ditatura militar no Brasil, por exemplo, que não tem compromisso com a verdade e refletem um propósito de manutenção de um poder. Precisamos perceber como a força daquele Brasil republicano tinha a Igreja como aliada e ecoa muito na governabilidade hoje essa dependência de instituições religiosas que contrariam a constitucionalidade de um país laico. Precisamos lembrar de nossos absurdos para que inventemos o Brasil que queremos como, disse Darcy Ribeiro em O povo brasileiro. A poesia deve ser também um instrumento para ler, pensar e se indignar com a história”, concluiu.

Souto Maior também é autor do livro de poesias A seiva (2019) e, como dramaturgo, venceu o Prêmio Literário Cidade de Manaus com a peça Mariano, irmão meu (2011) e o Prêmio Ariano Suassuna, com as obras Tempo de flor (2018) e O misterioso casarão de dona Niná (2020).
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