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MÚSICA

Há 30 anos, ''Da Lama ao Caos'' fez renascer um Recife do mangue

Nação Zumbi chega ao Recife com a turnê que celebra os 30 anos de ''Da Lama ao Caos'', álbum que rompeu paradigmas socioculturais da cidade na década de 1990

Publicado em: 19/12/2024 06:00 | Atualizado em: 19/12/2024 10:49

Chico Science & Nação Zumbi em 1994 (Crédito: Fred Jordão/Arquivo DP)
Chico Science & Nação Zumbi em 1994 (Crédito: Fred Jordão/Arquivo DP)
A cultura quatrocentona de Pernambuco nem sempre foi um terreno fértil para escoar novidades e criatividade. Após o Recife se firmar como “Meca da música nordestina” na década de 1950, as manifestações locais perderam fôlego ao longo dos anos 1980, sufocadas pela crescente imposição de produtos promovidos pelas mídias do eixo Rio-São Paulo, onde se concentravam os principais agentes do mercado musical. Esse cenário começou a mudar no início dos anos 1990, quando Chico Science & Nação Zumbi liderou o resgate da cultura popular e folclorizada do ostracismo, ou da lama, com Da Lama ao Caos, cujo lançamento completa 30 anos em 2024.

Para celebrar a efeméride, a Nação Zumbi traz a turnê especial “Da Lama Ao Caos - 30 anos” ao Recife, neste sábado, no Terminal Marítimo, no Bairro do Recife. O show revisita o álbum na íntegra, com a abertura da banda Devotos e participação especial de Maciel Salú. Além dos remanescentes da formação original, Jorge Du Peixe (vocal), Toca Ogan (percussão) e Dengue (baixo), completam a banda Marcos Matias e Da Lua (tambores), Tom Rocha (bateria) e Neilton Carvalho (guitarra).

Em 1994, Neilton, com 24 anos, era guitarrista da Devotos e dividia os mesmos palcos com Chico Science, como o Abril Pro Rock, quando Da Lama ao Caos foi lançado. Agora, trinta anos depois, ele se apresenta com a Nação Zumbi para tocar as faixas do disco. "A fórmula que Chico Science e Nação Zumbi fizeram foi de uma simbiose incrível e inimaginável para a época, pois não era rock, não era hip-hop, não era sambada, não era maracatu, e era tudo isso. Tinha uma verdade tão grande que de fato eles criaram um som novo”, destaca o músico. 

Em uma cidade erguida sobre o mangue, comprimida entre palafitas e edifícios, os problemas sociais e ambientais se perpetuavam em um ciclo vicioso. Como preconizado em Da Lama ao Caos, é se desorganizando que consegue se organizar, e do caos, algo novo e familiar emergiu. “Houve revolução na relação com a cultura popular, no desenho da estrutura rítmica, na confluência de influências díspares, na invenção de um “flow” particular, melhor adaptado à cadência da língua brasileira e ao sotaque da região metropolitana. Soava, como algo simultaneamente próximo, reconhecível, e quase alienígena”, avalia o jornalista Renato L, um dos precursores do que viria a ser conhecido como “manguebeat”.
 
O som vindo do mangue ganhou status de revolução (Crédito: Geyson Magno/Arquivo DP)
O som vindo do mangue ganhou status de revolução (Crédito: Geyson Magno/Arquivo DP)
 
Ainda sem o “beat”, o termo “mangue” surgiu pela primeira vez nos jornais pernambucanos em 1991, no Jornal do Commercio, em uma reportagem sobre a festa Black Planet, em Olinda. Para isso, o jornalista Marcelo Pereira recebeu, na redação, a visita de Francisco de Assis França - já conhecido pelos amigos como Chico Vulgo, e que começava a ser chamado de Chico Science - para falar sobre o evento e um novo gênero musical. “Chico estava muito empolgado. Eu creio que ele começou a achar que tinha descoberto um caminho para seguir”, relata Marcelo. 

A imprensa continuou aliada dos mangueboys e acendeu a faísca que deu origem ao movimento manguebeat. O texto “Caranguejos com Cérebro”, de Fred Zero Quatro e Renato L, hoje é visto por sua aura poética, mas nasceu como material de divulgação para uma coletânea. Os jornais locais, no entanto, o interpretaram como um manifesto. Marcelo Pereira aponta o relacionamento com os idealizadores e a renovação da música pernambucana como fatores para o engajamento da imprensa. “Era importante romper com a estagnação ou uma certa mesmice da música pernambucana e do gosto ditado pelas grandes gravadoras. A proposta do release causou inquietação e apontou para uma direção nova”.

Com apenas 30 mil cópias vendidas em dois anos, um número aquém na era dourada dos discos, Chico Science & Nação Zumbi deu a volta por cima. Da Lama ao Caos foi lançado nos Estados Unidos, Japão e em diversos países da Europa, preparando o terreno para a histórica turnê “From Mud to Chaos Tour '95”. Meses depois, a banda se apresentou no Central Park, em Nova Iorque, e recebeu seu primeiro cachê em moeda estrangeira: US$ 1,5 mil. A performance foi aplaudida pelo New York Times e seguiu com shows em festivais renomados, como o Montreux Jazz, na Suíça, e o Sphinx, na Bélgica. Ao todo, foram 54 apresentações em 32 dias espalhando a revolução mangue pelo mundo. 
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