| |
Foto: Shilton Araujo |
No próximo sábado, a Oficina Francisco Brennand celebra 53 anos de história com a inauguração de "Cosmo/Chão", sua exposição de maior envergadura neste ano. A abertura da mostra marca um novo capítulo da instituição, onde artistas brasileiros de diferentes matizes étnicas e estéticas se encontram para dialogar com o legado de Francisco Brennand. A ideia central de "Cosmo/Chão" – o céu que desce e o chão que sobe – reflete uma busca pela incorporação do infinito em formas tangíveis, enquanto ultrapassa os limites da escultura tradicional e conecta-se a aspectos físicos e simbólicos dos territórios
Composta por cerca de 90 obras de 15 artistas oriundos de oito estados do Brasil, a coletiva abrange diversas gerações, contextos e poéticas. As obras estão distribuídas pela Accademia e áreas ao ar livre da Oficina, incluindo um dos jardins e o emblemático Lago das Sombras na entrada da instituição. No dia da inauguração, a entrada será gratuita para todos os visitantes, que poderão também desfrutar de uma feirinha gastronômica e DJs.
Essa mostra reúne uma seleção inédita de artistas que expõem pela primeira vez na Oficina Francisco Brennand e, em alguns casos, na própria capital pernambucana. Entre os participantes estão Advânio Lessa (MG), Aislan Pankararu (PE), Castiel Vitorino Brasileiro (ES), Celeida Tostes (RJ, 1929-1995), Ceramistas de Itamatatiua (MA), Conceição dos Bugres (RS/MS, 1914-1984), Cristiano Lenhardt (RS/PE), Christina Machado (PA/PE), davi de jesus do nascimento (MG), Josi (MG), Mestre Guarany (BA, 1884-1985), Thiago Martins de Melo (MA), Tiago Amorim (PE) e Solange Pessoa (MG), que, ao lado de Francisco Brennand (PE, 1927-2019), exploram temas como identidade, espiritualidade, memória e território.
Inspirada pelo conceito de “território” — parte do tripé conceitual “natureza”, “território” e “cosmologias” que orienta a Oficina desde 2021 —, a proposta não enxerga território apenas como um espaço físico, mas como um elo vivo entre tradições culturais, vínculos sociais e perspectivas espirituais.. “No contexto da prática escultórica, essa abordagem é essencial para repensarmos o território, onde o espaço ganha camadas de significação cultural, histórica e espiritual. Quando estamos dialogando com a Oficina e a obra de Francisco Brennand, essa conexão é ainda mais relevante. O universo escultórico desse artista é profundamente simbólico e habitado por mitologias pessoais”, explica a curadora Gleyce Kelly Heitor.
Em 'Cosmo/Chão', a escultura se revela como uma prática multidisciplinar que transcende os limites da forma. Ao incorporar elementos como tempo, performance e instalações, a obra explora a noção de campo expandido e desafia a noção tradicional de escultura, convidando o espectador a experimentar uma relação mais dinâmica com a arte. “A escultura serve para firmar laços, para criar signos, para dar contorno a certas experiências. É um dos componentes que transforma um espaço em um território; que confere sentido coletivo a um espaço. Essas reflexões são fundamentais para entender a obra de Francisco Brennand, um artista que levou a ideia de escultura ao limite”, afirma o curador Germano Dushá.
Gleyce observa que a definição dos expositores refletiu a necessidade de ressignificar o conceito de território em várias camadas. “Queríamos artistas que trouxessem novas perspectivas, tanto formais quanto conceituais, de modo a ampliar as possíveis interpretações do público sobre o que esse território representa — tanto fisicamente quanto no imaginário cultural. Além disso, essa pluralidade de vozes artísticas possibilita a criação de novos diálogos culturais, tensionando e expandindo a identidade da Oficina ao propor novas leituras e atravessamentos simbólicos”.
“Cosmo-Chão” marca a terceira exposição coletiva na Oficina Francisco Brennand, há 53 anos dedicada quase exclusivamente à obra de seu fundador. Ao lado de “Invenção dos Reinos” (2023-2024) e “CapiDançaBaribéNois” (2023-2024), a mostra coletiva reafirma a abertura do espaço a novas vozes em diálogo com o legado de Brennand. Esse novo ciclo segue o desejo do próprio Brennand, que criou um instituto sem fins lucrativos em 2019 para expandir o diálogo com práticas artísticas contemporâneas