Pernambuco.com
Pernambuco.com
Notícia de Divirta-se

CINEMA

O que falta à fotografia de 'Wicked' sobra na grande atuação de Cynthia Erivo

Primeira parte da adaptação do musical da Broadway é dramaticamente sólida e retoma temas fortes do livro, mas imagem lavada e sem contraste prejudica expressividade da fantasia

Publicado em: 21/11/2024 06:00 | Atualizado em: 19/11/2024 19:17

 (Universal/Divulgação)
Universal/Divulgação
É interessante que os musicais sofram de uma resistência tão grande de parte da plateia e, ao mesmo tempo, tenham encontrado um terreno tão rentável na onda de adaptações de clássicos da Disney ou da Broadway. E, embora a iconografia de O mágico de Oz esteja entre as mais difundidas da cultura pop, os seus desdobramentos até chegar em Wicked são tantos que podem deixar alguns espectadores perdidos.

Relembre-se, então: o longa clássico de 1939, de Victor Fleming, é baseado no livro O maravilhoso mágico de Oz, de L. Frank Baum, publicado em 1900. Essas obras geraram, em 1995, o romance Wicked: A história não contada das Bruxas de Oz, escrito por Gregory Maguire, por sua vez adaptado para um dos grandes sucessos da Broadway, que estreou em 2003. Altamente premiado e com uma base de fãs muito consolidada, o musical é agora trazido para o cinema em duas partes - e a primeira acaba de entrar em cartaz.
 (Universal/Divulgação)
Universal/Divulgação
Em Wicked: Parte 1, como aparece na tela (a segunda tem previsão de estreia para 2025), acompanhamos a história da Bruxa Má do Oeste e da Bruxa Boa do Sul antes de assim se tornarem conhecidas. Elphaba (Cynthia Erivo) nasceu com a cor verde e sofre desde então com o desprezo do pai e a discriminação de todos a sua volta, o que começa a mudar a partir do momento em que ela chega à Universidade Shiz e cai nas graças da diretora Madame Morrible (Michelle Yeoh), despertando inveja da mimada e popular Glinda (Ariana Grande) - uma rivalidade que aos poucos se transforma em uma amizade improvável.

Apesar do musical da Broadway minimizar alguns dos componentes mais sombrios do livro, sobretudo as alegorias ao fascismo, é interessante como a cuidadosa construção dramática de Wicked acaba por trazer esses paralelos de maneira apropriadamente contemporânea. O fato de o longa já abrir com uma música cínica que profere palavras de ódio e violência com delicadeza e tons rosados já deixa claro como essa vertente da obra original não vai ser perdida aqui, felizmente. 
 (Universal/Divulgação)
Universal/Divulgação
A atuação detalhada de Cynthia Erivo é o que essa atualização traz de mais interessante, já que suas reações são cheias de duelos internos entre a contenção e a explosão de raiva, entre o naturalismo e a teatralização esperada de um musical. É, enfim, uma interpretação muito mais carregada e contrastada do que qualquer elemento visual de Wicked, cuja direção de Jon M. Chu (Podres de ricos) desvaloriza seus notáveis figurinos e design de produção com uma comprometedora falta de saturação e vivacidade na fotografia. 

O uso hegemônico da imagem digital vem provocando uma plasticidade excessiva nos blockbusters há anos, problema que contaminou boa parte da produção comercial de fantasia. Trata-se de uma luz difusa que parece buscar um meio termo industrial que não provoque as reações fortes que, supostamente, um uso excessivo do colorido pode desencadear. E essa talvez seja a razão de uma aceitação maior da parte do público com esse tipo de musical, no qual o fantástico está sempre em um controle, da luz à encenação. O pendor cafona e exagerado inerente ao gênero é, portanto, preterido em prol da funcionalidade, o que mina a personalidade visual dos diretores e devolve à plateia um produto seguro sob encomenda.
 (Universal/Divulgação)
Universal/Divulgação
Um dos números emblemáticos da peça, ‘Popular’, é dos poucos em que o filme se deixa tomar pelo rosa intenso, que, de certa forma, também brota da divertida atuação de Ariana Grande como Glinda. Já um dos momentos climáticos, na última sequência, põe as protagonistas numa incompreensível escuridão, abafando a força da icônica canção que fecha este primeiro ato. Mesmo que outros números sejam cantados e coreografados com capricho e as demais interpretações levem o material a sério, Wicked é prejudicado por essa pasteurização que impede a magia de realmente desafiar a gravidade.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Vários estados brasileiros estão dispostos a continuar aprofundando a cooperação com a China
Pesquisador comenta sobre conceito de comunidade de futuro compartilhado
Pesquisador do Ceasia/UFPE avalia a abertura da China para turistas estrangeiros
Estudantes brasileiros simplificam a linguagem científica sobre a China
Grupo Diario de Pernambuco