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Os veteranos Ron Clements e John Musker não são apenas grandes animadores, mas estão entre os principais nomes responsáveis pela guinada criativa pela qual a Disney passou entre o final dos anos 1980 e começo dos anos 1990, época em que alguns dos sucessos mais colossais do estúdio foram lançados. Entre os seus trabalhos notáveis estão A pequena sereia (1989) e Aladdin (1992), além de Hércules (1997) e A princesa e o sapo (2009), casos em que fica evidente o cuidado muito particular tanto com a caracterização dos personagens (em especial os coadjuvantes cômicos, os chamados 'sidekicks') quanto na movimentação e vivacidade dos cenários, seja de água ou areia.
Lançado em 2016, Moana: Um mar de aventuras foi a primeira animação em computação gráfica comandada pela dupla e o resultado visual oscilava entre o lindo e o sublime. Do oceano cristalino às cores verdes da ilha, passando pelos cabelos ao vento da protagonista e pela sensação de peso impressa na tela, toda a construção de mundo do filme driblava bem sua jornada requentada e lhe conferia uma iconografia comprovadamente forte – a qual em breve ganhará uma versão live-action.
Imprensado, então, entre um longa original recente e uma refilmagem já batendo na porta, Moana 2, em cartaz nos cinemas, é similar a um passeio no parque para distrair os pequenos enquanto o almoço não fica pronto. Certamente esse passeio não deve ser tempo perdido para eles e provavelmente nem para os pais, já que tem movimento, cor, humor e música suficientes para disfarçar o aspecto corriqueiro das ideias (ou falta delas).
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Este segundo filme se passa três anos após os eventos do primeiro e acompanha Moana atendendo a um novo chamado de seus ancestrais e embarcando em uma outra aventura marítima, novamente ajudada pelo semideus Maui, na qual terá que quebrar uma maldição colocada sobre sua ilha por um Deus. Ou seja, com alterações pontuais, personagens a mais e perigos a menos, Moana 2 é praticamente um decalque episódico do filme anterior, mas, infelizmente, não conta com a direção de Clements e Musker – o que faz uma boa diferença.
Estreantes em longa-metragem, os três diretores David Derrick Jr, Jason Hand e Dana Ledoux Miller, especializados em storyboard, cumprem à risca o modelo das animações contemporâneas na velocidade das piadas, cenas de ação e uso das músicas inseridas na história, embora nenhuma canção deste seja marcante como a indicada ao Oscar 'How far I'll go'. De novo a animação do mar e das paisagens é detalhada e vistosa, mas sem o tempo do deslumbramento e da contemplação que o filme de 2016, em seus melhores momentos, preservava.
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A melhor notícia aqui é que o enredo não precisa se preocupar mais em estabelecer o conflito da “personagem que busca desbravar horizontes e ninguém permite” – mote básico que a Disney nunca deixou de usar e dificilmente vai deixar. Agora tudo ocorre com maior objetividade e não demora muito para que Moana e seus amigos (o porco Puá e o galo Heihei seguem funcionando como ótimos sidekicks) embarquem no mar de obstáculos.
Ainda que irregular, o primeiro Moana tinha um componente humano e uma delicadeza que é, sempre que possível, trazida de volta nesta continuação, mas dentro de uma lógica mais movimentada de atrações e distrações em que pouca coisa fica na memória algumas horas após a sessão. Do ponto de vista de peso narrativo, portanto, Moana 2 soa como um especial de lembrança daquele universo antes de a grande investida do estúdio – a refilmagem em live-action programada para 2026 – do que uma experiência de consequências minimamente ambiciosas. Para os pequenos, pode ser suficiente, mas não há dúvidas de que merecem mais.