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Notícia de Divirta-se

CONSCIÊNCIA NEGRA

Com hegemonia branca, Nobel de Literatura caminha a passos lentos rumo à diversidade

Europa concentra mais de 70% dos vencedores da premiação, cuja lista possui apenas quatro escritores negros

Publicado em: 20/11/2024 06:15

Toni Morrison é a única mulher negra vencedora do Nobel de Literatura (Foto: Sameer A. Khan)
Toni Morrison é a única mulher negra vencedora do Nobel de Literatura (Foto: Sameer A. Khan)
A sul-coreana Han Kang venceu o Nobel de Literatura em 2024, o maior reconhecimento para um escritor vivo, que ganha ainda mais importância para autores não-europeus em uma premiação marcada por uma longa hegemonia branca e masculina. Desde que foi criada, em 1901, aproximadamente 70% dos 121 vencedores são de países europeus. A desigualdade se torna ainda mais evidente quando se trata da diversidade racial e de gênero, com apenas quatro laureados negros, sendo a americana Toni Morrison a única mulher entre eles.

Antes de Morrison, dois escritores negros haviam conquistado o Nobel. O nigeriano Wole Soyinka foi o primeiro, em 1986, com a fábula “O leão e a joia”, marcando também a primeira premiação de um africano. Soyinka, descendente do povo iorubá, utiliza relatos memorialísticos para abordar o embate entre tradição e modernidade. Seis anos depois, Derek Walcott, poeta da ilha de Santa Lúcia, foi laureado por sua poesia multicultural, destacada pelo épico “Omeros”, uma recriação caribenha da “Odisseia”.

Aclamada pela crítica e pelo público, Toni Morrison (1931-2019) tornou-se, em 1993, a primeira mulher negra a conquistar a honraria máxima da literatura mundial. Sua obra, composta por 11 romances, ensaios e livros infantis, é marcada pela representação da vivência negra nos Estados Unidos, com foco em protagonistas femininas. Por último, em 2021, o escritor Abdulrazak Gurnah, da Tanzânia, foi escolhido "por sua rigorosa e compassiva investigação sobre os efeitos do colonialismo e os destinos dos refugiados na lacuna entre culturas e continentes", justificou a Academia sueca no site oficial.

A escritora e jornalista pernambucana Jaqueline Fraga recorda que, em 2020, foi a única mulher finalista do Prêmio Jabuti, e, consequentemente, a única mulher negra. “Essa falta de representatividade é reflexo das hierarquias sociais, de uma sociedade que desde sempre subjuga o papel intelectual e literário da população negra. E no caso das premiações precisamos também observar quem são as pessoas que estão julgando as obras, muitas vezes há uma homogeneidade no quesito raça e gênero dos jurados. Então esses espaços também precisam refletir a pluralidade de quem escreve”, comenta. 
 
Jaqueline Fraga disputou última fase do Jabuti em 2020 (Foto: Ed Machado)
Jaqueline Fraga disputou última fase do Jabuti em 2020 (Foto: Ed Machado)

Uma semelhança entre os vencedores negros do Prêmio Nobel é o uso da literatura como plataforma para contar suas próprias vivências e as de seus povos. Essa é a premissa da literatura negra, onde o sujeito da escrita é o próprio negro. “O que houve por muito tempo foi um silenciamento e um apagamento dessas histórias. Por meio da literatura, podemos criar novas narrativas e cenários e inserir inclusive pessoas e personagens negros em ocupações de prestígio, algo que pouco víamos na literatura. Daí a importância da representatividade. Nós precisamos contar as nossas próprias histórias a partir das nossas vozes”, destaca Jaqueline.

Festival Pernambucano de Literatura Negra
Desde segunda-feira, a Livraria Jaqueira, no Bairro do Recife, tem sido palco de um encontro literário do 4º Festival Pernambucano de Literatura Negra, como parte das celebrações do Mês da Consciência Negra. O evento visa aprofundar o debate sobre identidade, memória e representatividade racial. Hoje, das 16h30 às 17h, Jaqueline Fraga, idealizadora do projeto, lança a 4ª edição de seu livro Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho, seguido de sorteio e sessão de autógrafos.














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