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Lia nas gravações da versão em filme dirigida por Tuca Siqueira, em 2021. |
A Rainha da Ciranda, patrimônio vivo de Pernambuco, estará presente no maior espetáculo natalino do país baseado na cultura brasileira. O Baile do Menino Deus 2024 confirmou Lia de Itamaracá no elenco da ópera popular que será apresentada em 23, 24 e 25 de dezembro no Marco Zero, com previsão de público de mais de 70 mil pessoas e exibição ao vivo pelo YouTube
A participação inédita de Lia na encenação realizada no principal palco a céu aberto da capital pernambucana é para entoar a canção da burrinha Zabilin, personagem icônico do auto natalino, e fortalece o envolvimento entre o espetáculo e a artista estreitado em 2021, quando Lia participou do filme dirigido pela cineasta Tuca Siqueira. A versão especial para a TV e a internet (disponível no YouTube, assim como a íntegra do espetáculo encenado em 2023) havia substituído a edição ao vivo na rua cancelada pela proibição de aglomerações sociais imposta pela pandemia.
"Chamam Lia de Itamaracá deusa e rainha. Ela merece os títulos. Da vida quieta em sua ilha, cantando e dançando cirandas, Lia ganhou os palcos do Brasil e do mundo. No ano de 2021, ela cantou no filme do 'Baile do Menino Deus'. Ficou o sonho de que ela subisse ao palco do espetáculo. Neste ano de 2024, a deusa e rainha da ciranda, nossa amada Lia de Itamaracá, estará girando conosco na roda do nosso Baile", diz Ronaldo Correia de Brito, criador e diretor do espetáculo.
A burrinha Zabilin é uma criatura fantástica originada no reisado a quem se credita uma dança com poderes mágicos. A ela, se juntam o boi e o temido Jaraguá, figuras do folclore marcantes para o festejo das tradições populares e representantes da brasilidade inoculada na essência do Baile - espetáculo surgido como contraponto às celebrações marcadas por estrangeirismos e sem aderência à realidade do país. Na encenação nacional, renas, trenós, neve, pinheiros, papai Noel dão lugar a maracatus, pastoris, cavalo-marinho, caboclinho, frevo e personagens representativos da alma brasileira a partir da miscigenação cultural entre os povos indígena, negro e ibérico.
O Baile desempenha um duplo papel de construir, absorver e dar visibilidade à formação da identidade brasileira - de ontem e hoje - e estimular reflexões a partir do diálogo com questões contemporâneas relativas a inclusão, diversidade, representatividade, ecologia e dilemas sociais como pobreza, desigualdade e acesso a oportunidades. Nos anos recentes, o espetáculo contou com um José indígena e uma Maria negra e abordou a destruição do meio ambiente pelo ser humano a partir da representação de queimadas nas florestas - temas atuais e sob efervescente debate.
O espetáculo escrito há 41 anos por Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima, com músicas de Antônio Madureira, tem versão em livro com mais de 700 mil exemplares, se tornou paradidático distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) e inspira, todos os anos, inúmeras montagens Brasil afora. Já virou filme e, pela dinâmica própria da composição renovada anualmente, é rito de passagem para vários artistas de expressão nacional, como Elba Ramalho, Chico César, Tizumba, Silvério Pessoa, entre outros.