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CINEMA

'Infestação' é programa apavorante para aracnofóbicos, mas poderia ir mais longe

Elogiada produção francesa de terror tem ótimos efeitos especiais e construção eficaz de tensão, ainda que se acomode em alguns sustos fáceis

Publicado em: 10/10/2024 06:00 | Atualizado em: 10/10/2024 09:38

 (Divulgação/Paris Filmes)
Divulgação/Paris Filmes
Desde criança, Kaleb (Théo Christine) nutre o desejo de ter um zoológico de répteis com seu melhor amigo, de quem se afastou por conta de uma briga. De relações cortadas também com sua irmã, ele ainda encontra conforto nos animais exóticos que cria no quarto e, em uma de suas empreitadas, adquire para a estranha coleção uma aranha desconhecida e aparentemente inofensiva. O animal escapa da precária caixa de sapato onde foi guardado e, em um intervalo de apenas algumas horas, o caos no prédio de Kaleb já está completamente instalado, levando as forças policiais a isolarem o local e deixando os condôminos trancados à mercê das criaturas – que crescem e se multiplicam.

A premissa deste eficaz terror Infestação – que acaba de estrear nos cinemas após grandes elogios da imprensa internacional – soa um cruzamento peculiar entre o cult-clássico Aracnofobia, de 1990, e o aclamado REC, de 2007, que também se passava em um edifício em quarentena e colocava seus protagonistas à prova do pânico pelo contágio. Ao contrário do primeiro citado, esta produção francesa dirigida por Sébastien Vanicek se leva consideravelmente a sério e, mesmo que tenha momentos pontuais de humor (nem sempre voluntário), prioriza a tensão crescente e as resoluções dramáticas entre os protagonistas. Ao contrário do segundo, no entanto, ele não chega a atingir o pico de pavor e nervosismo que seu conceito prometia.
 (Divulgação/Paris Filmes)
Divulgação/Paris Filmes
A tentativa do primeiro ato de criar um alicerce emocional que auxilie o espectador na conexão com os personagens é mais enrolada do que propriamente bem sucedida. Menos por razões de atmosfera e mais por uma introdução protocolar do cenário onde a ação se passa, o filme gasta demasiado combustível nos primeiros minutos até colocar a mão na massa (ou nas aranhas). Quando os bebês aracnídeos entram em cena de fato, através de uma sequência fabulosa dentro de um banheiro, Infestação ganha tração, engatando boas set-pieces de ação e jogando de modo muito competente com as possibilidades da ambientação, em um nauseante sobe e desce pelas escadas do prédio.

Espectadores sensivelmente entomofóbicos certamente vão passar por grande aflição durante algumas das principais situações propostas pelo diretor/roteirista – que, após o bem repercutido projeto, foi contratado pela produtora de Sam Raimi para comandar um novo derivado do universo de A morte do demônio. Vanicek é realmente um cineasta de vigor apropriado para o terror e segue referência boas do gênero, além de equilibrar bem compromisso e despretensão.
 (Divulgação/Paris Filmes)
Divulgação/Paris Filmes
Falta a seu filme, ainda assim, justamente alguns instrumentos sensoriais que o seu novo padrinho (Raimi) tanto cultivou ao longo de sua carreira. O principal deles é, talvez, uma noção mais franca de sujeira e violência: Infestação tem excelentes efeitos visuais na concepção das aranhas, mas parece sempre se esquivar das possibilidades ‘horroríficas’ que o subgênero ‘filme de criatura’ proporciona. Sempre que as cenas ameaçam ficar mais fortes, a direção recua e passa apenas a replicar sustos e tropos básicos do cinema mainstream (pessoas colocando a cabeça em buracos escuros e levando aranhadas no rosto, câmera chacoalhando para desviar de imagens chocantes, coadjuvantes oportunamente descartados). 
 
É comum novos talentos com linguagens radicais e agressivas serem cooptados pelas grandes produtoras e passem a operar sob o funcionalismo e domesticação da indústria, mas, no caso de Sébastien Vanicek, pode-se dizer que nem precisará desse ‘polimento’ quando passar a trabalhar em solo hollywoodiano. Em outras palavras, apesar de ser uma produção francesa, Infestação já nasce embalado para uma vendagem americana – para o bem e para o mal.
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