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Dirigido por Fabio Meira (do aclamado Tia Virgínia) e refletindo o anseio por fazer cinema a partir da interseção entre ficção e documentário, Mambembe, que conta com uma parcela muito importante de Pernambuco dentro dele, está na programação da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e ainda não tem data de estreia nos cinemas.
Projeto que usa a metalinguagem para falar sobre o próprio processo de sua produção, o longa coloca em discussão diante do próprio espectador as maneiras com que ele poderia ter sido feito, com o diretor entrevistando seus personagens para que eles sugiram caminhos e possibilidades narrativas e performáticas.
A história trata de três mulheres de um circo mambembe acompanhadas por um topógrafo solitário pelo agreste pernambucano. Entre elas, Índia Morena, figura icônica do estado de Pernambuco e cheia de ímpeto para falar do que ama, sempre acompanhada pelas falas tocantes de Madona Show, que ilumina a tela com suas cenas de dança e lembranças melancólicas. Apresentando cada uma delas e, a partir daí, suas relações com o mundo circense, seus dramas pessoais e a relação que se estabelece entre elas e o homem que permeia a história (nem sempre de maneira narrativamente produtiva), o cineasta compõe um bonito quadro da alegria e da melancolia desse mundo para muito além dos seus espetáculos.
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Em Mambembe, na verdade, o show é o depoimento dessas mulheres para as quais o circo é um estilo de vida e uma forma de ver o mundo. Ao perguntar a uma delas quem deveria interpretá-las no filme que está em produção, Fabio Meira escuta a sábia afirmação de que ninguém melhor do que elas mesmas para contar suas histórias e ninguém poderia sentir esse afeto por aquele universo com a mesma autenticidade.
Embora não haja nada de novo na estrutura ou no dispositivo do documentário, o cineasta encontra beleza e humor suficiente em cada uma dessas personagens para fazer suas jornadas bastante cinematográficas. A narração completa algumas informações, mas nunca se torna impositiva ou intrusiva e a trilha sonora surge como uma adição igualmente pertinente, sem manipulações emocionais até esperadas para algumas das falas.
Em um dado momento no filme, é revelado para as mulheres algumas imagens feitas com elas muitos anos antes (uma dessas cenas passadas na Casa da Cultura). Este é um momento ao mesmo tempo de melancolia e de catarse: imaginamos o filme de ficção que poderia existir a partir dessas figuras e histórias, por um lado, mas, por outro, celebramos a beleza de ver personagens reais tão fascinantes dando vida em tela às suas próprias narrativas.