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Ainda crianças, José e João chegam do norte de Portugal ao Recife após a família deixar tudo para trás e buscar fazer dinheiro na colônia. O mais velho dos irmãos, José, de temperamento mais silencioso e contido, é obrigado a se tornar padre, enquanto o outro, violento e audacioso, forma uma oposição com ele que estabelece os principais desdobramentos da saga contada em Rio sangue, novo livro de Ronaldo Correia de Brito, publicado pela Companhia das Letras. Essa jornada é composta por três personagens masculinas e três personagens femininas, mas com muito mais narradores.
Criador e diretor do Baile do Menino Deus e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, em 2009 – considerado um dos mais importantes do país -, o escritor e médico cearense propôs com este romance abordar aspectos da formação da identidade brasileira a partir das histórias e dos conflitos vivenciados por essa família, ambientada no interior de Pernambuco durante o período colonial.
Projetando cenários e expondo algumas das principais problemáticas enfrentadas pela sociedade brasileira, que se perpetuam ao longo das décadas e séculos, Ronaldo comenta, através do seu romance, desde a desigualdade social aos jogos de poder e disputas entre famílias. Outro tema recorrente do seu trabalho, presente aqui novamente, são os assustadores índices de feminicídio no Brasil, que fazem do país um recordista mundial na violência contra a mulher. E, compondo o mosaico histórico da obra, é central no romance a complexa e violenta relação dos povos de origem europeia com os povos africanos e indígenas, contada de modo a mostrar e critica a vontade dos homens se impondo através da força.
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Ao longo de sua carreira, Ronaldo publicou peças teatrais, crônicas, contos e romances, senso consagrado pelo Baile do menino Deus, mas com obras relevantes como o infantojuvenil O pavão misterioso, A arte de torrar café, Faca, Livro dos homens, Retratos imorais, Estive lá fora, Dora sem véu, O amor das sombras e Galileia — que venceu o prêmio São Paulo de Literatura e foi traduzido para outras quatro línguas. Em janeiro de 2020, o autor começou a trabalhar em Rio sangue, que busca uma narrativa de caráter épico, com mais de 300 páginas e uma estrutura de narração bastante variada entre a terceira pessoa e distintos narradores personagens.
Crescendo para distintas visões a partir de sua trama principal, o livro intenta um equilíbrio entre a densidade histórica imprescindível para o assunto tratado e a acessibilidade para um público ainda maior do que aquele que o autor já atingiu.
Em entrevista ao Viver, ele descreve as suas principais propostas com a estrutura de Rio sangue. "A história tem trechos passados no Recife, no interior de Pernambuco, no Ceará, na Bahia e ainda no norte de Portugal. Então essas narrativas vão ganhando formatos e atmosferas de acordo com cada lugar. O leitor acompanha uma história dentro de um conceito de comunidades narrativas em que diferentes pessoas tem sua maneira de contá-la. Se há um projeto neste livro foi o de mostrar que nós, na nossa formação como povo, herdamos essa capacidade de contar histórias. Estamos sendo limitado hoje em dia a mensagens curtas de WhatsApp, mas já fomos um povo de comunidades narrativas, portanto, de grandes narradores", destacou Ronaldo.
“Esse livro tem realmente uma jornada épica, que é, inclusive, muito fácil e gostosa de ler. Eu quis muito que o público jovem pudesse ler para refletir sobre a nossa história. Nele, eu tento dizer: tudo isso de que estamos falando existe e sempre existiu, desde o início da nossa invasão. Várias das coisas que acontecem hoje nós conseguimos encontrar ao investigarmos nosso passado, e aqui eu uso a ficção para expor esses rastros. O convite que eu faço ao leitor é para perceber como, na prática, muita coisa permanece igual na nossa sociedade, se soubermos observar e criticar”, completou o escritor.