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''Rainha das Lágrimas'' é um dos principais títulos da Netflix em 2024 (Foto: Divulgação/Netflix) |
Entre as décadas de 1920 e 1960, os Estados Unidos atravessaram sua 'Era de Ouro' no cinema, marcada pela ascensão de Hollywood como epicentro da inovação cinematográfica. Um século depois, enquanto os americanos enfrentam um declínio criativo, a Coreia do Sul emerge como uma potência no campo audiovisual. Impulsionados pelas redes sociais e plataformas de streaming, os K-dramas conquistaram o mundo, dando início a uma nova era de ouro com a 'Hallyuwood'. Hallyu, nomenclatura para “onda coreana”, é um termo essencial para entender o fenômeno cultural do país asiático.
K-dramas, ou dramas coreanos, são novelas que podem ser de romance, terror, suspense, entre outros gêneros. As obras fazem parte do contexto da Hallyu, onde também se compreende as danças e músicas do K-pop, cinema, moda e culinária. Desse modo, é comum que o público de K-pop também seja atraído pelos K-dramas, e vice-versa. “Esse movimento é ainda mais interessante quando você pensa nas questões linguísticas e culturais porque temos fãs se interessando por conhecer melhor não só o seu idol e suas particularidades, mas também outros produtos culturais produzidos pela Hallyu”, comenta Clara Moraes, curadora da Curadoria de Estudos Coreanos - CEÁSIA, instituição vinculada à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Segundo a Fundação Coreana para Intercâmbio Cultural Internacional, o público brasileiro ocupa o terceiro lugar global e o primeiro nas Américas no aumento da audiência de K-dramas. Com o maior catálogo do mercado, a Netflix surfa na onda coreana. No primeiro semestre de 2024, Rainha das Lágrimas, estrelado por Kim Soo Hyun e Kim Ji Won, foi o 20º título mais assistido na plataforma e esteve no Top 10 do Brasil por várias semanas. A expectativa está no retorno de A Criatura de Gyeongseong, que figurou no Top 10 Global de Séries Não Faladas em Inglês da Netflix, no próximo sábado.
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Após sucesso da 1º temporada, ''A Criatura de Gyeongseong'' volta no dia 27 (Foto: Divulgação/Netflix) |
Carla Falcão, de 49 anos, enfrentou depressão, anorexia e bulimia durante a pandemia de Covid-19, mas encontrou conforto quando seu filho caçula lhe apresentou Itaewon Class. “Quando comecei a assistir, me identifiquei com a história do personagem principal, e algo diferente começou a despertar dentro de mim. Aos poucos, comecei a sentir vontade de sorrir e percebi que algo dentro de mim estava mudando”. Atualmente, Carla frequenta a Escola de Língua Coreana do Recife e espera realizar o sonho de conhecer a Coreia do Sul. “Como me apaixonei pela cultura coreana, decidi que essa seria a língua que eu quero aprender.”
Em Pernambuco, o Dia da Cultura Sul-Coreana é celebrado anualmente no último sábado de setembro. A iniciativa foi proposta pelo deputado estadual José Humberto Cavalcanti (PTB-PE), que apresentou o projeto à Assembleia Legislativa. De acordo com a Alepe, a Lei Ordinária nº 15.114/2013 reflete “o aumento da imigração coreana no estado e a difusão de sua história como exemplo de progresso em diversas áreas”.
Em 2022, o Cinema da Fundação/Derby recebeu a Mostra de Cinema Coreano, organizada pela Embaixada da Coreia do Sul e o Centro Cultural Coreano. Desde então, o evento não foi renovado, deixando Recife sem eventos oficiais dedicados à Hallyu. Ao Viver, Cheul Hong Kim, diretor do Centro Cultural Coreano, garantiu o interesse de retomar a presença na capital pernambucana. "Nós planejamos convidar equipes de artistas coreanos para realizarem turnês no Brasil, levando a cultura coreana para outros estados a partir da parceria com instituições culturais e festivais locais”.
Em contato com a reportagem, a organização do KOFF – Festival de Cinema Coreano, iniciativa do Instituto São Paulo de Arte e Cultura (ISPAC), confirmou a possibilidade de trazer o evento ao Recife entre setembro e novembro de 2025. A segunda edição do KOFF acontece de 3 a 9 de outubro na cidade de São Paulo, apresentando mais de 60 filmes, lançados entre 2022 e 2024, nas mostras competitiva e não-competitiva. A abertura será na mesma data da Fundação de Gojoseon, nome dado ao antigo reino que é considerado o primeiro Estado da nação coreana