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Foto: Edison Vara |
Em uma edição simbólica e representativa, sendo o primeiro grande evento cultural no Rio Grande do Sul desde as enchentes que devastaram o estado, o Festival de Cinema de Gramado chegou ao final com a tradicional cerimônia de premiação. O evento ocorrido no sábado à noite e transmitido ao vivo pelo Canal Brasil abriu com uma breve homenagem a Sílvio Santos, falecido no mesmo dia.
Com o júri da competitiva de longas composto por Ansgar Ahlers, Emanuelle Araújo, Liliana Sulzbach, Samuel de Assis e Vania Catani, os Kikitos deste ano foram mais pulverizados do que no ano anterior, que havia consagrado Mussum, o Filmis com seis estatuetas, incluindo a categoria principal. Os sete longas brasileiros da competição deste ano saíram premiados – com o faroeste melancólico e irônico Oeste outra vez prevalecendo como o melhor filme da noite.
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'Oeste outra vez', grande vencedor de melhor filme em Gramado 2024. Divulgação |
Dirigido por Erico Rassi e estrelado por Ângelo Antônio, Babu Santana e Rodger Rogério – que venceu o prêmio de melhor ator coadjuvante – o projeto rodado no interior de Goiás conta a história de dois homens tentando se aniquilar após um deles ter perdido a mulher para o outro. Aclamado pela sua inteligência no trato do tema da masculinidade frágil em um ambiente sem mulheres e pelo formalismo da fotografia (também vitoriosa), Oeste outra vez é fiel ao seu gênero e ao mesmo tempo adaptá-lo ao cenário e questões reconhecidamente brasileiras.
Apesar disso, quem saiu com mais estatuetas entres os longas da competição desta 52ª edição foi Estômago 2: O poderoso chef, sequência do cult-clássico de 2007 novamente dirigido por Marcos Jorge. Mesmo com reações mistas da crítica, o filme ganhou os Kikitos de ator (prêmio dividido entre João Miguel e Nicola Siri), direção de arte, trilha sonora, roteiro e júri popular – uma excelente notícia para a continuação, que já entra em cartaz nesta próxima quinta (22 de agosto). O discurso do ator italiano, que recebeu o prêmio no palco por ele e por João Miguel, que não compareceu ao evento, foi um dos momentos emocionalmente mais fortes da cerimônia. “A gente voltou a respirar. Saímos da época das trevas, quando tentaram aniquilar a arte, a cultura, o cinema, e estamos aqui, todos nós juntos. Mas não acabou. Tem um monte de atores e atrizes aguardando por um grande papel. E tantas funções dentro de um filme que merecem atenção. Cinema é coletivo”, enalteceu Nicola.
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Foto: Edison Vara |
Drama fantástico premiado em Berlim, Cidade; Campo não foi tão contemplado quanto se esperava, mas foi representado pelo prêmio de melhor atriz, para Fernanda Vianna, e venceu ainda o prêmio do Júri da Crítica. Dirigido por Juliana Rojas, o filme é dividido em duas metades que contam diferentes perspectivas femininas sobre migração, luto e busca por esperança, e entra em cartaz nos cinemas já em 29 de agosto.
Único competidor nordestino entre os longas, Filhos do mangue, de Eliane Caffé, ganhou o Kikito de melhor direção e atriz coadjuvante (Genilda Maria). Fechando a competição principal, a comédia ácida O clube das mulheres de negócios, de Anna Muylaert, ficou com um prêmio especial para todo o imenso elenco feminino. Já o thriller dramático Barba ensopada de sangue, de Aly Muritiba, adaptação do livro homônimo de Daniel Galera, foi lembrado apenas com o troféu de montagem, enquanto Pasárgada, a estreia de Dira Paes na direção de longa, levou o Kikito de melhor som.
Na competição dos curtas-metragens brasileiros, Pastrana, de Melissa Brogni e Gabriel Motta, já aclamado no Festival de Brasília, ficou com os prêmios de melhor curta, melhor fotografia e melhor montagem. Outro bem contemplado foi Maputo, de Lucas Abrahao, que ficou com quatro prêmios (direção, direção de arte, prêmio Canal Brasil e menção honrosa). E, apesar de os documentários não terem sido projetados no cinema do festival nesta edição, os competidores foram exibidos no Canal Brasil e o grande vencedor foi Clarice Niskier: Teatro dos pés à cabeça, de Renata Paschoal.