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MÚSICA

Nação Zumbi celebra 30 anos do Manguebeat no Festival Turá neste sábado

Criado para festejar os 30 anos do Movimento Mangue, projeto estreia em Pernambuco no Classic Hall

Publicado em: 24/08/2024 06:00 | Atualizado em: 23/08/2024 19:11

Nação Zumbi renova legado com novos projetos  (Foto: Olívia Leite)
Nação Zumbi renova legado com novos projetos (Foto: Olívia Leite)
No início da década de 1990, um turbilhão de criatividade irrompeu nos mangues do Recife, impulsionado por jovens artistas que, nascidos da lama e do caos, resgataram a identidade pernambucana, antes adormecida. Trinta anos se passaram, e o Manguebeat, longe de ser um movimento do passado, reverbera em diferentes sonoridades e gerações. Neste sábado, às 21h15, no Festival Turá, a Nação Zumbi estreia o projeto MangueFonia em Pernambuco, ao lado de Lia de Itamaracá, Jéssica Caitano, Siba, Cannibal (Devotos) e Fábio Trummer (Banda Eddie), no Classic Hall, para celebrar a longevidade da iniciativa que ousou mudar os rumos da cultura pernambucana, nordestina e brasileira.

Em 1990, o instituto Population Crisis Committee classificou Recife como a quarta pior cidade para se viver no mundo, mergulhada em desigualdade e com sua cultura relegada a um estado de marginalização; Nesse cenário, um grupo de amigos questionava como romper a inércia que aprisionava a capital pernambucana. Como reanimar, libertar e revitalizar a cidade? A resposta veio em forma de um movimento: o Manguebeat. “Era uma reunião de pessoas em prol de chacoalhar a cidade com as veias obstruídas”, define Jorge Du Peixe, vocalista da Nação Zumbi e um dos remanescentes da antiga formação. 

Atualmente, o texto "Caranguejos com Cérebro" de Fred Zero Quatro é visto pela sua aura poética, mas a origem é bem mais prosaica: inicialmente, era apenas material de divulgação para uma coletânea. A imprensa local, porém, interpretou como manifesto e acendeu a faísca que deu origem ao Movimento Manguebeat. Isso despertou uma nova consciência cultural em Pernambuco, refletida em produções audiovisuais como Baile Perfumado (1996), no humor irreverente de Jeison Wallace em Cinderela, a história que sua mãe não contou, e na moda regional do estilista Eduardo Ferreira.

A bordo de um ônibus, Chico Science compôs Da Lama ao Caos (1994) - um retrato cru da desigualdade recifense que, além de marcar a sonoridade do Manguebeat, influencia profundamente a música pernambucana e nacional até hoje. Para Du Peixe, manter a Nação Zumbi em atividade é uma forma de renovar seu legado. "Acho que o manifesto em si, vivo e latente, é o fato de continuarmos fazendo as coisas. Estamos em processo criativo, na feitura de um disco novo. A cada disco, isso se reacende. A cada lançamento, uma nova geração, que não conhecia nosso trabalho, fica curiosa e acaba revisitando toda a discografia desde o começo”. 

Ao mesmo tempo, o vocalista demonstra preocupação com a apatia recifense frente ao predatismo que ameaça a identidade musical da cidade. “Recife sempre foi a capital do brega, mas você pode remover esse título, porque, de tempos em tempos, as coisas se transformam. No entanto, o que vejo são festivais surgindo e desaparecendo, produtores se lamentando, as coisas ficando cada vez mais difíceis, e a camarotização avançando violentamente, seja no Carnaval, seja em outras gestões que abafam a cultura local”, lamenta. Du Peixe celebra a nova geração que, em vez de se render à homogeneização, abraça a diversidade. “Tem gente fazendo coisas interessantíssimas em vários gêneros e subgêneros. Estamos ouvindo, porque somos influenciados por vocês, nos influenciamos no grito, na intenção, na atitude”.
 
Rainha da Ciranda, Lia de Itamaracá faz participação especial na apresentação (Foto: Ytallo Barreto)
Rainha da Ciranda, Lia de Itamaracá faz participação especial na apresentação (Foto: Ytallo Barreto)

Assim como influenciou a cena cultural, a Nação Zumbi também foi moldada por personalidades como Lia de Itamaracá, Rainha da Ciranda, uma das participantes do projeto MangueFonia - que é capitaneado pelos agentes da Afrociberdelia Jorge Du Peixe e Dengue. “Mesmo aos 80 anos, ela ainda consegue incendiar o palco, seja no Brasil ou além-mar. É uma honra para nós, mas também nos influenciamos mutuamente”, destaca o cantor. Além de Lia, outras figuras influentes e amigas, como Cannibal, Siba e Fábio Trummer, vão executar os clássicos que marcaram a história de seus grupos e apontar novas direções. “É por isso que existe o MangueFonia. Estamos todos juntos ali, trazendo nossa nossa perspectiva sonora nessa linha do tempo”, complementa.

Ao longo de três décadas, a Nação percorreu festivais pelo Brasil e pelo mundo, passando por diversas formações. A banda se reestruturou e se reinventou constantemente. Atualmente, Du Peixe e Dengue seguem em carreira solo com outros projetos em paralelo. “É legal se desprender da nave-mãe, que é a Nação Zumbi, dar um rolê e voltar com novas ideias para a criação de um novo disco”, explica o vocalista. Toca Organ, Matias e Da Lua (percussões e tambores da Nação Zumbi), Neilton (guitarra, Devotos) e Vicente Machado (bateria, Mombojó) completam a formação da banda no palco do Classic Hall.

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