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CINEMA

'Estranho Caminho' relembra angústias da pandemia a partir de reencontro de pai e filho

Longa de Guto Parente (diretor de 'Inferninho' e 'Clube dos canibais') mistura drama tragicômico e suspense fantástico para retratar tentativa de reconexão paternal

Publicado em: 01/08/2024 06:00 | Atualizado em: 01/08/2024 10:27

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De volta à sua cidade natal durante o auge da pandemia de covid-19, David (Lucas Limeira), um jovem cineasta, vai até o apartamento do seu pai, Geraldo (Carlos Francisco), com quem perdeu o contato há muito tempo, e pede para ficar hospedado lá durante alguns dias, buscando uma reconexão que parece mais complicada do que ele imaginava. Apesar das tentativas do filho, o pai tem um comportamento frequentemente áspero, ainda que deixe escapar a possibilidade de afeto. A convivência, porém, leva o protagonista a situações inesperadas e inexplicáveis que colocam em dúvida até a sua noção de realidade.

Dirigido e escrito por Guto Parente (Inferninho e Clube dos canibais), Estranho caminho, em cartaz nos cinemas, é ao mesmo tempo um drama cheio de humor melancólico, na maneira como retrata essa interação de pai e filho, e também um suspense de aspirações surreais e abstratas. Apesar desse cruzamento, que é bem mais acentuado no terço final, não ser inteiramente harmônico, o conceito central do filme e os temores que ele reverbera soam bastante verdadeiros, sobretudo devido às interpretações emotivas de Lucas Limeira e Carlos Francisco.
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O diretor começou a trabalhar no roteiro em abril de 2020 como um gesto de reconexão espiritual com seu pai, falecido dois anos antes. Guto Parente, portanto, estava ainda em processo de luto antes mesmo de a pandemia começar e, de certa forma, se coloca no filme como esse jovem cineasta insistindo em uma reaproximação que se mostra fugidia e dolorosa. O medo, a sensação de isolamento e a atmosfera opressiva da realidade quase apocalíptica na qual o mundo entrou estão refletidas no tom sombrio que invade até as cenas mais leves de Estranho caminho – como se os ambientes já estivessem contaminados pelas dores dos personagens.

“O isolamento e a proximidade com a morte que a pandemia instaurou nas nossas vidas naquele momento, seja por pessoas queridas que perdemos ou pelo medo de perdê-las, disparou uma série de processos internos em mim, que me levaram a escrever a história. Ao exibir o filme ao redor do mundo e ter a oportunidade de escutar as pessoas e seus relatos, venho descobrindo a força universal que essa trama tão pessoal da minha relação com meu pai possui”, destacou Guto Parente em entrevista ao Viver. 

O cineasta falou ainda sobre sua relação com o cinema de gênero, já que seu último longa foi um trabalho mais frontal de terror e esse aqui apenas flerta com essa ideia, partindo do drama fantástico que perdura a maior parte da projeção. “Gosto de fazer cinema de gênero porque adoro assistir. É uma paixão de infância, que remete à minha primeira cinefilia, marcada pelo hábito de alugar fitas VHS perto de casa. Gosto do desafio de pensar novas formas de navegar pelos gêneros, tentando trazer para a minha realidade e para o meu contexto, provocando com esse deslocamento algumas fissuras e estranhezas que sejam singulares. São apostas, com seus riscos, erros e acertos”, explicou. 
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Ainda que o fator pandêmico seja fortemente sentido em Estranho caminho, a universalidade da relação proposta pelo filme é capaz de sustentar a experiência para bastante além dessa temporalidade. Guto Parente concluiu a entrevista falando sobre esse amadurecimento do filme desde a sua concepção em 2020. “É muito interessante, depois de um ano rodando em festivais, conseguir perceber o filme crescendo no tempo. É quase como se cada vez mais ele ganhasse um valor de documento histórico, apontando para o absurdo e o terror de situações que fomos obrigados a viver, evocando e recriando a memória que temos desse período. Ao mesmo tempo, o filme é sobre esse reencontro de pai e filho e não sobre a pandemia. Um encontro que atravessa o tempo.”
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