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CINEMA

Documentário destrincha vida de Mestre Biu, ícone do cavalo-marinho

Mestre Biu, Estrela de Ouro, do cineasta argentino Gualberto Ferrari, conta a história do fundador do Cavalo-Marinho Estrela de Ouro de Condado

Publicado em: 17/08/2024 06:00

Mestre Biu é imortalizado em filme-documentário (Foto: Reprodução)
Mestre Biu é imortalizado em filme-documentário (Foto: Reprodução)
No universo da cultura popular nordestina, o mestre é uma figura central de orientação e referência para os brincantes. Quando se trata de Mestre Biu Alexandre, a definição parece subestimar a imensidão do legado que ele deixou para seus discípulos do Cavalo-Marinho Estrela de Ouro. Essa dimensão é explorada pelo cineasta argentino Gualberto Ferrari no filme-documentário Mestre Biu, Estrela de Ouro, produzido e filmado na Zona da Mata Norte, Agreste e Sertão pernambucano, além de Igarassu e Olinda, sem financiamento público ou privado. 

A estreia será em Condado, terra natal de Mestre Biu, no próximo dia 24, às 18h30, em frente à sede do Cavalo-Marinho Estrela de Ouro, com a presença da família e amigos. Após a sessão, o grupo se apresenta ao público. As próximas paradas serão em Petrolina (28/08), Garanhuns (30/08), Caruaru (1º/09), Nazaré da Mata (04/09) e Vitória de Santo Antão (05/09). O circuito se encerra no Recife, no Teatro Luiz Mendonça, Parque Dona Lindu, no dia 12/09, às 19h.  Os ingressos, distribuídos uma hora antes, serão gratuitos. Em todas as sessões, haverá um bate-papo com o diretor Gualberto Ferrari na sequência do filme. 

O cavalo-marinho ocupa um lugar de destaque entre as expressões culturais do Nordeste, com grande importância em Pernambuco, particularmente na Zona da Mata Norte. O segredo para manter viva a tradição se baseia na passagem de saberes e técnicas ao longo das gerações. Mestre Biu, Estrela de Ouro retrata a trajetória da família de Mestre Biu, cuja linhagem busca sustento na arte há quatro décadas, começando com o patriarca Mestre Pedro de Quina. O documentário explora seus conflitos internos, muitas vezes dramáticos, e demonstra como o amor pela cultura popular, enraizado desde o berço, tem sido a força que mantém a família unida.

A produção começou em 2006, como parte de um workshop sobre roteiros para retratos de artistas contemporâneos e populares do Brasil. Contudo, o entusiasmo de Gualberto Ferrari pela cultura pernambucana levou a uma concentração maior do estado em seu projeto. “Eu achei que Pernambuco tinha tanta riqueza cultural que não estava suficientemente explorada e era pouco conhecida fora do Brasil, especialmente naquela época”. A pré-seleção abrangeu artistas de diferentes estilos e níveis de reconhecimento, incluindo músicos e artistas plásticos.

A pesquisa ganhou impulso quando Gualberto foi apresentado a Mestre Biu por uma diretora venezuelana que vivia no Brasil. Intrigado, ele viajou para Condado a fim de conhecer o cavalo-marinho de perto, mas o que realmente lhe impressionou foi a profundidade da conexão cultural e humana na casa de Biu Alexandre. “Percebi que a história deles não cabia em um filme de 10 ou 12 minutos, como inicialmente previsto. Achei que essa história rica e complexa, cheia de elementos trágicos e humanos, merecia um longa-metragem”, justifica. 

As filmagens, realizadas entre 2010 e 2013, foram interrompidas por falta de verba. A condição de Gualberto como estrangeiro sem residência fixa no Brasil dificultou a captação de novos recursos para o projeto. Em uma iniciativa quase guerrilheira, Gualberto e seu amigo italiano, o diretor de fotografia Ricardo Pompili, uniram forças. Juntos, reuniram seus próprios recursos e contaram com a colaboração de parceiros locais para hospedagem e transporte. “Foi um filme feito praticamente sem dinheiro, mas com muita paixão e, ao mesmo tempo, com qualidade, pois filmamos com tempo e tranquilidade”. O trabalho foi retomado em 2018 e concluído quatro anos depois.

Numa triste coincidência, em paralelo ao término do projeto, Mestre Biu faleceu em 2022. Gualberto recorda com saudade a complexidade e a importância do mestre, que transcendia o universo do cavalo-marinho de tamanha grandeza. “Era uma figura complexa, com contradições, qualidades e dificuldades dentro da sua história familiar, mas, ao mesmo tempo, um personagem fascinante para o cinema. Sua grandeza e humanização são elementos centrais na obra.”
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