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Foto: Arquivo DP |
Quando o nome de Moraes Moreira (1947-2020) é citado, a rivalidade cultural entre Bahia e Pernambuco fica em segundo plano, especialmente a partir desta sexta-feira (16), com a chegada da exposição "Mancha de Dendê Não Sai", às 18h, ao Paço do Frevo. A escolha do espaço não é por acaso, já que Moraes é onipresente nos carnavais de Olinda e Recife com suas composições que expandiram os limites do frevo. Distribuída pelos três andares do museu, a mostra estará em cartaz até março de 2025, com ingressos e horários de visitação alinhados ao funcionamento do Paço. Porém, excepcionalmente durante todo o dia que marca a abertura, o acesso será gratuito.
Para a noite de estreia, haverá apresentação da Orquestra Frevo do Mundo com o show do álbum Moraes é Frevo, projeto criado pelo músico e produtor Pupillo e pelo produtor musical Marcelo Soares, do Estúdio Muzak, em parceria com o músico Davi Moraes, filho de Moraes Moreira. O show terá Pupillo na bateria e direção musical; Davi Moraes nas guitarras, violão, voz e direção musical; Bráulio Araújo no baixo; maestro Nilsinho Amarante no trombone e regências; Gilmar Black no sax tenor; Adilson Bandeira no sax alto; e Jonatas Araújo no trompete, além das participações de Almério e Ylana. Moraes é Frevo foi lançado este ano com releituras de músicas do baiano.
"Mancha de Dendê não sai" proporciona uma imersão na trajetória do baiano nascido em Ituaçu, na Chapada Diamantina, em 8 de julho de 1947, e como sua vida e obra se entrelaçam com a história da música popular brasileira. No grupo Novos Baianos, ao lado de Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Pepeu Gomes e Baby do Brasil, ele se destacou como um dos visionários na integração de diversos estilos musicais, incluindo samba, rock, bossa nova, frevo, choro e baião. A poesia e a sonoridade de Moraes Moreira acompanham os visitantes ao longo da exposição, em uma atmosfera que espelha a diversidade musical do artista e do Brasil.
Encantado pelo frevo desde a infância em Ituaçu, quando sintonizava as rádios pernambucanas, Moraes foi nomeado cidadão do frevo e ajudou a popularizar sua paixão emplacando sucessos nacionais como Vassourinhas (1979). Desiludido com a mercantilização do carnaval soteropolitano, que se tornou território da Axé Music, concentrou sua carreira em Pernambuco por sete anos, até retornar à cena baiana em 2010. Ele ganhou ainda mais a simpatia dos pernambucanos ao afirmar que os trios elétricos de Salvador foram inspirados pelo bloco de frevo Vassourinhas, pioneiro em levar essa tradição ao carnaval baiano na carroceria de um velho Ford 29, em 1951.
“Tive a felicidade de conviver de perto com Moraes, de ter sua amizade e poder escutar o próprio testemunho dele sobre seu amor pelo Recife e pelo frevo. É imenso meu respeito pela sua arte. Abrir as portas do Paço do Frevo para perpetuar e contar para todas as gerações a história e o legado desse artista brasileiro nos dá muito orgulho. A casa do Frevo será, com grande alegria, a casa de Moraes”, sintetiza Luciana Félix, diretora do Paço do Frevo.
“Trazer o universo de Moraes é falar sobre poesia. Mas como fazer espaços e tempos diferentes coexistirem em uma fisicalidade que sempre será limitada frente à potência criativa do artista? Sem a pretensão de dar conta de tudo que representa a obra de Moraes Moreira, a proposta conceitual busca um gesto de aproximação ao seu mundo”, observa a curadora Renata Mota. “Mesmo quando o barroquismo-visual-carnavalesco toma conta do ambiente, é ainda o som e a palavra que nos importa. Entender sua relação com a música, o futebol, o carnaval, os parceiros é necessário para entender o território em que seu processo criativo acontecia”, acrescenta.
OBSERVATÓRIO
Amanhã, o Paço do Frevo segue no embalo do tempero baiano com uma edição especial do "Observatório do Frevo" dedicada a Moraes Moreira. Sob o tema "Temperado no Dendê: o Frevo de Moraes Moreira", o evento acontece às 15h, com a participação de Cecília Morais, filha do homenageado e psicanalista, e do músico Silvério Pessoa. A discussão abordará a contribuição de Moraes para o frevo, duas forças que ecoam das ladeiras de Olinda para o mundo.