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Notícia de Divirta-se

FESTIVAL DE GRAMADO

Anna Muylaert fala sobre processo criativo de seu novo longa

"Esse filme é uma espécie de grito de revolta", afirma a diretora de 'Durval Discos' e 'Que horas ela volta', que já está com um novo filme para 2025

Publicado em: 13/08/2024 13:07

 (Foto: Mantheus Zanchet)
Foto: Mantheus Zanchet
Centro de discussões acaloradas e revelações fortes no 52º Festival de Cinema de Gramado, o filme O clube das mulheres de negócios, de Anna Muylaert - cineasta de Durval Discos, É proibido fumar e Que horas ela volta? -, é uma comédia absurda que traz de volta elementos do início da filmografia da diretora, adicionando as tensões sociopolíticas dos últimos anos. 
 
Na trama, que busca uma inversão satírica de papéis de poder, um grupo de mulheres milionárias participam de uma sociedade com finalidades cada vez mais imorais e se encontram em uma enorme casa de campo da presidente do clube para uma reunião. Quando o neto da líder vai até o local para fazer entrevistas com as integrantes e fica sabendo que as onças presas no local foram soltas, acontecimentos comicamente bizarros se desenrolam e fortes revelações vêm à tona, instalando o caos no lugar.

O clube das mulheres de negócios foi exibido em competição em Gramado, onde estavam presentes a diretora e roteirista e todo o enorme elenco, que inclui Irene Ravache, Cristina Pereira, Polly Marinho, Louise Cardoso, Katiuscia Canoro, Grace Gianoukas, Raffa Vitti e Luis Miranda. 
  
Confira a entrevista exclusiva completa concedida por Anna Muylaert ao Viver:
 
A cada filme que você faz, temos a sensação de uma tentativa de mudança ou de subversão da forma do seu cinema. Entre o Que horas ela volta? e Mãe só há uma, um mais formalista e outro mais livre, isso fica bem evidente isso, por exemplo. E agora ocorre de novo com O clube das mulheres de negócios de forma ainda mais gritante.
 
"Pois é, eu estou sempre buscando questões urgentes dentro de mim a cada filme, na verdade. Não dá pra ter o controle de parar e dizer: 'vou fazer isso, vou fazer aquilo'. As coisas vão acontecendo ao meu redor e eu vou absorvendo de uma forma ou de outra. No caso desse filme, a gente estava muito inflamado, as mulheres, então, muito inflamadas e tudo estava muito intenso com relação ao movimento #metoo quando o argumento surgiu, por volta de 2015. E de lá pra cá, essa tensão política e social só fez crescer mais e mais, primeiro com a queda da Dilma em 2016, depois com a ascensão da extrema direita, a partir de 2018, e em seguida ainda veio o horror da pandemia. Quando o filme foi filmado, em 2022, estávamos no meio do período eleitoral, então vejo o filme como uma espécie de grito de revolta mesmo, acho que ele tem uma coragem muito grande."

Em que medida todo o turbilhão de acontecimentos políticos do período mobilizou aspectos da produção do filme?
 
"Por conta de todo o contexto, é um filme que acabou não sendo tão formalista quanto o Que horas ela volta?, o meu filme de maior sucesso; poderia ter sido, mas não foi. O fato é qie ele é o que é. Sem dúvida é o mais ousado que já fiz, o mais perigoso e difícil de fazer também. Muita gente pode me odiar a partir dele. Mas acho que é reflexo justamente dessa temporalidade: eu nunca tinha vivido também um momento como esse, de 2016 a 2022. Na época do Que horas, por exemplo, o Brasil era outro totalmente diferente e revelamos algo que estava ali por baixo. Não tem como fazer de novo aquele filme, mesmo que as pessoas fiquem esperando. Agora já estamos em outro momento, ainda de muitas dificuldades, mas de fato outro momento. Meu próximo filme, o A melhor mãe do mundo já é doce, tem um diálogo maior com o Que horas, nesse e em outros sentidos também."
 
Como foi controlar um elenco tão grande como esse e tantos diferentes tons (da comédia absurda ao quase filme de horror)?
 
"Filmes de lugares fechados, como alguns desses que eu já fiz, são sempre mais fáceis de gravar. Esse, que se passa em uma locação aberta e muito maior, com um elenco gigantesco, foi um desafio enorme no sentido do fazer mesmo. Foi tudo feito no sufoco e são muitas cenas pra gravar. Se fosse na ginástica, poderíamos dizer que a nota de dificuldade desse é muito maior do que a dos outros, então, e é possível que o resultado não seja tão formal como o próprio Que horas, que já tinha uma nota de dificuldade mais baixa e corria menos riscos. E eu acho isso muito bom, inclusive quando provoca divisão. É muito melhor do que algo seguro que as pessoas já sabem o que esperar. É com certeza um filme diferente."
 
O clube tem também um uso pesado de computação gráfica (CGI) a partir de um certo ponto, algo muito caro e desafiador de se lidar no cinema brasileiro, com as condições que a gente tem de gravação, tempo e dinheiro. Como foi lidar com isso nessa intensidade pela primeira vez?
  
"Alceu Baptistão, responsável pelo CGI do filme, é meu amigo há muito tempo e tem uma história que mostra bem como a vida é louca: quando estudávamos juntos, eu fiquei uma madrugada inteira fazendo uma pose com um sabre de luz pra ele fazer um trabalho gráfico. Anos depois, ele virou o dono da Vetor Zero, que é a maior do Brasil no ramo dos efeitos visuais e da computação gráfica. Quando comecei a fazer o filme, liguei pra ele e falei: 'preciso de você nesse projeto', e ele fez praticamente a custo zero algo que é caríssimo e muito complicado de se executar. Foi um parceiro incrível e é a melhor pessoa do Brasil pra fazer esse trabalho. E nada me deixou mais feliz do que ouvir a Maria do Rosário Caetano, na coletiva, perguntar se eram onças de verdade ou não."
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