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Notícia de Divirta-se

CINEMA

A cosmologia indígena

'A queda do céu', que mostra ritual mais célebre dos povos Yanomami, entra na seleção da Quinzena dos Realizadores, mostra paralela do Festival de Cannes

Publicado em: 19/04/2024 10:38

 (Filme será exibido na Quinzena dos Realizadores de 2024, mostra paralela ao Festival de Cannes.)
Filme será exibido na Quinzena dos Realizadores de 2024, mostra paralela ao Festival de Cannes.
Com estreia mundial recentemente marcada para a Quinzaine des Cineàstes (Quinzena dos Realizadores) de 2024, mostra paralela ao Festival de Cannes que promove a descoberta de cineastas independentes e contemporâneos de destaque, o filme brasileiro A queda do céu mostra a festa Reahu, ritual funerário considerado a cerimônia mais importante dos Yanomami, que reúne centenas de parentes dos falecidos com o propósito de apagar todos os rastros do ente que se foi e, desse modo, colocá-lo em esquecimento. O documentário, que tem direção de Eryk Rocha (filho de Glauber Rocha) e de Gabriela Carneiro da Cunha, busca um diálogo com aclamado livro homônimo escrito por Davi Kopenawa, xamã Yanomami e liderança indígena mundial, e pelo antropólogo francês Bruce Albert.

Enquanto o livro apresenta três eixos fundamentais – convite, diagnóstico e alerta –, o filme parte dessa estrutura para apresentar o universo do povo Yanomami, o mundo dos espíritos Xapiri, a problemática do garimpo ilegal e suas implicações atuais, o trabalho dos xamãs para segurar o céu e curar o a terra das doenças criadas pelos não-indígenas, entre outros temas caros à obra. Acompanhando o importante ritual fúnebre que mobiliza a comunidade de Watorik, A queda do céu faz uma crítica contundente aos chamados por Davi de “povo da mercadoria”, assim como a mistura mortal de epidemias trazidas por pessoas de fora (males chamados por eles de epidemias “xawara”).

Ao Viver, Eryk e Gabriela falam sobre a importância de vozes indígenas contarem suas histórias e participarem do processo de criação audiovisual. “Somos não só grandes admiradores de realizadores indígenas como Morzaniel Iramari, Alberto Alvares Guarani, Takumã Kuikuro, Isael e Sueli Maxakali, como somos produtores de alguns filmes Yanomami de jovens realizadores que fazem parte da equipe do filme, e ao longo do processo realizamos oficinas de filmagem e montagem para que filmes dirigidos por eles fossem realizados. Três curtas metragens foram realizados - Thuë pihi kuuwi - Uma Mulher Pensando e Yuri u xëatima thë - A Pesca com Timbó, de Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami, além de Mãri Hi - A árvore do sonho, de Morzaniel ramari”, comenta a dupla de diretores.

“A relação dos povos indígenas com o cinema nos mobiliza, principalmente pela potência da relação que alguns povos tem com a imagem. Em um momento do mundo em que a relação do povo não indígena com a imagem se tornou algo banal, o cinema tem muito a se fortalecer nessa relação com os povos indígenas. A cosmologia Yanomami, o mundo dos xapiri e o xamanismo são um grande e infinito cinema. O filme vem sendo sonhado e tecido junto com Davi Kopenawa, com a comunidade de Watoriki e com a Hutukara Associação Yanomami há sete anos.”
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