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Foto: Divulgação |
Algo no passado de Grace (Jena Malone) enterrou completamente qualquer resquício de crença religiosa que ainda lhe pudesse restar. Apesar de uma inexplicável sensação de proteção e de visões a que insiste em atribuir racionalidade, a oftalmologista tem aversão a tudo o que foge da ciência e não faz questão de esconder isso. Longe de seu irmão caçula há muitos anos, ela recebe a notícia de que ele foi encontrado morto no convento onde vivia na Escócia e a polícia investiga tanto a possibilidade aparente de suicídio quanto de homicídio. Inconformada com o andamento das investigações e desconfiando permanentemente de obstrução por parte da Madre Superiora (Janet Suzman), Grace se une ao Padre Romero (Danny Houston) para entender o que de fato cerca aquela região, cujo histórico envolve uma sucessão de mortes mal explicadas.
Dirigido por Christopher Smith (Triângulo do medo) a partir de um roteiro também de sua autoria, O convento, em cartaz, tem duas vantagens, mas nenhuma é exatamente mérito próprio. A primeira é a presença comprometida dos três atores com maior presença de tela, sobretudo Jena Malone, que dão o máximo de dignidade a personagens escritos a duas linhas. É tamanha a falta de personalidade da protagonista que, no pouco tempo que despende para seu desenvolvimento, o filme a trata como mero objeto de revelações – e é por isso que é válida a menção ao esforço da atriz para que Grace se torne minimamente relacionável.
A segunda vantagem é a duração de pouco mais de uma hora: para um terror com desdobramentos tão genéricos – em que os flashbacks já representam uma coleção de banalidades sobre trauma, assassinato, interferências sobrenaturais na infância –, é produtivo que a montagem não perca tempo tentando simular algo que está fora de seu alcance. E, justiça seja feita, O convento passa rápido suficiente para não ofender fãs de terror e se movimenta com dinamismo necessário para quase convencer o espectador de que algo verdadeiramente interessante está acontecendo (não está).
Na prática, porém, essa velocidade é menos um êxito criativo e mais uma espécie de contenção de danos. A falta de apreço por qualquer um dos clichês de que ele se utiliza deixa o filme não apenas inofensivo como formalmente pálido.
Não existe interesse na ambientação, curiosamente filmada na Escócia e com cenários vastos e sombrios que poderiam ser bem explorados. Não há atmosfera de ameaça porque a ideia de verdadeiro de perigo é constantemente nula – e o projeto definitivamente não tem vocação, calma ou refinamento para o terror psicológico ou sugestivo. Tampouco existe a mínima preocupação com a construção gráfica, já que as cenas de violência são escuras, limpas e curtas.
O uso exaustivo dos lugares comuns não é necessariamente o maior fruto de incômodo aqui – grandes filmes do gênero dos últimos anos construíram sequências memoráveis sem precisar subverter nenhum deles, pelo contrário: valendo-se da fé irrestrita ao seu potencial de entretenimento. Quando um filme tem vergonha até mesmo de usar e abusar de suas possibilidades enquanto terror, é difícil que ele resista a sequer alguns dias na memória. Daria até para argumentar que a falta de fé de O convento em si mesmo reflete a única característica legível da personagem principal, mas o que Jena Malone faz por ela é bem mais do que a direção e o roteiro do filme ensaiam em fazer ao longo dos acertadamente breves 80 minutos de projeção.