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MÚSICA

Pernambucana Doralyce desafia poder hegemônico e convoca 'revolução afetuosa' em novo disco

Publicado em: 20/06/2023 11:30 | Atualizado em: 20/06/2023 11:52

Dassalu é o quarto álbum da cantora pernambucana (Crédito: Bea Salgado)
Dassalu é o quarto álbum da cantora pernambucana (Crédito: Bea Salgado)
Uma revolução afetuosa que contempla música, autoamor, afrofuturismo e a emancipação da mulher e da população negra. Este é um breve resumo da filosofia Dassalu, transformada em arte pela cantora e ativista pernambucana Doralyce no disco homônimo, lançado no início de junho, como forma de denunciar a marginalização de pessoas com deficiência, pretas, LGBTQIAPN+ e pobres.

Dassalu é derivado do Manifesto de emancipação afrolatino da decolonização do pensamento ao afrofuturo, escrito pela própria Doralyce enquanto planejava um novo projeto musical. Depois dos sucessos “Miss Beleza Universal” (2018) e a versão feminista de “Mulheres” (2018), a artista criada na região da Zona da Mata, em Palmares, se conecta com sua herança cultural ao entrelaçar o idioma iorubá nas composições, enquanto aborda a espiritualidade dos orixás e levanta reflexões sobre as injustiças sociais ao longo de nove faixas.

“Eu sou a única cantora que canta sobre a Reforma Agrária”, destaca em entrevista ao Viver. Doralyce, ressalta ela, continua desafiando os paradigmas de uma indústria musical tomada pela superficialidade. Na sua interpretação de “Mulheres”, canção popularizada por Martinho da Vila, ela ressignificou as batidas de funk com a intenção de romper a narrativa machista que, muitas vezes, acompanha o gênero. A música, no entanto, foi retirada das plataformas digitais a pedido de Toninho Geraes, compositor da versão original. "Continuarei usando minha voz para combater o machismo e fortalecer outras mulheres”, afirma.
 
Doralyce imprime referências árabes, africanas e da cultura popular brasileira (Crédito: Bea Salgado)
Doralyce imprime referências árabes, africanas e da cultura popular brasileira (Crédito: Bea Salgado)
 
Com influências de Original Olinda Style (2003), da Banda Eddie, Dassalu combina elementos do afropop, pop latino, nova MPB, pagotrap, R&B, pop, hip hop, salsa bregadeira, trapfunk, downtempo e chill out. Um encontro de diferentes ritmos e culturas que consolida o repertório diversificado de Doralyce. "Meu disco é profundamente influenciado pela sonoridade house nagô, pelas influências árabes e muçulmanas”, ressalta. A pernambucana também faz reverência às mulheres cujo legado questiona o discurso tradicionalmente aceito, entre elas Rosa Parks, Bell Hooks, Lélia Gonzales e Marielle Franco.

Incorporada de última hora ao disco, Ewa é a faixa mais tocada desde o lançamento. Oriunda da tradição iorúba, na Nigéria, Ewa, ou Yewá, é uma divindade feminina venerada no Candomblé que possui o dom da vidência. Em Dassalu, Doralyce faz suas preces à deusa para que “faça amor levando arte em toda parte”. Uma música que rompe as barreiras do mundo material e espiritual - e a rotulação de “sucesso” estabelecido pelo formato comercial. “Eu não esperava essa repercussão. Foi um experimento individual, mas muita gente se identificou”, revela.

Na visão da cantora, a ruptura da música convencional proposta por ela não tem o reconhecimento à altura no Brasil, diferentemente do exterior. Três pesquisadoras dos Estados Unidos já a abordaram para explorar a temática. “É meio decepcionante ver que a minha música, que foge dos padrões estabelecidos, não é tão valorizada aqui no Brasil igual a lá fora”, lamenta. Segundo a pernambucana, trata-se de uma ação orquestrada para ofuscar a ascensão de artistas que fogem à regra engessada. “É proposital. Querem limitar o alcance de quem inova e se destaca”, acrescentou Doralyce.
 
 (Guilherme Kastrup, ex-produtor de Elza Soares, trabalhou com Doralyce)
Guilherme Kastrup, ex-produtor de Elza Soares, trabalhou com Doralyce

Atualmente morando no Rio de Janeiro, a artista confirmou o espaço reservado para o Recife no cronograma da próxima turnê - sem cidades e datas anunciadas. “Tenho saudade de fazer som aí. Com certeza vamos voltar e nos encontrar”, assegura. Dassalu tem apoio do Rumos Itaú Cultural, distribuição pelo selo Colmeia22 - encabeçado pela cantora - e produção de Guilherme Kastrup, que esteve à frente dos discos A Mulher do Fim do Mundo e Deus é Mulher, de Elza Soares.
 
Tracklist:
  1. Fúria
  2. Dassalu 
  3. Dito pelo não dito 
  4. Eu disse basta
  5. Ventos de Oya
  6. Plexo Solar
  7. Tão Bem
  8. Antes de nascer o sol
  9. Ewa
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