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CINEMA

'Air: A História por Trás do Logo' tem grande elenco e narrativa funcional, mas conflito central oco

Publicado em: 06/04/2023 12:40

 (Matt Damon interpreta Sonny Vaccaro, responsável pela criaçãO DO famoso tênis Air Jordan. Warner/Divulgação.)
Matt Damon interpreta Sonny Vaccaro, responsável pela criaçãO DO famoso tênis Air Jordan. Warner/Divulgação.
Passando por uma baixa considerável nas vendas e ficando para trás no segmento de calçados esportivos, a Nike do começo dos anos 1980 decidiu incumbir Sonny Vaccaro (Matt Damon), autointitulado caça-talentos, de encontrar os atletas perfeitos para assinar contrato com a empresa e representá-la no ramo do basquete. O executivo, que estava já há algum tempo desacreditado pelos colegas do trabalho, arriscadamente insistiu para que todo o capital disponível fosse investido em apenas uma pessoa: o então jovem Michael Jordan.

Apesar da resistência inicial do cofundador Phil Knight (Ben Affleck), Sonny seguiu obstinado na complicada missão de convencer o atleta, por meio da sua mãe, Deloris Jordan (Viola Davis), a aceitar a proposta oferecida pela empresa em detrimento das outras gigantes que disputavam seu nome no período, a Adidas e a Converse. Os bastidores da negociação colocaram em xeque a posição de várias pessoas que trabalhavam na Nike, mas, como já é sabido, levaram não só à criação de uma das mais populares linhas de tênis da história, a Air Jordan, como a um salto de vendas inacreditável para a companhia.
 (Ben Affleck dirige o filme e estrela como o cofundador da Nike, Phil Knight. Warner/Divulgação)
Ben Affleck dirige o filme e estrela como o cofundador da Nike, Phil Knight. Warner/Divulgação
Em cartaz nos cinemas, Air: A história por trás do logo começa alternando entre a ficcionalização e imagens reais, gravações e músicas dos anos 1980, mas, sem abandonar essa cuidadosa reconstrução de época, não demora para introduzir o protagonismo de Vaccaro e estabelecer sua personalidade honesta e instintiva, com senso de humor e gestos desleixados. E Matt Damon, já experiente nesse tipo de humanização convencional, é suficiente para que a tensão dramática envolta no filme soe mais carregada do que de fato é – ainda que, justiça seja feita, o elenco inteiro se dedique bem a isso, em especial Viola Davis (escalada a pedido do próprio Michael da vida real).
 (Viola Davis intterpreta Deloris, mãe de Michael Jordan, escalada a pedido do próprio atleta. Warner/Divulgação.)
Viola Davis intterpreta Deloris, mãe de Michael Jordan, escalada a pedido do próprio atleta. Warner/Divulgação.
Retornando à direção seis anos após o fracasso retumbante de A lei da noite, Ben Affleck volta aqui à objetividade formal e narrativa que marcou o maior sucesso de sua carreira de diretor, o drama político Argo, vencedor do Oscar de melhor filme em 2013. Sua participação como o narcisista e cheio de manias Phil Knight – em contraste com a figura relacionável de Vaccaro – é pensada na medida entre a caricatura e a humanização para que a obra não caia no completo deboche nem pareça, por outro lado, uma propaganda descarada. Os esforços em busca desse equilíbrio envolvem também a escolha de não escalar nenhum ator para viver Michael Jordan, cujo rosto nunca é visto ao longo do filme e, portanto, é tratado como lenda inalcançável.

Ainda que Air seja visualmente enfadonho demais para uma campanha publicitária, seus códigos de caracterização – ao exemplo na forma como os escritórios dos concorrentes parecem paredões impessoais – não o deixam mentir. A mitificação do atleta sem a face revelada e o aspecto bagunçado da sede da Nike, assim, não conseguem esconder que o grande conflito do filme é se uma empresa multimilionária vai ou não conseguir lançar um novo grande sucesso – e, sabidamente, não existe tensão genuína quando todos já sabem o final do trajeto. O endeusamento de um produto pode não ser encarado como problema a depender de cada visão de mundo, mas a tentativa de desviar a atenção disso com uma dramatização oca é um pepino que nem a sagacidade de Vaccaro conseguiria resolver.
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