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CINEMA

Exuberante e escatológico, 'Babilônia' mergulha na depravação de Hollywood em tom de 'filme-testamento'

Publicado em: 24/01/2023 10:00 | Atualizado em: 23/01/2023 23:15

 (Diretor Damien Chazelle, de Whiplash e La La Land, filma com energia maníaca longa protagonizado por Margot Robbie, Diego Calva e Brad Pitt. Paramount/Divulgação.)
Diretor Damien Chazelle, de Whiplash e La La Land, filma com energia maníaca longa protagonizado por Margot Robbie, Diego Calva e Brad Pitt. Paramount/Divulgação.
O fim do cinema vem sendo decretado por teóricos desde quando estava apenas começando. Nascido e evoluído a partir da tecnologia, ele entra em crise existencial a cada revolução na sua forma e no seu modo de distribuição – o que já ocorreu diversas vezes e, num contexto de pós-pandemia e dominação do streaming, acontece hoje mais do que nunca. A mais emblemática virada, porém, foi a transição para o cinema sonoro, que transformou o modus operandi das filmagens, implementou novos conceitos de narrativa e jogou fora muita gente no processo. É nesse intervalo de tempo, entre o final da década de 1920 e início dos anos 1930, que Babilônia, em cartaz, dedica suas mais de 3 horas de duração.

A história se divide em três protagonistas fictícios inspirados em ícones do período: Nellie LaRoy (Margot Robbie), jovem aspirante a atriz, Jack Conrad (Brad Pitt), rico e famoso ator já estabelecido, e Manny Torres (Diego Calva), imigrante mexicano que sonha em trabalhar em um set de filmagens. Várias outras personagens vividas por curtas participações de nomes de peso estão presentes para representar distintas figuras da Era de Ouro de Hollywood (desde os músicos e dançarinos até a crítica).

Resultado de um projeto idealizado por Damien Chazelle (Whiplash e La La Land) há mais de uma década, Babilônia compra no atacado todo o imaginário de depravação que se tem dos anos 1920 – fase de intensa euforia econômica e efervescência cultural nos Estados Unidos - trabalhando com o arco célebre da ascensão e queda em uma energia visual maníaca e quase sem censura. Com La La Land, Chazelle se tornou o mais novo cineasta a vencer o Oscar (aos 32 anos) e isso explica bem o tamanho da liberdade criativa concedida pelo estúdio para este seu ambicioso longa, que já abre com a diarreia de um elefante e culmina numa gigantesca sequência orgiástica com direito a tudo que se possa imaginar.

Mostrar a insanidade nos bastidores da produção cinematográfica da época é a obsessão da frenética primeira metade de Babilônia, que cria algumas passagens de montagem virtuosa, gigantesco e exuberante design de produção e, sobretudo, poderoso valor de entretenimento. As referências são múltiplas (sendo a principal o clássico Cantando na chuva, que trata do mesmo período histórico) mas é notável como o filme não se fecha nos espectadores que dominam o tema e consegue captar a magia universal de ver a beleza da imagem impressa valer toda a parafernália.

Apesar de se cruzarem o tempo inteiro, os símbolos representados pelos protagonistas vão enfrentar obstáculos diferentes: estrelas em ascensão verão sua festa desmoronando antes de realmente começar, o ator estabelecido percebe que está ficando para trás e o olhar de fora vivencia o que há de mais grotesco e subterrâneo naquela indústria que cria sonhos a partir de pesadelos, que descarta vidas em nome da eternização de mitos. A faísca incandescente dos primeiros minutos, o humor grotesco e a contagiante trilha sonora se transformam quase em elegia, o que fica claro no de curto-circuito visual que é a última cena.
 
Além da homenagem ao poder perene das imagens e da viagem escatológica pela Hollywood lendária, Babilônia – cujo título já vem carregado de tragédia – soa como um grito de temor em relação a um tipo de cinema que não interessa mais a uma parcela grande do público. Com todo o aporte e confiança que conquistou para si e um curioso espírito de “filme-testamento”, Chazelle aproveita a oportunidade para dobrar a aposta no exagero e filmar como se fosse a última vez. E como filma. 
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