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TEATRO

Janeiro de Grandes Espetáculos terá peça que denuncia extermínio de povos originários

Publicado em: 30/12/2022 15:25 | Atualizado em: 30/12/2022 15:39

 (Crédito: Ne Ropê/Nando Chapetta)
Crédito: Ne Ropê/Nando Chapetta
O encontro entre um jornalista independente e um pajé que teve o filho assassinado é o ponto de partida para uma jornada de cura, resgate e autotransformação. Com roteiro e atuação de Jr. Aguiar e André Zahar, o espetáculo teatral “Në rope - A fertilidade da nossa origem” faz ainda uma denúncia da política oficial de extermínio dos povos originários latino-americanos, ao mesmo tempo que reverencia o xamanismo ameríndio. A peça estreia nos dias 14 e 15 de janeiro, às 19h30, no Teatro Barreto Júnior, dentro da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos.

Dividida em três atos, a obra se inicia na cobertura de um crime brutal ocorrido no coração da floresta amazônica após a invasão de terras indígenas pelo garimpo ilegal. O espetáculo se funda numa pesquisa iniciada a partir de autores indígenas brasileiros como o xamã ianomâmi Davi Kopenawa e o escritor Ailton Krenak. 

O título foi extraído do livro “A queda do céu”: “në rope” é o termo apresentado por Kopenawa ao antropólogo Bruce Albert, traduzido como “princípio da fertilidade da floresta”. Ao longo do processo e de criação, Aguiar e Zahar fizeram entrevistas com pensadores e lideranças como o escritor Kaká Werá Jecupé, o cacique Marcos Xukuru, o cineasta Hugo Fulni-ô e o líder espiritual e artista Nawa Siã Huni Kuin.

Foram revisitados ainda episódios como a Guerra dos Bárbaros no Sertão do Nordeste, o Massacre de Haximu, o bombardeio aos Waimiri Atroaris na construção da Transamazônica, além de crimes mais recentes envolvendo os mesmos atores políticos. A ascensão de Evo Morales na presidência da Bolívia e a luta dos zapatistas mexicanos, por outro lado, trouxeram novas perspectivas e significados ao tema do espetáculo. 
 
Jr. Aguiar e André Zahar reverenciam povos originários e denunciam política oficial de extermínio (Crédito: Ne Ropê/Michelle Assumpção)
Jr. Aguiar e André Zahar reverenciam povos originários e denunciam política oficial de extermínio (Crédito: Ne Ropê/Michelle Assumpção)
 
O processo de criação foi atravessado ainda pelos lamentáveis martírios do indigenista Bruno Pereira e do repórter Dom Phillips no Vale do Javari. Essa tragédia elevou a importância da defesa do jornalismo que é feita, na peça. Por sinal, Zahar e Aguiar, além de artistas, são eles próprios jornalistas profissionais. 

Na peça, André Zahar interpreta Euclides Passos, profissional da mídia alternativa cujo nome faz referência ao grande jornalista e escritor Euclides da Cunha, autor de Os Sertões e Contrastes e Confrontos. Na avaliação do artista, talvez nada seja tão importante, diante das máquinas de fake news e projetos antidemocráticos, quanto falar em verdade e memória.

“O jornalismo é uma atividade que, com todas suas limitações, trabalha com um critério, uma metodologia e uma ética na busca pela verdade. E a verdade, uma vez revelada, nunca deixa de provocar transformações. Por isso, é uma atividade arriscada para quem a pratica, principalmente em regimes autoritários”, frisa Zahar, lembrando que o Brasil é um dos países mais perigosos do mundo para os profissionais da imprensa. “Na essência, porém, o jornalista é um contador de histórias, um historiador do presente”, emenda.

Paralelamente, o espetáculo integra-se ao movimento neoxamânico, que busca a expansão da consciência e o resgate de uma prática espiritual ancestral indissociável da natureza. Jr. Aguiar, que dirige o espetáculo e atua interpretando alguns personagens, afirma que o xamanismo é um sistema de magia de onde nasceu a própria arte, a medicina e a religião: “Tudo que manifesta as forças da natureza parte deste ponto primordial”, explica.

Para Aguiar, a obra é contemporânea ao denunciar o extermínio de um povo. E é,  também, uma arte reveladora, porque evidencia que esse mesmo povo é guardião de uma fertilidade genuína, a realeza de nossa ancestralidade capaz de salvar o mundo e fazer uma sociedade declarar-se indígena com amor. “Fazer arte é expressar nosso tempo, é encarnar sentimentos e ideias que estão latejando no corpo da sociedade. Neste sentido, ‘Në rope’ também é um manifesto de liberdade e justiça”, prossegue.

Diante do agravamento dos fenômenos climáticos extremos, das pandemias e outros sinais do “colapso evidente de nossa civilização” (como diria Antonin Artaud), “Në rope” busca reconhecer, honrar e aprender com a ciência dos povos originários, para que um país e um mundo doentes possam curar-se.
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