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MÚSICA

Baterista Charles Gavin fala sobre a volta dos Titãs aos shows e sua admiração pela cultura pernambucana

Publicado em: 12/12/2022 12:08

 (Foto: Bob Wolfenson.)
Foto: Bob Wolfenson.
Por Marcelo Cavalcante
especial para o Diario

O rock nacional sofreu um forte abalo sísmico no mês de novembro. O primeiro sinal de que o mundo mudaria foi quando os músicos Sérgio Britto, Tony Bellotto, Branco Melo, Nando Reis, Arnaldo Antunes, Charles Gavin e Paulo Miklos mudaram as fotos no perfil do Instagram e fizeram legendas enigmáticas. O suspense estava criado. O planeta parou de girar para os fãs. Dias depois, em São Paulo, o septeto se reuniu para uma entrevista coletiva e anunciar o que parecia ser irreal. A formação clássica dos Titãs, banda ícone do rock brazuca dos anos 80, vai realizar a turnê "Todos ao mesmo tempo agora" - nome que faz referência ao sexto disco de estúdio da banda, lançado em 1991 (Tudo ao mesmo tempo agora) -, que passará por 10 capitais brasileiras em 2023. O começo dessa nova história será contado a partir do dia 28 de abril, no Rio de Janeiro. Recife está na rota. A capital pernambucana vai receber a banda paulista no dia 2 de junho, na Classic Hall. Os fãs pernambucanos já vivem a expectativa desse reencontro e as vendas já estão a todo vapor. Em entrevista exclusiva ao Diário de Pernambuco, o baterista Charles Gavin, que atuou na banda entre os anos de 1985 e 2009, destacou que o desejo de todos os Titãs em se reencontrarem no palco é antigo e isso facilitou que a celebração dos 40 anos de estrada acontecesse da melhor forma. E voltar ao Recife, para Charles Gavin, tem uma representatividade cultural enorme.  

"A nossa relação com Pernambuco, com Recife é muito forte. Primeiro, pelo público que conseguimos criar na cidade, no estado, através dos nossos shows que sempre foram viscerais. Aliás, Recife é uma cidade visceral e não só pelo calor que existe o ano inteiro. Mas pelo perfil cultural que tem a cidade, pela forma que as pessoas se expressam. Adoro ouvir o sotaque do Nordeste, especialmente o de Pernambuco. Todos os shows que lançamos, obrigatoriamente, passamos por aí. E fomos fortalecendo essa parceria", revela Gavin, que ostenta em seu estúdio particular uma bandeira do Estado, que ele considera a mais bonita do Brasil. A parceria ganhou uma proporção ainda maior durante a turnê do álbum Go Back, lançado em 1988. Na manhã do dia do show na capital pernambucana, os integrantes da banda estavam curtindo a praia de Boa Viagem quando se depararam com a dupla de cantadores Mauro e Quitéria. Eles gostaram tanto que gravaram várias canções da dupla. Algo que, naquele momento, parecia esquisito, mas que agradava aos ouvidos. Tanto que o grupo usou trechos das canções como vinheta de abertura e encerramento em duas canções (Miséria e Deus e o Diabo) gravadas e lançadas no álbum de 1989, que foi batizado por um termo usado por Mauro: Õ blesq blom.

Anos mais tarde esse entrelaçamento da banda paulista com o cenário musical pernambucano ficou ainda mais forte com a explosão do Movimento Mangue. Os integrantes dos Titãs, ao lado do saudoso produtor Carlos Eduardo Miranda, montaram o selo Banguela com o objetivo de vasculhar o que havia de mais orginal no rock brasileiro e lançar o trabalho nacionalmente. Uma dessas bandas foi a pernambucana Mundo Livre s/a. Quando tomou conhecimento que o grupo liderado por Fred 04 havia assinado contrato com o selo para lançamento de um CD, Gavin anunciou logo: "Quero produzir essa banda". E, ao lado de Miranda, o baterista deu forma a um dos grandes clássicos da cena Mangue: o álbum Samba Esquema Noise. "A Mundo Livre chamou muito a atenção dos Titãs por ser uma mistura de MPB, rock, Jorge Ben, punk... Quis produzir na hora! Quando entramos no estúdio, percebi que a produção seria demorada, porque a gente precisava de tempo para fazer algo digno da música que eles estavam fazendo. Ficamos três meses de produção e a gravadora não acreditou", conta. Charles lembra que os Titãs tiveram participação intensa na produção do álbum, como empréstimo de equipamentos, logística, além de participações especiais de Paulo Miklos, Nando Reis e até da atriz Malu Mader, esposa do guitarrista Tony Belotto.

Nos bastidores da gravação do álbum Samba Esquema Noise estão encontros memoráveis que vão além das participações dos Titãs no estúdio, como conta Charles Gavin. "Naná Vasconcelos estava ensaiando num estúdio ao lado. Foi o Fred que o viu e convidou para tomar aguardente no bar ao lado. Olha, tomaram várias doses. E depois fomos gravar a sua participação em duas faixas", relembra. As faixas são "Rios, pontes (Smart drugs) e Overdrives" e Musa da Ilha Grande.  Em matérias recentes publicadas nos grandes jornais do Brasil sobre o Movimento Manguebeat, muito se fala do álbum de estreia da Mundo Livre s/a como se fosse uma produção exclusiva de Carlos Eduardo Miranda, o que é um equívoco histórico. "Na verdade, produzimos juntos, um trabalho em parceria. Foram meses de dedicação. Muitas vezes, quando eu chegava da turnê com os Titãs, seguia direto para o estúdio. Um trabalho que sinto orgulho de ter participado. E os Titãs ajudaram muito. Tudo que foi possível oferecer para a Mundo Livre, foi feito", reforça.

SHOWS - Sobre a turnê Todos ao mesmo tempo agora, Charles Gavin revelou que o processo de reencontro aconteceu por conta do desejo de todos os integrantes em tocarem juntos, como uma celebração, um evento especial. Em 2012, quando foram celebrados os 30 anos de carreira, a banda saiu em turnê pelo Brasil para executar na íntegra o clássico álbum Cabeça Dinossauro. Na época, a formação oficial dos Titãs contava com Sérgio Brito, Branco Melo, Tony Belotto e Paulo Miklos. Os demais integrantes participaram da comemoração apenas em um show, realizado em São Paulo. Agora, o septeto está pronto para a temporada de dez shows, que ainda terá um reforço de peso: Liminha, que produziu os principais discos da banda - como os já citados Cabeça Dinossauro e Õ Blesq Blom, e o Jesus não tem Dentes no País dos Banguelas, de 1987. O músico fará as guitarras que provavelmente seriam de Marcelo Frommer, músico importante da história titânica, mas que teve sua vida interrompida em 2001, aos 39 anos, após ser atropelado por uma moto. O retorno da banda é, também, uma homenagem póstuma a Frommer.

"Nós sempre tivemos esse desejo de voltar a tocar juntos, antes mesmo da pandemia. Quando a pandemia surgiu, o mundo parou, sobretudo a comunicação e o entretenimento. Em dezembro do ano passado, retomamos a conversa com a produtora de São Paulo", lembra. O que pesou mais para retardar o reencontro foi a agenda de cada um dos titânicos. Britto, Bellotto e Melo tocam a agenda dos Titãs. Miklos se divide na carreira solo de cantor e a vida de ator, Nando e Arnaldo também fazem shows pelo Brasil. Gavin segue seu trabalho de produção artística, pesquisa, apresentação e produção do programa Som do Vinil, participações em programas esportivos de TV e os shows do projeto Sete Cabeças, em que ele faz releitura de álbuns acústicos. Ou seja, era só questão de sincronia. Afinal, a energia entre eles é intensa. Desde quando se conheceram nas noites paulistanas, no início dos anos 80. "Estamos bem, disponíveis e queremos muito celebrar esse momento tocando nossas canções. É um momento raro, que tem dia e hora para começar e para terminar", diz Gavin.
 
Uma curiosidade que ainda paira na cabeça dos fãs é quanto ao repertório. Com a volta dos sete Titãs, a turnê vai centrar nas canções em que a banda ainda era octeto/septeto? E os sucessos recentes, como ficam? "O repertório foi debatido, escolhido. Mas quando a gente começar a ensaiar, alguns ajustes serão feitos. A ideia é tocar as canções que vão até o momento em que Arnaldo deixa a banda, em 1992 (após a turnê do álbum Tudo ao mesmo tempo agora). Mas é claro que vamos incluir algumas que foram importantes para a banda, como Epitáfio, que é de 2001", adianta Charles. O baterista, assim como todos os integrantes dos Titãs, conta as horas para o início da turnê. E o reencontro com Recife tem um motivo ainda mais especial para quem admira o que é produzido artisticamente na terra do frevo. "A minha relação com a cultura pernambucana é gigante, por toda música que é feita aí. Desde Luiz Gonzaga, Ave Sangria, Nação Zumbi, Mundo Livre, Siba, Quinteto Armorial... Vejo a pujança cultural de Pernambuco sendo levada a sério pelas prefeituras. Entra governo e sai governo, reconhecem essa relevância cultural, bancam projetos. Fazem a economia criativa girar. Acho que é um estado que mais cuida bem da sua produção cultural. Outros estados estão bem atrás de Pernambuco e isso eu posso afirmar com toda certeza. Deveriam se mirar nas gestões de Pernambuco".
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