INTERVENÇÃO

EUA mira no combate à corrupção na América Central para conter migração em massa

Publicado em: 16/04/2021 21:26

 (Foto: IGNACIO MUNOZ | AFP)
Foto: IGNACIO MUNOZ | AFP
Os Estados Unidos visam a combater a corrupção na América Central para conter a migração em massa, disse nesta sexta-feira (16) o emissário diplomático do presidente Joe Biden para Guatemala, Honduras e El Salvador, origem de boa parte da crescente afluência de migrantes sem documentos à fronteira sul americana. 

"A corrupção está impulsionando grande parte da instabilidade e a falta de desenvolvimento que faz com que terminemos com migrações em massa há vários anos", disse Ricardo Zúñiga, enviado especial do Departamento de Estado para o Triângulo Norte centro-americano. 

"Sendo assim, temos um forte interesse em assegurar a estabilidade e o bom governo na América Central e queremos trabalhar com quem tem estes mesmos interesses", afirmou em entrevista à AFP. 

Zúñiga, que viajou na semana passada a Guatemala e El Salvador e se reuniu em Washington com autoridades hondurenhas, disse que os Estados Unidos avançam em seu projeto anunciado de criar uma força-tarefa anticorrupção regional. 

"Vai haver uma força-tarefa liderada pelo Departamento de Justiça e outros parceiros, que assistirá governos e servidores públicos da América Central em sua busca não só de casos específicos que envolvam atos de corrupção, mas de sistemas que ajudem a combater a impunidade e a prevenir a corrupção", explicou. 

"A implementação concreta é algo que vamos negociar com parceiros da região", disse Zúñiga, americano nascido em Honduras. 

Ele destacou que no Triângulo Norte já existem esforços em prol da transparência: na sociedade civil, nas procuradorias e na imprensa independente. 

"Há muito trabalho em andamento, que vamos continuar apoiando através das nossas embaixadas e com a presença dos nossos adidos legais e outros", assegurou. 

A administração Biden quer envolver também o Congresso. 

Zúñiga lembrou que a legislação americana já prevê "ferramentas" para identificar e penalizar as pessoas e entidades envolvidas em atos de corrupção no exterior, como a Lei Global Magnitsky. Também outorga ao Departamento de Estado o poder de negar vistos a indivíduos acusados de corrupção. 

Mas assegurou que o Congresso "estaria disposto a considerar" novas disposições para apoiar quem está trabalhando contra a corrupção na América Central.

"Vítimas da corrupção" 
Segundo Zúñiga, tanto Guatemala quanto El Salvador e Honduras pedem uma "presença forte" e "ajuda" dos Estados Unidos para enfrentar a pandemia de Covid-19, superar a crise humanitária após dois furacões devastadores em novembro passado, e atrair investimentos. 

"Da perspectiva dos Estados Unidos, tudo isso está bem. Nosso trabalho é tentar criar as condições propícias na América Central que ajudem a aliviar não apenas as condições econômicas e sociais, mas também as condições políticas, particularmente no que se refere à transparência e ao trabalho contra os atores corruptos", disse. 

Os países do Triângulo do Norte estariam interessados em trabalhar com os Estados Unidos para combater a corrupção, em particular depois que não se renovaram os mandatos de dois organismos anticorrupção apoiados internacionalmente, a MACCIH com a OEA em Honduras, e a CICIG com a ONU na Guatemala? 

Zúñiga reiterou a "decepção" dos Estados Unidos com o fim das duas missões, cujo trabalho considerou "histórico em termos de identificação de atos de corrupção". 

"Estas duas são decisões soberanas dos governos da América Central e o reconhecemos. Mas também reconhecemos que estas comissões tiveram um apoio popular muito forte. E achamos que isso é importante", disse. 

"Apoiamos as vítimas da corrupção porque nossos próprios interesses também são vítimas da corrupção na América Central", acrescentou. 

Por isso, disse, ao mesmo tempo que faz cumprir as leis contra a imigração ilegal na fronteira, e busca melhorar as vias para a imigração legal, os Estados Unidos precisam "criar e fomentar" as condições que permitam às pessoas construírem "vidas dignas, seguras e prósperas" em seus países. 

É um esforço "difícil" e "a longo prazo", "mas é necessário para o interesse nacional dos Estados Unidos", enfatizou. 

E advertiu: "Estamos perdendo oportunidades". 

Zúñiga ressaltou que o Tratado de Livre Comércio entre os Estados Unidos, a América Central e a República Dominicana (CAFTA-DR, em inglês) representou trocas bidirecionais da ordem de 57 bilhões de dólares em 2018. 

"Pense onde estaríamos em termos de interesses comerciais dos Estados Unidos, em termos de interesses sociais dos Estados Unidos, se buscássemos condições estáveis e prósperas na América Central", disse. 
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