Patrimônio

Restauração do Cruzeiro do Alto da Sé ainda não tem data nem custo estimado

Publicado em: 09/08/2020 18:21 | Atualizado em: 09/08/2020 18:39

Cruzeiro do Alto da Sé foi depredado na madrugada do último sábado (8). Comerciantes vizinhos do monumento questionam fiscalização da prefeitura e da PM. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)
Cruzeiro do Alto da Sé foi depredado na madrugada do último sábado (8). Comerciantes vizinhos do monumento questionam fiscalização da prefeitura e da PM. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)

O Cruzeiro do Alto da Sé, em Olinda, foi depredado na madrugada do último sábado (8). Sem a famosa cruz histórica, erguida em calcário no Século 18 e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a paisagem do conjunto arquitetônico ficou incompleta. Nesta segunda-feira (10), técnicos da Secretaria de Patrimônio e Cultura do município irão começar a avaliar o prejuízo e como viabilizar a restauração do monumento. Por enquanto, não há prazo de recuperação, mas a pasta diz que buscará ajuda para restaurar “o mais rápido possível”. Enquanto isso, comerciantes próximos são taxativos ao avaliar o ocorrido: só quebrou por falta de fiscalização efetiva.

O responsável pelo ato foi identificado rapidamente. Segundo a pasta, ele estaria sob efeito de drogas quando subiu em cima da cruz, que não aguentou o peso e cedeu. Um pedaço do monumento caiu, esmagou dois de seus dedos do pé e quebrou-lhe a perna. Ele está internado no Hospital Miguel Arraes, em Paulista, e deve passar por cirurgia nos próximos dias. As investigações estão sob responsabilidade da Polícia Federal (PF), que aguarda a recuperação do homem para colher seu depoimento.

“Foi um prejuízo para o povo pernambucano, né? Um monumento secular destruído por causa de irresponsabilidade de alguém”, comenta o secretário de Patrimônio e Cultura de Olinda, João Luiz. Ele explica que a equipe da prefeitura recolheu os escombros do cruzeiro ainda no sábado, logo depois da perícia da PF. “Vamos levar para o laboratório de restauro. Os técnicos, com ajuda de arqueólogos, arquitetos, engenheiros e químicos, irão fazer o processo de recuperação da peça para tentar deixá-la nas mesmas características da época”, conta.

O custo e a duração da obra de reparo ainda não foram feitos. “Só depois do levantamento do dano e do estudo dos técnicos que poderemos chegar a esses números. Mas já entramos em contato com o Iphan e o município também está disposto a arcar com o investimento necessário. Vamos fazer uma força-tarefa conjunta para viabilizar o mais rápido possível essa recuperação”, afirma.

“A peça estava em perfeito estado de conservação. Agora, como qualquer construção histórica, feita com técnicas rudimentares, não suporta atos de vandalismo. Não foi projetada para alguém subir em cima dela”, pondera João Luiz, descartando a ideia de que a quebra possa ter sido causada por falta de manutenção adequada. E para ratificar a afirmação, cita a reforma da Igreja de São Pedro. “É um investimento de mais de R$ 1 milhão que estamos tocando. Deve ser entregue no primeiro trimestre de 2021”, aponta.
A obra, tombada pelo Iphan, foi construída em calcário. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)
A obra, tombada pelo Iphan, foi construída em calcário. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)

Fiscalização questionada
Os comerciantes do Alto da Sé são unânimes: a cruz só foi quebrada porque não tinha fiscalização. Dono de uma barraca de artesanato vizinha do monumento, Gilson José da Silva aponta que há inércia do poder público. “Se a Guarda Municipal estivesse presente no momento, talvez não tivesse acontecido. Estamos precisando deles por aqui. E a fiscalização da Polícia Militar (PM) no fim das contas é só decoração. Hoje tem dois PMs aqui, mas de noite não tem ninguém”, lamenta.

Proprietário de uma barraca de doces, André Santana também lamenta a falta de vigilância. “Em partes isso é culpa da prefeitura. Ontem tinha a Guarda Municipal o dia todo, mas no dia anterior não tinha ninguém para cuidar disso aqui. E a guarita da PM, depois das 20h, não funciona. A gente fica sem assistência”, pontua.

A Prefeitura de Olinda e a PM rebatem. “A guarda fica fixada sim no Sítio Histórico. Tanto que o meliante foi descoberto pouco depois de ter depredado. Todo o conjunto arquitetônico é monitorado por vídeo e há as patrulhas móveis, que fazem rondas diuturnamente no perímetro do conjunto arquitetônico. E ter vigilante presencial 24 horas em um monumento é impossível, nenhum lugar do planeta tem. Perceba que nem as grandes cidades do mundo escapam de ataques de vândalos, porque esse elemento só ataca quando tem a oportunidade efetiva”, defende o secretário João Luiz.

Em nota, a PM informa que “diariamente, policiais militares da Companhia Independente de Apoio ao Turista (CIATur) patrulham na região em Guarnições Táticas e em motocicletas, além de contar com equipes do Grupo de Apoio Tático Itinerante que realizam rondas e abordagens no local”. Ainda, a instituição afirma que uma equipe da CIATur flagrou o momento do vandalismo: “de imediato ele foi preso pelo efetivo e levado para UPA da Tabajara e, posteriormente, transferido para o Hospital Miguel Arraes. Em seguida, o suspeito foi encaminhado para a delegacia da Polícia Federal”.

Por fim, a PF reitera as informações já expostas ao longo da matéria. “Ainda não se sabe por qual motivo que levou o homem a destruir o cruzeiro. Um inquérito policial será instaurado e, após receber alta do hospital, ele deverá ser ouvido para prestar esclarecimentos sobre os fatos”. O crime investigado é o de destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico, previsto no artigo 165 da Lei de Crimes Ambientais (9.605/1998). Caso condenado, o homem pode pegar uma pena de seis meses de detenção a dois anos de prisão, além de multa.
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