FUNDAJ

Live debate A Voz da Abolição, HQ sobre a história de Joaquim Nabuco

Publicado em: 03/07/2020 13:20

 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação
O ano de 2010 foi instituído como o Ano Nacional Joaquim Nabuco, marcado por muita celebração ao legado do político, diplomata, historiador, jurista, orador e jornalista recifense. A data firmava os cem anos desde o falecimento daquele que foi peça importante no processo de abolição da escravidão no país, e entre as homenagens estava o lançamento de A voz da abolição, uma biografia em quadrinhos que acompanha a história de Nabuco desde a infância, assinada pelo jornalista, músico e ilustrador recifense Lailson de Holanda Cavalcanti. Passados dez anos, a Editora Massangana relançará a HQ e outras publicações. A reedição será debatida hoje, às 17h, através de uma live com o autor e o jornalista Marcelo Abreu. A editora também fará a apresentação dos títulos virtualmente, sempre às sextas, no canal do YouTube da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).

A HQ era um projeto antigo e quase foi engavetada. “Essa ideia, eu já tinha discutido com a Fundaj nos anos 1990, mas ficou suspenso. Quando chegou o centenário da morte, a Massangana me convidou para retomar. Eu tinha apenas um roteiro básico e, a essa altura, já tinha mais recursos para trabalhar, inclusive a ajuda da internet”, comenta. Foram quatro meses para a execução, sem contar o período do pré-projeto, no qual ele mapeou a linha do tempo, passando pelos personagens principais da vida de Nabuco e pelos cenários por onde o recifense andou, como Rio de Janeiro, Engenho Massangana e a Faculdade de Direito do Recife.

“A minha principal referência foi o diário de Joaquim Nabuco, que era um diário meio agenda. Tive acesso a muitas reflexões e pensamentos. O diário foi o primeiro eixo de pesquisa. Isso foi bom porque eu pude escrever os diálogos com a linguagem dele.” Outro escrito deixado por Nabuco essencial para mapear a história foi o livro de memórias Minha formação, publicado em 1900. Nele, o abolicionista relata seu despertar para a questão da escravidão ainda quando jovem.

O livro remonta quando Nabuco encontrou um garotinho negro que pedia para ser comprado por ele, porque estava prestes a ser vendido para um senhor de escravos conhecido pela crueldade. Ele foi questionar sua madrinha, Ana Rosa Falcão de Carvalho, por que o menino estava sendo vendido e ele não. Ao primeiro lampejo de um questionamento sobre escravidão, Nabuco se viu em uma encruzilhada que o acompanhou pela vida: o da contradição de sua primeira educação dentro do Engenho Massangana, nascido em uma família escravocrata, mas também toda uma construção como intelectual e sua carreira a partir de uma lógica liberal e abolicionista.

Lailson tentou abarcar essas contradições, mas também as histórias pouco contadas, como a fase pós-abolição de Nabuco e, inclusive, seu apoio à monarquia. “As pessoas não sabem o que aconteceu com Nabuco depois da abolição. Mas tem uma outra história, ele era monarquista e contra a República, por exemplo. Ele se recusa a assumir cargos para a República, até aceitar o cargo de primeiro embaixador brasileiro nos Estados Unidos”, comenta.

Para o biógrafo, esse equívoco de Nabuco é parte de um movimento natural da história, de narrativas e apagamentos, que dialogam com o momento de disputa pelo cânone que vivemos hoje. Disputas, inclusive, em relação ao papel de figuras como a Princesa Isabel. “A história é uma narrativa contínua e, a depender do vencedores, ela é contada de um jeito ou de outro. Nabuco não previu que a ruptura da base econômica da monarquia iria acabar quando tirasse a escravidão.”

Processo criativo
Quando Lailson produziu A voz da abolição, já tinha um extenso trabalho com a linguagem. Da formação como publicitário e seu primeiro emprego ilustrando livros de uma escola de inglês do Recife, enxergava uma vocação didática nos quadrinhos. “Sempre usei o desenho de uma forma pedagógica, como uma linguagem que permite você acessar narrativas históricas complexas.”

Por 27 anos, Lailson publicou charges e quadrinhos no Diario, entre eles Pindorama: A outra história do Brasil, que ganhou uma versão em livro. O quadrinista formou uma longa carreira com esse olhar satírico, sempre pautado em pesquisas históricas. Uma curiosidade é que se tornou amigo pessoal do norte-americano Will Eisner e trouxe o lendário artista para o Recife em 2001.

Para a criação de A voz da abolição, o quadrinista teve sua primeira experiência com o desenho digital. “Do ponto de vista artístico, foi interessante porque foi a primeira história em quadrinhos que fiz em uma mesa gráfica.”
 
Lançamentos
Outros lançamentos da Editora Massangana estão agendados para este mês. No dia 10, será apresentada a Coleção Travessias, composta por quatro livros ilustrados por Maurizio Manzo. No dia 17, será divulgada a Coleção Cinemateca Pernambucana, a partir de dois títulos: A brodagem no cinema pernambucano, de Amanda Mansur, e Verouvindo: audiodescrição e o som do cinema, de Liliana Tavares. No dia 24, Roberto Beltrão e Rúbia Lóssio apresentarão o Almanaque pernambucano dos causos, mal-assombro e lorotas. Encerrando o ciclo, no dia 31, Alexandrina Sobreira, pesquisadora da Fundaj, lançará o número 43 da revista Ciência & Trópico, na qual é editora.
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