Transporte

Em audiência sobre metrô do Recife, CBTU reclama de vandalismo e falta de dinheiro

Publicado em: 27/02/2020 15:42 | Atualizado em: 27/02/2020 16:54

Audiência pública aconteceu na sede da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, no Recife Antigo. (Foto: Diogo Cavalcante/DP.)
Audiência pública aconteceu na sede da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, no Recife Antigo. (Foto: Diogo Cavalcante/DP.)
Para a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), os problemas do metrô do Recife estão centralizados em duas faltas: de recursos e de educação da população. Em audiência pública realizada na manhã desta quinta-feira (27), na Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH, responsável pelo Procon de Pernambuco), a empresa negou que o serviço seja ineficiente, diante das condições financeiras em que se encontram. Ainda, reclamou do vandalismo e má-educação de passageiros.

O assessor jurídico da CBTU no Recife, Walter Neukranz, disse que o metrô sofre um processo de “envelhecimento precoce” por falta de maiores repasses financeiros do governo federal: “Há mais de dez anos que esse dinheiro não vem da forma que a gente pede, na Lei Orçamentária Anual (LOA). Não é suficiente tanto para manter a operação num nível do que era no início da operação, quanto para recuperação do sistema”. Para deixar absolutamente tudo funcionando perfeitamente, a CBTU afirmou que seria necessário R$ 1 bilhão - R$ 300 milhões apenas para comprar novos trens. 

O metrô do Recife, hoje, só opera com 24 trens. Sendo que 13 deles rodam desde 1985, ano da inauguração do serviço, ainda no modelo inglês construído pela extinta CISM. As outras 11 são composições mais novas, que chegaram ao sistema entre 2012 e 2013, adquiridas da espanhola CAF. 

A apontada “ineficiência do serviço” foi rebatida por Neukranz: “Não somos ineficientes. A gente está trabalhando sem o mínimo necessário para deixar tudo funcionando. Nossos técnicos se desdobram para operar os sistemas, para que a gente possa ter a melhor opção para comprar peças necessárias, que garantam a segurança do serviço”.

O gerente de Comunicação da CBTU Recife, Salvino Gomes, reforçou que todos os problemas são de conhecimento do governo federal. “Temos feito todos os relatórios. Todas as nossas necessidades são apresentadas, de forma transparente, aos órgãos externos, como o conselho de administração, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), pasta a que estamos subordinados”, disse.
O assessor jurídico da CBTU Recife, Walter Neukranz, disse em audiência que metrô passa por processo de "envelhecimento precoce" (Foto: Diogo Cavalcante/DP.)
O assessor jurídico da CBTU Recife, Walter Neukranz, disse em audiência que metrô passa por processo de "envelhecimento precoce" (Foto: Diogo Cavalcante/DP.)
Salvino também destacou que o vandalismo interfere na operação do sistema, como a quebra de cadeiras, o lixo que fica espalhado nas estações e trilhos e o roubo de cabos. “Nos últimos três anos, gastamos quase R$ 2,5 milhões para recuperar escadas rolantes e elevadores. Hoje mesmo tivemos 60 metros de cabos roubados. A gente faz a queixa, pega as pessoas, mas nunca vi ninguém ser preso por vandalismo em Pernambuco”, apontou.

A reportagem procurou a Polícia Federal, para saber quantos inquéritos foram abertos pela CBTU por causa de vandalismo e roubo de cabos, e o MDR, para se posicionar sobre os problemas financeiros do metrô do Recife. O Diario aguarda um retorno de ambos.

Mais tempo
Para o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, as respostas apresentadas na audiência são “lúcidas, mas insuficientes”. Por isso, o Procon concedeu mais dez dias úteis para a CBTU concluir estudos e responder de forma mais elaborada o órgão. “Neste meio-tempo, vamos estudar um plano de segurança para as estações do metrô; solicitar uma audiência com o Ministério Público Federal, que cabe a ele tomar a frente desse processo; e outra audiência com Ministério dos Transportes, para que o governo do estado manifeste sua preocupação com a gestão dos recursos do metrô”, afirmou o secretário.

“É preciso urgentemente de uma ação política geral, promovida pelos órgãos de controle, como Procon e Ministério Público Federal, para fazer com que os recursos cheguem ao metrô. Não podemos esperar a LOA para melhorar o desempenho do sistema”, acrescentou o secretário.
MPF foi convidado, mas não compareceu à reunião. (Foto: Diogo Cavalcante/DP.)
MPF foi convidado, mas não compareceu à reunião. (Foto: Diogo Cavalcante/DP.)
A audiência pública foi marcada em caráter de urgência, para que a CBTU prestasse esclarecimentos sobre “falhas que vem ocorrendo reiteradamente” no sistema. Somente em 2020, já foram contabilizados cinco problemas com o serviço - o mais grave deles ocorrido em 18 de fevereiro, quando dois trens colidiram dentro da estação Ipiranga, em Afogados, Zona Oeste do Recife. 

“A gente não sabe qual tipo de falha causou o acidente, mas vamos fazer o possível para entregar logo as conclusões. O que podemos afirmar é que nosso sistema de controle de trens está funcionando, de forma eficaz, e existe um centro de controle eletrônico de todas as composições, para garantir a segurança dos passageiros”, pontuou Walter Neukranz.

Dívida
Durante a audiência pública, a CBTU cobrou do governo de Pernambuco o repasse referente à integração de passageiros, que estaria atrasado desde 2013. A empresa alega que 56% dos usuários do serviço são oriundos de ônibus e que, por usarem os terminais de integração, não pagam pelo serviço sob trilhos. Em 2019, o valor total seria de R$ 110 milhões. 

O coordenador jurídico do Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT), Roberto Campo, rebateu. “Esses repasses estão em dia. Em 2019, foram pagos R$ 39.460.664,22. Temos 15 terminais de integração e a parte que cabe ao metrô é repassada”, disse. Os débitos entre 2013 e 2018 não são reconhecidos pelo GRCT: “Isso é objeto de ação de cobrança que foi devidamente contestada e a gente não reconhece”.
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