Câmara

Bolsonaro busca 'rivais', e aliados tentam tornar Eduardo líder

Publicado em: 16/10/2019 23:09

Foto: Nelson Almeida/AFP (Foto: Nelson Almeida/AFP)
Foto: Nelson Almeida/AFP (Foto: Nelson Almeida/AFP)
Apesar de acenar com um discurso de pacificação no PSL, o presidente Jair Bolsonaro tem atuado pessoalmente para atrair para seu grupo congressistas ligados ao atual presidente nacional da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PE).

Segundo relatos feitos à reportagem, aliados do presidente, que participaram de encontro com ele no Palácio do Planalto nos últimos dias, telefonaram para colegas do grupo rival e passaram a ligação para Bolsonaro. A intenção do presidente é convidá-los para reuniões individuais.

Os parlamentares bolsonaristas estão ainda colhendo assinaturas entre colegas para que Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, assuma a liderança da legenda na Câmara dos Deputados.

Ele cumpriria um mandato-tampão até dezembro, quando então, se aprovado para o cargo de embaixador em Washington, se mudaria para os Estados Unidos.

Para isso, os aliados - que hoje somam cerca de 20 dos 53 congressistas do partido - teriam de derrubar Delegado Waldir (GO) do cargo.

Segundo os relatos à reportagem, Bolsonaro está envolvido na negociação. O Palácio do Planalto não comenta.

A temperatura da crise entre o presidente e seu partido aumentou com a deflagração de uma operação da Polícia Federal em endereços ligados a Bivar na terça-feira (15), na esteira da investigação de candidaturas de laranjas, caso revelado pela Folha.

Além disso, na semana passada Bolsonaro disse a um apoiador para que ele esquecesse o PSL e que Bivar está "queimado pra caramba".

Em conversas reservadas, o presidente tem defendido a necessidade de se criar um movimento maior de apoio a ele e que eleve a pressão sobre Bivar para a realização de uma auditoria externa nas contas da legenda.

A ideia tem sido a de usar eventuais irregularidades nos documentos como justa causa para uma desfiliação de deputados da sigla, o que evitaria perda de mandato.

Como a articulação até agora criou um racha no partido que colocou em risco a pauta de votações no Congresso, a ordem do presidente a aliados tem sido de que a movimentação seja feita da forma mais discreta possível e que seja intensificada em novembro, quando ele voltar de viagem oficial à Ásia.

O corpo a corpo do presidente, no entanto, está irritando líderes do grupo ligado a Bivar e elevando a tensão no partido.

"Na verdade, a bancada está água e óleo, e vejo que está acontecendo uma grande preocupação do Planalto, porque eu assumo uma posição extremamente independente, não me ajoelho, não sou empregado do presidente", disse Waldir, que confirmou a articulação do presidente para indicar Eduardo ao cargo de líder.

"O presidente está ligando para cada parlamentar e cobrando o voto no filho dele."

Os membros da bancada ligados a Bivar e a Waldir se reuniram nesta quarta (16) na Câmara para discutir a situação do partido. Participaram ao menos 25 dos congressistas favoráveis à manutenção do presidente da legenda no comando do PSL, mas o próprio Bivar não compareceu.

O grupo afirma que é preciso preservá-lo. Bivar não foi à Câmara nos últimos dias, mas há a expectativa de uma reunião com os membros da bancada em Brasília nesta semana.

Waldir afirmou que o racha começou com Bolsonaro. Para ele, as declarações do presidente são uma humilhação.

"Bastava apenas ele pedir desculpa, mas o presidente não teve a humildade de fazer isso", afirmou.

Na reunião, não houve decisão sobre a expulsão do partido de deputados bolsonaristas, mas membros da cúpula não descartam que isso possa acontecer ainda este mês. Há a expectativa de uma reunião da Executiva Nacional na sexta-feira (18).

O deputado Junior Bozzella (PSL-SP), aliado de Bivar, confirmou que há, sim, uma articulação pró-Eduardo.

"É muito ruim nesse momento o presidente interferir na discussão da liderança do partido. Há um toma lá, dá cá. Isso mostra que o Planalto não tem intenção de pacificar o partido. A luta, está claro, é pelo poder", diz Bozzella.

A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), alinhada a Bolsonaro, afirma que a situação de Waldir na liderança do partido é "insustentável" já que muitos parlamentares não teriam mais nem acesso a ele depois dos desentendimentos entre o presidente e o comandante do PSL, Luciano Bivar.

Mais cedo, apesar da articulação de bastidor, Bolsonaro tentou, em discurso público, colocar panos quentes na crise interna. Ele disse que não quer tomar o controle do partido, que não tem mágoas de Bivar e que não justifica criticá-lo por tentar dividir ou tumultuar a legenda.

"O partido tem de fazer a coisa que tem de ser feita. Normal, não tem que esconder nada. Eu não quero tomar partido de ninguém. Agora, transparência faz parte. O dinheiro é público", disse.

Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse nesta quarta que o plenário da Casa não pode se deixar contaminar pela crise no PSL.

"Briga de partido sempre existe. Não é que seja natural, mas acontece. Briga por espaço politico, por poder, ainda mais num partido com muitos deputados novos, que tem eleições que foram construídas de foram totalmente divergente. O que não podemos é deixar que a crise do PSL contamine o plenário da Câmara", afirmou.

Maia, que tem buscado se consolidar como um protagonista com voz moderada em meio às crises do Planalto, puxou para si a votação da medida provisória de reestruturação da Casa Civil, aprovada nesta terça-feira (15), próxima ao prazo de perda de validade, nesta quarta. "Com toda a briga no PSL, nós garantimos a aprovação da medida provisória."
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