Pernambuco.com
Pernambuco.com
Notícia de Turismo

Intercâmbio

Voluntariado: férias com um significado especial

Unir viagem de lazer a atividades de voluntariado é forma de conhecer lugares e, ao mesmo tempo, crescer como ser humano

Publicado em: 12/11/2018 19:33 | Atualizado em: 12/11/2018 20:13

Programas permitem voluntariado também dentro do Brasil, como no Sertão de Pernambuco. Crédito: Ana Luiza Pira/Divulgação (Crédito: Ana Luiza Pira/Divulgação)
Programas permitem voluntariado também dentro do Brasil, como no Sertão de Pernambuco. Crédito: Ana Luiza Pira/Divulgação (Crédito: Ana Luiza Pira/Divulgação)

Em fevereiro de 2015, a turismóloga Talita Guedes, 31 anos, embarcou para mais um destino de férias. Naquele ano, ela escolheu ir para Kibera, uma das maiores favelas do mundo, onde vivem 1 milhão de pessoas, dentro do Quênia, um país em que a Aids é endêmica. O roteiro não convencional mudou a vida dela para sempre. Depois que voltou, Talita iniciou um projeto social de incentivo à leitura no sertão pernambucano. É assim que costuma acontecer com os chamados “volunturistas”, pessoas que trocam o tempo livre de férias por uma viagem de voluntariado. 

De acordo com a agência CI Intercâmbio, no ano passado houve um crescimento de 15% na procura de programas de viagem de trabalho voluntário, comparado com 2016. A maioria dos interessados são adolescentes e adultos jovens, entre 18 e 30 anos. “Estamos na era da experiência. Há uma procura pelas férias com significado. É uma viagem que pode mudar a trajetória do ponto de vista de valores pessoais e profissionais. É um acesso a um mundo de generosidade”, afirma o presidente da ONG Novo Jeito, da plataforma Transforma Recife e do Porto Social, Fábio Silva.

Na Volunteer Vacations (VV), empresa brasileira dedicada a esse tipo de viagem, as mulheres chegam a ser 90% do público. Perfil que abarca a própria idealizadora e cofundadora da VV, Mariana Serra. “Com 27 anos, comecei a questionar o propósito do meu trabalho em uma multinacional. Conheci o conceito de ‘volunturismo’ e decidi empreender unindo meu amor por viagem e voluntariado”, conta. No primeiro ano de funcionamento, a empresa levou 50 pessoas para projetos sociais dentro e fora do Brasil. Hoje, a média é de um por dia, mais de 300 por ano. 

Os destinos costumam estar fora da curva da rota tradicional do turismo. As opções vão desde atuar no Sertão pernambucano ou numa favela do Rio de Janeiro até a trabalhos com refugiados na Jordânia. As pessoas vão atuar em ONGs parceiras das agências, morando e comendo na comunidade escolhida. “Damos prioridades àquelas organizações que são desenvolvidas por pessoas locais, para o empoderamento delas”, diz Mariana. A VV oferece 19 destinos. Já a CI, sete destinos, sendo o mais procurado a África do Sul. “Existem projetos para cuidar de crianças em orfanatos, para reabilitação de animais domésticos, esportes e atuação em projetos de saúde”, explica a diretora da CI Recife, Larissa Bittencourt. 

Antes de ir, ela recomenda que os voluntários procurem projetos que sejam adequados ao seu perfil profissionais. Na VV, os voluntários são capacitados para que possam causar um impacto efetivo na comunidade e não realizar apenas ações assistencialistas pontuais, mas algo que possa ser continuado pelos voluntários locais. O ideal, explicam os agentes, é que a viagem seja planejada com o mínimo de três a seis meses de antecedência. Além da experiência, a viagem de trabalho voluntário nas férias agrega na formação técnica e na aprendizagem de novos idiomas.
Viagem para fazer voluntariado em Nairóbi, no Quênia - Biblioteca e projeto Kibera Talking. Crédito: Talita Guedes/Arquivo Pessoal (Credito: Talita Guedes/Arquivo Pessoal)
Viagem para fazer voluntariado em Nairóbi, no Quênia - Biblioteca e projeto Kibera Talking. Crédito: Talita Guedes/Arquivo Pessoal (Credito: Talita Guedes/Arquivo Pessoal)
Talita tirou dinheiro da poupança e realizou trabalhos extras para poder ir ao Quênia. “A gente atuou com aulas de reforço em uma creche e de finanças e planejamento estratégico para empreendedores locais. Para mim, foi transformador. Um divisor de águas, percebi que poderia agir muito além de ações de doações de alimento e água”, lembra ela, que criou o projeto de incentivo à leitura Ciranda Sertaneja logo depois que voltou. Com o ciranda, já formou mais de 60 professores, reformou escolas e doou mais de 800 livros a escolas. Hoje, traz voluntários estrangeiros para passar férias ensinando crianças pernambucanas a lerem na cidade de Manari.
 
Universitária ficou diante da realidade do Haiti
Trabalho voluntário no país da América Central, atingido por grandes terremotos, inclui atividades em um campo de deslocados com mais de 250 mil pessoas

A viagem de voluntariado nas férias pode ser combinada com outras experiências, como a realização de cursos de idiomas, visitação a atrativos turísticos locais ou workshops. Pode ser feita de forma individual ou também coletiva, com amigos ou até colegas de trabalho. A estudante de psicologia Bárbara Lima, 21, por exemplo, participou de uma viagem em grupo para o Haiti.  No começo deste ano, ela passou oito dias trabalhando como voluntária em orfanatos e escolas. A VV realiza várias vezes ao ano a Semana VV, dedicada a levar grupos de voluntários ao exterior. Já a CI permite a combinação de viagens com aulas de surf e até a realização de safáris. 

Em janeiro do próximo ano, a VV realizará outra viagem ao Haiti. Dessa vez, além de atuar nos orfanatos de duas comunidades locais, os voluntários participarão de um workshop com o fotojornalista Anderson Stevens. “O intuito é registrarmos todos os pontos da viagem numa visão fotojornalística, contando as histórias. Na volta, a ideia é conseguirmos fazer um livro e uma exposição”, contou Anderson.
Mariana Serra em visita a campo de refugiados no Líbano. Crédito: Mara Jane/Divulgação (Crédito: Mara Jane/Divulgação)
Mariana Serra em visita a campo de refugiados no Líbano. Crédito: Mara Jane/Divulgação (Crédito: Mara Jane/Divulgação)
Para Bárbara, a experiência do Haiti foi surpreendente em vários aspectos. “Esperava encontrar uma pobreza como no Brasil, mas é muito pior. As pessoas não têm direito à luz e água. O governo só dá acesso à luz de madrugada, quando todos estão dormindo. Fiquei impactada com isso, mas também com o fato de existirem pessoas que transformam coisas ruins em leves, como as que atuam nos orfanatos”, explica. 
 
 
Instituições esperam uma mão amiga
Programas permitem voluntariado também dentro do Brasil, como no Sertão de Pernambuco. Crédito: Ana Luiza Pira/Divulgação (Ana Luiza Pira/Divulgacao)
Programas permitem voluntariado também dentro do Brasil, como no Sertão de Pernambuco. Crédito: Ana Luiza Pira/Divulgação (Ana Luiza Pira/Divulgacao)
A viagem ao exterior é apenas mais uma forma de fazer trabalho voluntário, mas é possível dedicar tempo de férias para ajudar o próximo sem precisar sair do país. No Recife, existem dezenas de instituições esperando uma “mão amiga” e iniciativas dedicadas a fazer essa ponte. Na Ilha de Deus, comunidade pesqueira no bairro da Imbiribeira, existe até um hostel onde é possível se hospedar. A experiência de férias, explica Fábio Silva, funciona como uma porta de entrada, um teste para o ingresso definitivo no mundo da solidariedade. 

A forma mais fácil de encontrar uma atividade voluntária para realizar nas férias é ingressar na plataforma Transforma Recife. Com mais de 400 ONGs cadastradas, a ferramenta oferece trabalhos periódicos contínuos e pontuais. Alguns deles, no Sertão, em Fernando de Noronha, outros na Região Metropolitana. 

A segunda opção é participar da ação Mais Pão, promovida pela ONG Novo Jeito. Uma vez por ano, ela reúne um grupo de pessoas para doar alimentos e realizar atividades culturais, de promoção de saúde e direitos no interior do estado. Geralmente, a viagem acontece em julho. Há também um programa de voluntariado nas férias escolares para as crianças. Um grupo de 30 a 40 delas é levado para uma creche na Favela do Papelão, no Recife. 

A incubadora de projetos de empreendedorismo social Porto Social recebe voluntários para uma espécie de “day use”, onde a pessoa pode passar um dia útil doando conhecimento às 85 iniciativas incubadas. “Não há fronteiras para ajudar. Você tem que buscar aquilo por que tem empatia, com a causa que se identifica. No Brasil tem muita gente precisando de ajuda”, explicou Mariana Serra, que oferece viagens de voluntariado para Pernambuco, Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Mergulho no Brasil é uma possibilidade para os turistas chineses
Cenas da China aparecem em meio ao barroco brasileiro e intrigam pesquisadores
Ao vivo no Marco Zero 09/02 - Carnaval do Recife 2024
Trinta anos de amor de um brasileiro pelo kung fu chinês
Grupo Diario de Pernambuco