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CRÍTICA

Em 'Um lugar bem longe daqui', o mistério vai para o brejo

Publicado em: 01/09/2022 16:11 | Atualizado em: 01/09/2022 16:29

 (Protagonizado por Daisy Edgar-Jones, filme suaviza temas pesados da premissa e escolhe caminhos convencionais do drama romântico. Sony/Divulgação. )
Protagonizado por Daisy Edgar-Jones, filme suaviza temas pesados da premissa e escolhe caminhos convencionais do drama romântico. Sony/Divulgação.
Em fuga da polícia pelo meio de um pântano na Carolina do Norte, no final da década de 1960, a jovem Kya (Daisy Edgar-Jones) é capturada e levada para a prisão, onde aguarda o julgamento pelo suposto assassinato de um rapaz cujo corpo foi encontrado sob uma torre de observação próxima à casa dela. Ainda que a maior parte da cidade acredite cegamente na sua culpa, um antigo advogado (David Strathairn) que a conhece desde criança se coloca à disposição para ouvir a sua versão dos fatos e, então, preparar a defesa perante a Corte.

Adaptação aguardada do best-seller homônimo de 2018 escrito pela controversa Delia Owens, em seu primeiro livro de ficção, o filme Um lugar bem longe daqui, em cartaz, parte do que em princípio parece um mistério policial para, através de flashbacks, se debruçar sobre o passado dramático da protagonista. Abandonada muito pequena pela mãe e pelos irmãos, que fugiram devido às agressões e abusos do pai - que ocasionalmente desaparece -, Kya viveu mais da metade da vida sozinha na casa do brejo onde nasceu, catando mariscos para vender na mercearia, sem acesso à educação e sofrendo todo tipo de discriminação por parte dos moradores da cidade, que a apelidam pejorativamente de “Garota do Brejo”.
 (Sony/Divulgação.)
Sony/Divulgação.
 
Ainda que o livro não esconda seu apelo comercial e invista no fator romântico como catalisador da trama, é frustrante que a diretora Olivia Newman, em seu segundo longa, tenha se esquivado quase completamente do sentimento de abandono e solidão que a história por si só evoca. Os cenários pantanosos, tão plasticamente vistosos ao primeiro olhar, aos poucos são fotografados como se fossem cenário de jardim qualquer, enquanto deveriam representar justamente o oposto: um ambiente inóspito e desolador que, simultaneamente, desperta a sensação de refúgio natural para alguém que mal conhece o mundo fora dali.

Esse vácuo sensorial, resultado de uma abordagem francamente branda e ilustrativa, poderia ser compensado por um protagonismo de maior força gravitacional, mas a interpretação de Daisy Edgar Jones - tal qual sua caracterização - comunica mais uma certa apatia melancólica do que a dor e a tristeza de se sentir rejeitada, invisibilizada e, por fim, repudiada por pessoas a quem nunca fez mal. Igualmente comportadas, as demais atuações respondem aos acontecimentos do filme de modo meramente funcional, sem deixar grandes impressões no processo, e a passagem de tempo, que teria papel dramático fundamental nas angústias de saudade e isolamento de Kya, mal dá para ser sentida.
 (Sony/Divulgação.)
Sony/Divulgação.
O maior dos problemas de Um lugar bem longe daqui, no entanto, é o mistério central ser tratado pelo roteiro como um acidente de percurso. As idas e vindas no tempo, com a inserção das cenas de tribunal, não acrescentam nenhuma informação verdadeiramente relevante ao caso e a tensão que deveria ser oriunda da decisão do júri jamais é sentida, já que os poucos detalhes mencionados sobre o caso parecem se anular mutuamente. Na maior parte do tempo, o interesse de Olivia Newman em sua adaptação é suavizar todo aspecto trágico do enredo em função de uma atmosfera agradável e convidativa, transformando a superfície paisagística do brejo em uma sucessão de imagens de pôr do sol.
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